O Estado de S. Paulo
Com o salto de vendas de carros elétricos e híbridos, os condomínios residenciais e comerciais enfrentam um novo desafio: a instalação de pontos de recarga. Diferentemente de automóveis a combustão, eles precisam ficar plugados a uma rede elétrica e uma carga completa pode levar até oito horas, a depender da rede.
Custos de instalação e dispositivos de segurança estão entre os maiores obstáculos. Como outras obras em áreas comuns, uma adaptação da rede elétrica do prédio tende a gerar custos e a decisão precisa ser tomada em assembleia de condôminos. O desembolso da adaptação depende de uma série de fatores, como o estado da rede de cada prédio e a quantidade de pontos de recarga.
Segundo especialistas, o preço de uma instalação fica entre R$ 6 mil e R$ 17 mil, dependendo da capacidade do carregador escolhido.
Com os carros elétricos custando menos, a demanda por estações de recarga, que começou nos bairros nobres, já se espalha por toda a cidade de São Paulo, assim como todo o Sul e Sudeste do Brasil.
Segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos, o País tem 152 mil carros eletrificados, sejam 100% elétricos ou híbridos. Com a chegada das montadoras chinesas BYD e GMW, os números de vendas saltaram. De 20 mil em 2022, passaram para 53,4 mil em 2023. Neste ano, já foram vendidos 65,8 mil.
Segundo o vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade do Secovi-SP, Carlos Borges, a adoção dos veículos elétricos deve ser mais lenta do que a observada em outros países em razão de o País ainda ser um grande produtor de etanol. “É importante deixar a infraestrutura no empreendimento para que cada um decida se quer. Não há lógica fazer um grande investimento por parte de uma construtora se os clientes não estão demandando tanto. Mesmo no alto padrão, a quantidade de carros elétricos é limitada”, afirma.
Borges diz que montadoras já têm buscado parcerias com empresas do ramo imobiliário para que os novos projetos residenciais estejam preparados para acomodar estações de recarga.
Regras
Em parecer técnico de abril, o Corpo de Bombeiros diz que novas tecnologias de veículos ou de proteção contra incêndios podem ser necessárias para avançar na regulação de segurança para condomínios.
Para Gustavo Favaron, CEO do GRI Club, clube de relacionamento do setor imobiliário, os novos edifícios devem ser pensados para o futuro para que, quando forem vendidos, não estejam defasados. “Vemos uma determinação do mercado de desenvolver produtos imobiliários que estejam antenados com a realidade. Por isso, há questões de mobilidade e segurança, individualização de pontos, entre outros. Os mais novos têm nascido com essa preocupação.”
Segundo o executivo, o Poder Público adotou um caminho muito rígido com a regulamentação. “No discurso, não querem inviabilizar o carro elétrico, mas as demandas atuais tornam impossível um desenvolvimento imobiliário produzir um empreendimento com pontos de recarga”, afirma.
Tadeu Azevedo, diretor de infraestrutura da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), afirma que a entidade trabalha com Corpo de Bombeiros de São Paulo para elaborar normas de segurança para a recarga dos veículos elétricos. O risco de incêndio nas vagas de garagem, diz ele, é mínimo, desde que seguidas as normas de segurança e não sejam feitas instalações improvisadas, como ligar o carro elétrico no quadro de energia.
“O risco intrínseco de incêndio de um carro a combustão é 60 vezes maior do que o de um elétrico. O próprio nome diz, é um motor a combustão. Não existe correlação entre recarga de carros elétricos e incêndio de carros elétricos”, afirma Tadeu.
Segundo o Corpo de Bombeiros, em virtude da “complexidade da temática e devido à elevada quantidade de manifestações, sugestões e informações enviadas, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, por meio do Departamento de Segurança e Prevenção Contra Incêndios, fará os devidos estudos para adequar e aprimorar a proposta de normatização das edificações”.
Renata Firpo, consultora associada private brokers da Coelho da Fonseca, empresa que atua no segmento de luxo, afirma que os clientes têm desejo de vagas com pontos de recarga, mas esse não é hoje um fator preponderante de aquisição. “Não é uma demanda. Porém, é algo que atrai, embeleza. É como uma maquiagem, mal não faz ter”, diz. (O Estado de S. Paulo/Lucas Agrela)