Recarga elétrica é oportunidade para novos negócios

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

Os proprietários dos postos de combustíveis estão, hoje, diante de um dilema: de ampliar ou não o modelo de negócio com a implantação de infraestrutura de recarga para os veículos eletrificados. Vale a pena investir para atender uma frota elétrica que, embora em crescimento, ainda é pequena no Brasil?

 

O tema foi debatido na 16ª edição do Expo Postos e Conveniência, a maior feira de postos de combustíveis da América Latina, realizada em setembro na capital paulista. “A ideia foi fomentar a ampliação da rede de recarga no País com o envolvimento do setor”, afirma Thiago Castilha, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Equipamentos e de Serviços para o Mercado de Combustíveis e de Conveniência (Abieps), além de diretor de marketing da E-Wolf, empresa que oferece soluções para eletromobilidade.

 

Ele defende que os postos têm a oportunidade de aumentar o faturamento com a recarga de carros elétricos, utilizando os mais modernos equipamentos e tecnologias para o segmento. “Os donos dos postos detêm as melhores e mais valorizadas esquinas do Brasil”, afirma. “Por que não rentabilizar esse espaço para abastecer carros movidos a bateria?”

 

Ao conduzir o painel “Energia do futuro: perspectivas sobre matriz energética brasileira nos próximos anos”, Castilha mencionou o exemplo de mercados mais maduros, como o da França, que aproveita a área dos postos para oferecer uma gama maior de serviços aos clientes. “Em média, a taxa de ocupação dos pontos de recarga é de 80%, o que garante faturamento bruto mensal de aproximadamente R$ 20 mil por equipamento. Já nos estabelecimentos mais estruturados, esse valor chega a R$ 40 mil cada”, afirma. “É fundamental explorar melhor esses terrenos.”

 

Compra ou locação

 

Castilha acredita que o investimento vale a pena quando comparado ao lucro de um posto com a venda de combustível – aproximadamente 3% sobre o arrecadado. “Há diversas vantagens com a estação de recarga dentro de um posto. O usuário manuseia o aparelho sozinho, faz o pagamento por aplicativo e ainda pode gastar o tempo da operação consumindo na loja de conveniência”, destaca.

 

O executivo observa que a geração atual está atenta aos novos tempos da eletromobilidade. “Os antigos proprietários dos postos sabiam vender combustível. Agora, os sucessores já buscam os benefícios de longo prazo gerados pela transição energética”, diz. “Os carros elétricos precisam de mais pontos de recarga e isso leva ao crescimento econômico da cadeia de valor.”

 

É evidente que a instalação de pontos de recarga exige o cumprimento de normas técnicas vigentes no Brasil e levará o dono do posto a colocar a mão no bolso. Os aparelhos custam R$ 70 mil (30 kW), R$ 150 mil (60 kW) e R$ 230 mil (150 kW).

 

“O empresário pode optar pelo sistema de locação, um custo de cerca de R$ 2 mil cada equipamento, que dura de cinco a 10 anos”, explica. Segundo o executivo, a locação tem como vantagem a restituição de 43% do valor investido na declaração do imposto de renda do ano seguinte.

 

O trabalho de instalação varia entre R$ 10 mil a R$ 15 mil e há, também, as obras de construção civil e a adaptação de fornecimento de energia elétrica no empreendimento, que vão despender entre R$ 50 mil a R$ 200 mil do orçamento do proprietário.

 

Sem emissão

 

“O processo de instalação começa com vistoria técnica feita por um engenheiro eletricista, a fim de assegurar o cumprimento de todos os requisitos técnicos. Ele emitirá uma anotação de responsabilidade técnica (ART), atestando a conformidade da instalação”, afirma Davi Bertoncello, diretor de relações institucionais da Tupi Mobilidade.

 

Bertoncello acrescenta que, dependendo da potência e da velocidade da estação, alguns ajustes na infraestrutura elétrica do posto podem ser necessários, com revisão no contrato de demanda junto à concessionária de energia.

 

As grandes empresas e distribuidoras já começaram o movimento de expandir as estações de recarga em postos de combustível, como a Raízen nos estabelecimentos de bandeira Shell e a Vibra, da Petrobras. “Ao contrário da distribuição e comercialização de combustíveis, em que a inflamabilidade e os gases voláteis da gasolina e do etanol criam desafios de segurança aos postos, as estações de recarga são mais simples e não emitem nenhum tipo de gás”, salienta o diretor de relações institucionais da Tupi Mobilidade. “Deixar toda a infraestrutura preparada pode demorar de 30 dias a seis meses, mas é bem menos complexo do que escavar um buraco para instalar um reservatório de combustível”, completa Castilha.

 

“Há diversas vantagens com a estação de recarga em um posto. O usuário manuseia o aparelho sozinho, faz o pagamento por app e ainda pode esperar a operação consumindo na loja de conveniência”, Thiago Castilha Diretor da Abieps e diretor de marketing da E-Wolf. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)