Condomínios com pontos de recarga nas garagens movimentam a eletromobilidade

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

A construção civil tem ajudado, mesmo que de forma indireta, a movimentar a eletromobilidade brasileira. Os novos condomínios residenciais vêm se mobilizando para instalar pontos de recarga para carros eletrificados nas vagas de garagem.

 

Algumas cidades estão mais adiantadas nesse processo, como é o caso de São Paulo. Desde março de 2021, a lei municipal 17.336 determina que os condomínios tenham carregadores no espaço destinado aos automóveis dos moradores. Já as edificações mais antigas buscam se adequar para atender os donos de veículos elétricos.

 

“Em muitos prédios, as vagas não são determinadas, exigindo um sistema de sorteio a cada um ou dois anos. No nosso caso, só construímos condomínios com as vagas vinculadas aos apartamentos. Elas fazem parte da área privativa. Essa característica facilita levar a estrutura do ponto de recarga até a vaga”, afirma Valter Patriani, presidente da Construtora Patriani.

 

Desde 2017, ou seja, antes de a lei entrar em vigor, a empresa entregou 1.230 vagas com ponto de recarga em condomínios residenciais, com medição individual de consumo de energia. Hoje, existem 3.700 unidades sendo construídas com a inovação.

 

Gerenciamento

 

Patriani conta que a estrutura elétrica vai, no máximo, até uma vaga por apartamento, mesmo que não seja usada no primeiro momento. Se, futuramente, o proprietário do imóvel comprar um carro elétrico ele terá a possibilidade de instalar o wallbox fornecido pela fabricante.

 

“A rede está programada para servir metade da quantidade de apartamentos ao mesmo tempo. Se a demanda ultrapassar esse número, um sistema de gerenciamento inteligente entra em ação para fazer o controle do fornecimento de energia de forma isonômica”, diz Victor Hugo Ribeiro, diretor técnico da Patriani.

 

Nessas horas, o tempo de recarga pode demorar um pouco mais. “É como uma rua congestionada. Todos os carros andam, mas com velocidade mais baixa”, compara Valter Patrini. “A recarga vai levar cerca de 20 minutos a mais.”

 

O presidente garante que o serviço de deixar as vagas preparadas com a estrutura de fornecimento de energia não eleva o valor do apartamento. “Isso está dentro do custo de levantar uma obra desse tipo. Trata-se, na verdade, de um diferencial de venda”, explica.

 

Responsável técnico

 

Se os condomínios modernos estão contemplando as vagas com pontos de recarga, as edificações mais antigas precisam se adaptar aos novos tempos da eletromobilidade.

 

Em 2015, o presidente da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), Rogério Markiewicz, precisou adequar a vaga de seu apartamento para poder abastecer a bateria do seu BMW i3.

 

No entanto, a primeira reação da síndica e de moradores foi um curto e grosso “não pode”. “Com o aval de um responsável técnico, convenci a síndica a puxar a energia do condomínio para minha vaga, que tinha uma tomada de 20 ampères e um relógio medidor de energia, que possibilitava eu pagar meu consumo extra”, recorda.

 

A infraestrutura avançou e, com a implementação dos wallboxes, alguns condôminos voltaram a reclamar. “Houve resistência à novidade. Mas depois que fiz a instalação com total segurança, muita gente fez o mesmo”, atesta.

 

Markiewicz explica que houve a necessidade de elaboração de um projeto padrão e rigoroso acompanhamento técnico, evitando que cada morador fizesse a instalação de um jeito diferente, acarretando riscos para o condomínio.

 

Hoje, ele gasta de R$ 70 a R$ 150 a mais na conta de energia elétrica, carregando seu Volvo C40 uma vez por semana. “O preço do quilômetro rodado é de 14 centavos. Em um carro similar com motor a combustão, o valor chega a 55 centavos”, calcula.

 

Falta de informação

 

Vinício Carrara, diretor de vendas da parte de mobilidade elétrica da Hexing Brasil, empresa de soluções para o setor energético, revela o aumento do interesse pela instalação de pontos de recarga nos condomínios.

 

“Cerca de 10% dos moradores já estão fazendo essa solicitação nas assembleias. Parece pouco, porque uma decisão precisa ter a maioria, mas o crescimento é um sinal de que a resistência pelo equipamento mostra-se cada vez menor e que os prédios antigos querem se readaptar”, afirma.

 

Sem riscos

 

Instalações elétricas de prédios antigos podem ser readequadas se as normas de segurança forem seguidas

 

Daniel Bermudez, diretor da Effix Engenharia, companhia de infraestrutura voltada para a mobilidade, segue o mesmo caminho. “Às vezes, o síndico se nega em instalar pontos de recarga pela preocupação em sobrecarregar a rede elétrica do condomínio. Acha que os carros podem pegar fogo na garagem. Esse temor até faz sentido, na medida em que as readequações precisam seguir as rígidas normas de segurança”, salienta.

 

Bermudez argumenta, porém, que a estrutura elétrica de alguns condomínios novos não é dimensionada para receber pontos de recarga. “Ainda falta informação para muitas construtoras. É executar os ajustes, mas torna-se um trabalho dobrado”, completa. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)