Ford revê sua aposta em carros elétricos e vai focar em veículos híbridos

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Na quinta-feira, 28, a Ford Motor atrasou a produção de pelo menos dois novos carros elétricos e disse que passaria a fabricar mais híbridos. Sua decisão foi o mais recente sinal de que as grandes montadoras foram forçadas a repensar sua estratégia para veículos elétricos porque as vendas desses modelos estão diminuindo.

 

A mudança da Ford e de outras empresas, como a General Motors e a Mercedes-Benz, que também adiaram seus planos de carros elétricos, foi motivada, em grande parte, pela dificuldade que essas empresas tiveram para fabricar e vender um número suficiente de carros elétricos e fazê-lo de forma lucrativa.

 

As vendas desses veículos ainda estão crescendo, mas o ritmo diminuiu drasticamente nos últimos meses, pois as montadoras esgotaram muitos dos primeiros usuários que estavam dispostos a gastar mais de US$ 50 mil em um novo carro movido a bateria. Como ainda estão aprendendo a fabricar os carros e suas baterias a um custo menor, as empresas não conseguiram lançar modelos mais acessíveis.

 

Alguns consumidores também relutam em comprar modelos elétricos porque não podem carregar os veículos em casa ou temem que não haja carregadores públicos suficientes disponíveis quando quiserem viajar mais do que algumas centenas de quilômetros.

 

Muitos compradores de carros interessados em veículos elétricos parecem estar optando por carros híbridos, que podem custar apenas algumas centenas de dólares a mais do que os modelos comparáveis movidos somente a gasolina. Como resultado, a Ford disse na quinta-feira que esperava oferecer uma versão híbrida de cada modelo vendido até o final da década.

 

A empresa disse que agora planeja começar a fabricar um grande veículo utilitário esportivo elétrico em sua fábrica em Oakville, Ontário, em 2027, dois anos depois do que havia planejado. Uma nova fábrica que a Ford está construindo no Tennessee começará a fabricar uma picape elétrica em 2026, um ano depois do previsto originalmente.

 

“Estamos comprometidos com a expansão de um negócio de veículos elétricos lucrativo, usando o capital com sabedoria e trazendo ao mercado os veículos a gasolina, híbridos e totalmente elétricos no momento certo”, disse o executivo-chefe da Ford, Jim Farley, em um comunicado.

 

A desaceleração das vendas também está prejudicando o principal fabricante de modelos elétricos nos Estados Unidos, a Tesla. Esta semana, a empresa divulgou uma queda inesperada de 8,5% nas vendas de seus carros elétricos nos primeiros três meses do ano. Na quarta-feira, 3, a Ford informou que suas vendas de veículos elétricos cresceram 86% no trimestre, chegando a 20.223 veículos, mas o total ficou bem abaixo do nível que a empresa esperava alcançar e veio depois de ter cortado alguns preços.

 

A empresa vendeu mais de 7.700 picapes F-150 Lightning, seu principal modelo elétrico, no período de três meses. Até o verão passado, a Ford esperava produzir cerca de 150 mil caminhões Lightnings por ano. Recentemente, a empresa reduziu a produção de Lightning de dois para um turno por dia.

 

Há dois anos, Ford, G.M., Volkswagen e outras montadoras estavam planejando lançar dezenas de novos carros e caminhões elétricos, esperando que os consumidores fizessem uma rápida transição dos veículos movidos a gasolina para os veículos elétricos.

 

Porém, no segundo semestre de 2023, o crescimento das vendas de veículos elétricos diminuiu significativamente, forçando os fabricantes a reduzir suas ambições. Tanto a Ford quanto a G.M. também desaceleraram o trabalho em novas fábricas que deveriam fornecer baterias para seus novos modelos elétricos.

 

A divisão de veículos elétricos da Ford perdeu cerca de US$ 4,7 bilhões no ano passado, antes de levar em conta juros e impostos. Em contrapartida, sua divisão que fabrica veículos a gasolina e híbridos para os consumidores teve um lucro de US$ 7,5 bilhões. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Neal Boudette)