AutoIndústria
A coletiva de imprensa do dia 24 de janeiro foi convocada pela General Motors com o mote de um “anúncio importante”. E a revelação aos jornalistas de um investimento de R$ 7 bilhões, comunicado um pouco antes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é, sem dúvida, algo extremamente relevante.
O anúncio do aporte, contudo, não bastou para tirar as dúvidas quanto aos próximos passos da empresa no Brasil. A montadora que completa 99 anos de atuação no País nesta última sexta-feira, 26, ruma agora aos 100 anos sem deixar claro o rumo que pretende seguir por aqui.
A frustração entre os jornalistas pairava no ar ao término da reunião que teve a participação do presidente da GM Internacional, Shilpan Amin, do presidente para a América do Sul, Santiago Chamorro, e do vice-presidente de Relações Públicas, Comunicação e ESG, Fabio Rua.
Logo de início, o jornalista Sérgio Quintanilha, editor do Guia do Carro/Terra, perguntou se o plano de investimento contemplava a produção de modelos 100% elétricos no Brasil, terminando o questionamento solicitando um “sim ou não” como resposta.
Mas nem o presidente mundial nem o regional cravaram um sim ou não. A partir daí foi uma série de evasivas, sem que ficasse claro se a empresa vai se render ao híbrido flex, como já fez toda a concorrência, ou vai partir direto para o 100% elétrico, conforme reiterou por várias vezes em relação ao seu projetos mundiais, incluindo aí o Brasil.
Ficou tudo pairando no ar ou, como comentou um concessionário após inteirar-se do conteúdo da coletiva, “a GM só faz espuma, nada de concreto por enquanto”. Tirando o período do aporte, de 2024 a 2028, nenhuma outra data relativa a possíveis lançamentos — e mesmo quais seriam eles foi mencionada.
Consta que a rede de concessionários vem pressionando a GM no sentido de ser produzido um modelo híbrido flex a etanol no Brasil, conforme já anunciado pela Stellantis — que lança o primeiro modelo este ano — e Volkswagen.
“Mas a GM vem empurrando a rede com a barriga”, reconheceu um concessionário, admitindo que há temor entre os concessionários de que a montadora estadunidense siga o mesmo rumo da Ford e passe a operar por aqui apenas com importados.
O anúncio do aporte poderia ter acalmado os empresários que atuam no varejo, mas a falta de detalhes sobre o plano de investimento frustrou a rede assim como frustrou os jornalistas. Após encontrar-se com Lula e com os jornalistas, os dirigentes da empresa mantiveram encontro com dirigentes da rede autorizada.
Um concessionário que acompanhou toda a movimentação em torno da vinda do presidente da GM Internacional ao Brasil lembrou que para receber ajuda do governo dos Estados Unidos e evitar concordata, a GM fechou acordo na era Trump se comprometendo a produzir apenas modelos 100% elétricos a partir de 2030.
A companhia, contudo, não conseguiu desenvolver uma bateria acessível e está com dificuldades de cumprir o prometido. Seja no mercado estadunidense seja em outros, incluindo o brasileiro.
A verdade é que enquanto as montadoras chinesas oferecem modelos híbridos e elétricos a preços atraentes, os fabricantes de outras localidades perdem competitividade de forma visível, especialmente no caso dos modelos compactos.
Tudo meio vago
Voltando à entrevista coletiva de quarta-feira, a GM limitou-se a informar que o aporte abrange a renovação completa do portfólio de veículos, desenvolvimento de tecnologias inovadoras e customizadas para o mercado local, além da criação de novos negócios. As fábricas também receberão evoluções que as tornarão ainda mais modernas, ágeis e sustentáveis. Ou seja, tudo meio vago.
O presidente da GM Internacional até reconheceu o Brasil como estratégico para o plano global de expansão de negócios da GM. “É um mercado com alto potencial de crescimento com vocação também para veículos de novas tecnologias, em sintonia com a matriz energética predominantemente limpa do País”, comentou Amin.
Mas simplesmente se negou a falar quais exatamente seriam as novas tecnologias e prazos para apresentá-las.
Certo é que se a GM se render à importância do biocombustível brasileiro e decidir produzir um híbrido flex terá de correr contra o tempo, uma vez que as concorrentes já estão em fase final dos desenvolvimentos locais, inclusive de modelo 100% elétricos, prometido pela Stellantis, por exemplo, para antes do final da década.
O próprio Chamorro deixou claro não haver nada de concreto por enquanto, ao dizer que a Chevrolet está ouvindo seus clientes para ver o que exatamente eles querem.
Importante lembrar nesse contexto todo que no final de 2023 a GM reduziu seu efetivo nas fábricas paulistas em 1,2 mil funcionários. A montadora chegou a demitir por e-mail e telegrama e só abriu PDV, Programa de Demissão Voluntária, após os trabalhadores de todas as unidades, incluindo São Caetano do Sul e São José dos Campos, entrarem em greve. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)