O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Segundo o Registro Nacional de Infrações de Trânsito (Renainf), o excesso de velocidade é a principal causa de acidentes no trânsito. Portanto, é um ponto de atenção para qualquer empresa que tem veículos comerciais na rua, com condutores dirigindo centenas de quilômetros diariamente, independentemente do seu segmento de atuação.
A VF Gomes Locações, maior organização com foco em infraestrutura do Pará, passou a combater as ocorrências de excesso de velocidade e outras infrações em sua frota com o uso combinado de câmeras e inteligência artificial. Essa tecnologia, aplicada em mais de 200 carros da empresa, identifica automaticamente situações de risco e emite notificações para o gestor alertar o motorista para corrigir sua atitude.
Com a tecnologia, o índice de comportamentos de risco da empresa por quilômetro rodado melhorou muito nos últimos sete meses: passou de um evento a cada 2,06 quilômetros rodados (em janeiro) para um evento a cada 5,98 quilômetros rodados (em agosto) — considerando excessos de velocidade, aceleração, frenagem e curva brusca, além de direção distraída e distância insegura.
Quando o assunto são especificamente os registros de excesso de velocidade, a principal evolução foi a queda nos comportamentos gravíssimos, em velocidade 51% ou mais acima do limite da via ou do permitido para o veículo. De julho para agosto, a ocorrência desse tipo de incidente diminuiu 24%.
A Cobli, empresa de tecnologia que fornece o serviço à VF Gomes e a mais de 5.000 outros clientes dos mais diversos setores e atuantes em todo o território nacional, soma 100 mil veículos conectados ao seu sistema. São mais de 3 milhões de eventos de risco identificados por mês.
Evolução merece reconhecimento
Além das notificações em tempo real sobre situações de risco, a combinação de IoT e IA disponibiliza um grande número de dados aos gestores de frotas. Esse conjunto de informações pode ser usado de diversas formas para um trabalho sistemático de identificação de problemas e análise de desempenho, além de delinear estratégias de treinamento e políticas de recompensa aos motoristas.
Mudar a cultura de riscos ao volante é um processo que passa por treinamentos, feedbacks e pelo reconhecimento aos bons exemplos. “Acreditamos que a base da gestão deve ser pautada por valorizar as atitudes corretas, o que contribui para manter consistência nas boas práticas em vez de ficar sempre reagindo a imprevistos”, reforça Nathalia Albar, Diretora de Marketing da Cobli. De acordo com a executiva, a Cobli estimula seus clientes a criar políticas de conduta com uma série de regras de comportamento que vão muito além do limite de velocidade. “Por exemplo, a entrada e saída de locais potencialmente perigosos, regras customizadas para veículos específicos que trafegam em áreas diferentes, entre outros.”
A importância do reforço positivo é reconhecida também pela VF Gomes. “Aumentamos os salários para reter bons motoristas e atrair novos talentos. Implantamos o programa de bonificação Motorista Legal, que reconhece e premia motoristas com base em critérios de desempenho, segurança e eficiência”, descreve o diretor operacional, Bruno Gomes. Ele acrescenta que está gravando vídeos de agradecimento pela compreensão e ajuda na busca por maior segurança. “Isso fortalece a relação de parceria com os motoristas e mostra que cuidamos deles.”
Efeitos de longo prazo
O Brasil tem o terceiro maior índice de acidentes no trânsito do mundo, de acordo com o ranking mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além da perda irreparável de 100 vidas por dia, em média, os acidentes de trânsito no País resultam em um custo anual de R$ 50 bilhões, de acordo com projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Trata-se de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A principal estratégia para reduzir essas estatísticas devastadoras é a conscientização dos motoristas, já que 90% dos acidentes são causados por falha ou imprudência humana.
Diante desse desafio, a tecnologia aplicada às frotas é uma importante aliada não só dos gestores, mas dos próprios motoristas – que, cada vez mais, vêm superando uma certa resistência inicial diante da adoção dessas ferramentas. “Para superar essa resistência, realizamos encontros regulares com a equipe de Saúde e Segurança no Trabalho para orientar sobre a importância das tecnologias”, ressalta o diretor da VF Gomes.
Os motoristas vão percebendo que, quanto melhor dirigem de acordo com a política da frota, mais são reconhecidos profissionalmente na empresa. Há também os benefícios para a própria segurança e para o bolso – as câmeras ajudam a deixar claro de quem foi a responsabilidade em um acidente, por exemplo. “Com a ajuda da Cobli, estamos identificando e tratando os problemas diariamente, alcançando nossos objetivos de curto prazo e promovendo mudanças duradouras”, descreve Gomes.
De fato, as estatísticas indicam que o uso sistemático da tecnologia provoca não apenas efeitos imediatos decorrentes de notificações ao gestor e alertas ao motorista, mas também a maior conscientização de longo prazo. Uma análise na plataforma de dados da Cobli, considerando os eventos de excesso de velocidade que duram mais de 60 segundos, revelou uma queda de quatro pontos porcentuais no registro de infrações gravíssimas (a partir de 51% acima do limite permitido), de 43% para 39%, na comparação entre os quatro primeiros meses de 2023 e o mesmo período de 2024. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade)