Mundo precisa acelerar redução de metas de emissões, dizem especialistas

O Estado de S. Paulo

 

O agravamento da crise climática e as alternativas para acelerar a redução das emissões de gases poluentes dominaram os debates no Estadão Summit ESG 2024, ontem, em São Paulo, que contou com nove painéis e a participação de líderes dos setores público e privado.

 

Segundo os especialistas, é preciso acelerar a redução dos níveis de emissão de poluentes, e o Brasil tem grande potencial para liderar esse movimento global, especialmente se chegar ao carbono zero até 2040, não em 2050. “É um risco total”, alertou o climatologista Carlos Nobre – uma das principais referências internacionais na área –, sobre uma possível manutenção de 2050 como data-limite para se alcançar, enfim, a neutralização das emissões, o que está sendo pactuado desde o Acordo de Paris, de 2015.

 

Espera-se que essas metas sejam revistas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP) brasileira, enquanto a edição deste ano, em Baku, no Azerbaijão, tende a ser centrada especialmente em financiamento climático. Por outro lado, o governo brasileiro tem sinalizado que pode anunciar metas próprias mais ambiciosas ainda em 2024.

 

“A COP-30 (no Brasil) será a mais importante de todas. Vai ser a mais desafiadora e importante. E o Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país a zerar as emissões”, destacou o climatologista. “Se a gente continuar e for zerar as emissões líquidas em 2050, vamos passar dos 2°C (de elevação da temperatura média global)”, disse Nobre. Ele lembrou que a estimativa é de que essa elevação possa chegar a até 4°C se as emissões não forem suficientemente neutralizadas.

 

Kim Campbell, ex-primeira-ministra do Canadá, que ministrou palestra magna, reforçou o alerta. “O planeta flerta com o ponto sem volta. O corte do uso de combustíveis fósseis é urgente. Assim como as discussões sobre adaptação e sobre formas de financiar os países menos desenvolvidos a enfrentar a crise climática.”

 

Preservação

 

Rodrigo Rollemberg, secretário nacional de Economia Verde, órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, afirmou que o governo federal irá defender durante as COPs a criação de um fundo mundial de florestas tropicais. O motivo, segundo ele, é simples: se todos sofrem com a degradação, todos devem pagar também pela recuperação. “Precisamos de um instrumento global vinculante de pagamento por serviços que a floresta presta”, disse ele, ao mencionar, na sequência, a necessidade de o Brasil restaurar ao menos 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

 

Indústria

 

Como exemplo no setor privado, o vice-presidente da Hydro Bauxita & Alumina, Carlos Neves, afirmou que a multinacional tem metas de zerar emissões até 2050, com uma discussão interna de antecipação para 2040. Também falou sobre a importância de redução de passivos, como a reabilitação ambiental, buscando a chamada “natureza positiva”, com um reflorestamento até maior do que o gerado.

 

Especialista em políticas climáticas da ONG Imaflora, Renata Potenza destacou a necessidade de que uma possível nova meta climática brasileira aponte os caminhos para que seja alcançada. “O ponto para ficar de olho é sobre planos de implementação e ação. A palavra-chave é como vamos implementar essas metas.”

 

Conceito ESG

 

O ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) pode ser visto por muitas pessoas como um conceito distante do mercado financeiro. Para José Pugas, sócio-líder em Investimentos Sustentáveis na JGP Asset Management, porém, a proximidade entre eles é crescente. “Se voltarmos à origem, em 2004, com Kofi Annan (secretário-geral da ONU de 1997 a 2006) e a publicação do relatório Who Cares Wins, vemos que a primeira menção ao ESG foi um apelo da comunidade internacional para que o mercado financeiro começasse a considerar os fatores ambientais, sociais e de governança em suas decisões de investimento”, disse.

 

“A questão ESG não é uma novidade, não é uma moda, nem uma tendência. É uma necessidade. O grande desafio da nossa era”, afirmou, durante a abertura do Estadão Summit ESG, Erick Bretas, CEO da S/A O Estado de S. Paulo. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Geraque, Diego Lazzari e Priscila Mengue)