Empresa que apostou em veículos híbridos sai na frente com programa do governo, dizem analistas

O Estado de S. Paulo Online

 

As empresas que apostaram nos veículos híbridos, em especial a Toyota, que já produz localmente automóveis do tipo no País, nos modelos Corolla Cross e Corolla, serão as mais beneficiadas, num primeiro momento, pelo programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), criado pelo governo por meio de medida provisória publicada na noite do último dia 30.

 

A iniciativa custará, ao todo, R$ 19,3 bilhões até 2028 em incentivos a montadoras que investirem na produção de veículos que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.

 

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, afirmou que o intuito é incentivar a produção local. Por isso, as alíquotas de importação, que estavam zeradas para carros elétricos desde 2015, e reduzidas para os híbridos, voltam a subir gradualmente a partir de janeiro e retomarão a taxa cheia, de 35%, ao longo de três anos.

 

Para os analistas que acompanham o setor automotivo, saber quem ganha e quem perde com o anúncio ainda depende das portarias e decretos a serem divulgados. Mas, numa primeira avaliação, eles afirmam que as importadoras de automóveis elétricos saem derrotadas, devido às taxas maiores para trazer os seus veículos.

 

É o caso das chinesas Great Wall Motors (GWM) e BYD, que vão começar a produzir carros híbridos e elétricos a partir de 2024 e ainda terão de importar vários modelos para ganhar participação de mercado até lá. A americana General Motors também tinha planos de produzir apenas elétricos no País, mas já admite fazer híbridos.

 

Se havia uma divisão entre as fabricantes brasileiras sobre qual rota seguir, de certa forma, com o novo programa, o governo indicou o caminho de sua preferência. “O etanol ganha protagonismo”, afirma Murilo Briganti, executivo-chefe da consultoria Bright Consulting. “Sem dúvidas essa notícia é de extrema importância para o País. Apesar do atraso na divulgação, o Brasil é o primeiro país do mundo a adotar a metodologia ‘poço à roda’ para avaliação das emissões.”

 

Para medir as emissões que vão garantir mais incentivos fiscais, o programa utiliza o conceito de “poço à roda”, que, no caso do etanol, vai desde a produção da cana até o consumo do combustível. E não do “tanque à roda”, que contabiliza apenas a poluição emitida pelo carro.

 

“Os carros eletrificados vinham bem forte nos últimos anos. Agora, numa visão inicial, o governo acabou de dar uma ‘tungada’ nas montadoras que importavam esses veículos e está tentando fazer uma compensação para as montadoras que estão instaladas no Brasil”, diz o economista Raphael Galante, fundador da Oikonomia Consultoria Automotiva.

 

“Do ponto de vista de hoje, dependendo ainda dos decretos e portarias para a redução de IPI, é provável que uma montadora seja extremamente beneficiada já nessa primeira fase do programa, que é a Toyota. Ela é a única que já produz no Brasil o carro eletrificado com etanol. Teoricamente, ela sai na frente.”

 

No médio e longo prazo, outras montadoras também podem se beneficiar, mas os maiores benefícios estarão mais à frente. “Demora até se mudar toda uma linha fabril com novos componentes e novo ferramental, para se fazer carro eletrificado”, diz Galante. (O Estado de S. Paulo Online/Carlos Eduardo Valim)