Governo lança regras para um setor dividido sobre o carro do futuro

O Estado de S. Paulo

 

Indústria discute subsídios e a opção estratégica entre automóveis híbridos a etanol ou totalmente elétricos.

 

Em meio à disputa entre as montadoras por maior acesso a subsídios no País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, preparam para hoje o anúncio das primeiras regras do Mover – Programa de Mobilidade Verde, lançado em dezembro pelo governo em substituição ao Rota 2030.

 

A indústria automobilística passa pelo dilema sobre qual tecnologia vai mover os carros brasileiros nos próximos anos. Se a híbrida flex, com foco no uso do etanol, combustível renovável usado há mais de 40 anos apenas no Brasil, ou a elétrica, que traz junto as discussões de reciclagem de baterias e necessidade de aumento de extração de matérias-primas, como lítio e alumínio.

 

À frente do novo programa de estímulo à indústria automotiva, o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic), Uallace Moreira, diz que o governo não tem preferência por investimentos em carros híbridos flex ou elétricos.

 

Neste ano, o governo reservou R$ 3,5 bilhões do Orçamento para oferecer na forma de renúncias tributárias à indústria automotiva, valor que até 2028 chegará a R$ 19,3 bilhões. “Nosso papel é estimular o investimento em rotas que promovem a descarbonização. O Mover tem uma neutralidade quanto à rota tecnológica. Cabe às empresas decidirem; não é o governo que vai dizer: ‘Produza (carros a) etanol’. O governo promove todas as rotas tecnológicas, as empresas que avaliam as possibilidades de mercado”, disse Moreira.

 

Os maiores produtores mundiais de veículos, como China, EUA e Europa, já se definiram pelos modelos elétricos, por falta de opções para atenderem às normas de descarbonização. No Brasil, oitavo maior na lista de fabricantes, boa parte das montadoras tende para o híbrido flex, que usa um motor elétrico e outro a combustão, que pode ser abastecido com etanol ou gasolina.

 

Segundo Moreira, na avaliação sobre a concessão de créditos para instalação de novas unidades fabris no Brasil essa questão tecnológica não será levada em conta, embora ele admita que haverá diferenciação na incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

 

Ao lançar o Mover, o governo destacou que pretende tributar mais os carros que poluem mais – porém, a fixação de cinco variáveis para quantificar isso está causando dúvidas no setor automotivo. Moreira disse que, como os híbridos flex emitem menos CO2, teriam maior vantagem comparativa. Mas também admitiu que os elétricos terão vantagem no curto prazo, quando ainda não entrará no cálculo o nível de poluição para a fabricação dos componentes dos veículos. (O Estado de S. Paulo/Mariana Carneiro e Anna Carolina Papp)