O Estado de S. Paulo
Os reajustes sazonais de mensalidades escolares pressionaram a inflação oficial no País em fevereiro, pesando no orçamento das famílias ao lado do encarecimento dos alimentos e da gasolina. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de uma alta de 0,42%, em janeiro, para uma variação de 0,83% em fevereiro, resultado mais elevado desde fevereiro do ano passado, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, a inflação foi a mais branda para esse período do ano desde 2020. Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses arrefeceu pelo quinto mês consecutivo, passando de 4,51%, em janeiro, para 4,5% em fevereiro, descendo exatamente ao teto de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024 (a meta é de 3%, com limite superior de 4,5%).
Embora o IPCA tenha ficado um pouco acima da expectativa de analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma inflação mediana de 0,78% em fevereiro, economistas avaliaram que a composição veio boa o suficiente para permitir novo corte de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central da próxima semana.
Impacto
O aumento dos gastos com educação, alimentação e gasolina respondeu por aproximadamente 75% da inflação registrada pelo IPCA em fevereiro.
As despesas com educação subiram 4,98%, impacto de 0,29 ponto porcentual sobre o IPCA do mês. A maior contribuição partiu do encarecimento de 6,13% dos cursos regulares, em razão dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo.
As maiores elevações ocorreram no ensino médio (8,51%), ensino fundamental (8,24%), pré-escola (8,05%) e creche (6,03%). Houve reajustes também em curso técnico (6,14%), ensino superior (3,81%) e pós-graduação (2,76%).
“A gente também teve outros grupos que tiveram uma contribuição relevante, como é o caso, por exemplo, dos alimentícios e também do grupo dos transportes”, disse André Almeida,
gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Os gastos com alimentação e bebidas avançaram 0,95%, contribuição de 0,20 ponto porcentual para a inflação.
Queda
O chefe de pesquisa macroeconômica da gestora Kínitro Capital, João Savignon, prevê que o IPCA arrefeça a 3,7% no fechamento de 2024. Diante do cenário inflacionário mais confortável, Savignon espera mais duas reduções de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic, desacelerando o ritmo de cortes “somente na segunda metade do ano”.
Para economista Claudia Moreno, do C6 Bank, “a inflação de serviços subjacentes, número que é acompanhado com mais atenção pelo Banco Central, veio abaixo do esperado pelo mercado”. “Esse resultado pode dar mais tranquilidade para o Copom continuar sinalizando mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual na Selic na reunião da próxima semana,” diz. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)