O Estado de S. Paulo
Do lado de fora do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, placas verdes colorem os três andares do prédio cinzento. O que a maioria não sabe é que essas placas não param um segundo de converter a luz solar em energia elétrica.
O uso de células orgânicas, com carbono na composição e feitas de plásticos muito finos, para produção de energia elétrica é conhecido há 35 anos. Mas o Grupo de Dispositivos Nanoestruturados da universidade (Dine) descobriu um novo jeito de produzir os painéis solares orgânicos, com materiais e processos que chegam a triplicar a eficiência na conversão de luz solar em eletricidade (efeito fotovoltaico), comparado a outros materiais.
Na nova técnica, o filme, com quatro camadas que em poucos minutos saem de uma impressora especial, passa por uma reação que o torna mais estável e durável. A descoberta está em fase laboratorial. Nas janelas do Centro Politécnico da UFPR há placas feitas antes desse registro, impressas pela empresa mineira Sunew, única que vende placas fotovoltaicas orgânicas nas Américas.
O registro da patente representa, para os pesquisadores do Dine, avanço em relação às duas principais desvantagens das células solares orgânicas hoje conhecidas: a durabilidade e eficiência, que ainda são inferiores às das células inorgânicas, que não têm carbono na composição. Só a descoberta de novos condutores pode romper essas barreiras.
Atualmente, a forma mais conhecida de conversão da energia solar em elétrica começa a partir da extração do silício, uma célula inorgânica encontrada em rochas e solos. Para essa extração, geralmente ocorre uma redução industrial do quartzo, em fornos de fundição ligados a até 2.000 ºC. Esse processo gera mais emissão de gases de efeito estufa para o ambiente, como o CO2.
Já o uso de células orgânicas tem se mostrado mais simples, maleável e adaptável, avalia Maiara de Jesus Bassi, doutora em Física pela UFPR e integrante do Dine. Diferentemente das placas inorgânicas, mais pesadas e rígidas, os filmes orgânicos podem ser colocados em qualquer tipo de superfície. Cada metro quadrado pesa 100 gramas e pode ficar sobre locais como janelas e tetos, ou até fixado em casacos. “O primeiro impacto positivo de qualquer célula fotovoltaica é que ela utiliza a energia solar, chamada de energia limpa. Mas as células orgânicas, em relação às inorgânicas, são mais sustentáveis, porque são mais simples de produzir, com menos resíduo ao ambiente.”
Sustentabilidade Mais simples, a produção das células orgânicas gera uma quantidade menor de resíduos ao ambiente.
Uso recente
Só nos últimos 35 anos, quando passaram a buscar alternativas às células baseadas em silício cristalino, pesquisadores começaram a se debruçar sobre o potencial das células orgânicas para geração de energia. Isso repercute também nos preços. Um metro quadrado de painel solar orgânico custa, em média, R$ 1 mil, 40% menos do que os módulos tradicionais. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Santana)