O Estado de S. Paulo/Mobilidade
O segmento de assinatura cresceu quase dez vezes mais do que o de locação tradicional, neste ano, em relação ao ano passado. De acordo com Marco Aurélio Nazaré, presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), enquanto a locação de curto prazo (que envolve cobranças de diárias) cresceu 3,83% e os contratos de terceirização de frota tiveram elevação de 3,78% no número de carros, a modalidade de assinaturas deu um salto de 31,2% de 2022 para este ano.
Números divulgados pela Abla revelam que, dos 80 mil contratos celebrados, em 2020, pelas associadas à Abla, o volume dobrou em três anos. Estimativas da entidade projetam 160 mil contratos de assinatura para este ano.
Segundo o presidente da associação, a assinatura é uma tendência que deve continuar em ascensão. “Quando aumenta a base, manter o porcentual de crescimento é complicado, mas vamos passar dos 200 mil carros em 2024”, afirma. “Posso garantir que continuaremos a crescer na mesma velocidade dos anos anteriores.”
Aurélio Nazaré diz que a adoção da assinatura “só tende a aumentar”, e a se disseminar “até chegar às pessoas que ainda não pensam assim”. Como comprovou uma enquete realizada no perfil do Estadão no Instagram, ainda há muitas pessoas que desconhecem a modalidade (confira reportagem na pág. 2).
Pelos cálculos do executivo, atualmente a assinatura representa 10,45% da frota das associadas à Abla, número que pode chegar a cerca de 12%, no curto prazo – a depender das condições da economia e de uma mudança de hábito do público. “O brasileiro considerava carro um investimento. Mas, se você paga R$ 100 mil por um veículo e após três anos ele vale R$ 60 mil, isso não é investimento”, diz.
Ele sustenta o argumento mesmo diante da forte valorização dos usados durante a pandemia, motivada pela falta de veículos novos. Com a escassez de componentes, a produção mundial caiu drasticamente, o que resultou em elevação nos preços, agravada pela inflação. “Com inflação alta, as pessoas compravam por R$ 100 mil e vendiam por R$ 120 mil, mas se esqueciam de que, para comprar o novo, tinham de pagar R$ 200 mil. Achavam que estavam ganhando dinheiro, mas não era verdade”, garante.
A conclusão, em sua análise, é a de que as pessoas “passaram a ver o carro não mais como investimento, mas como despesa”. A assinatura, segundo ele, “é tendência mundial, e não tem volta”.
Uma das razões que explicam o grande salto de 110 mil contratos de assinatura em 2022 para 160 mil neste ano, de acordo com ele, é o fato de que, em 2023, as locadoras tiveram maior disponibilidade de carros por parte das montadoras, que, aos poucos, normalizaram a produção, após a grave crise de componentes (sobretudo semicondutores), que paralisou fábricas do mundo todo em 2022.
Outro ponto que tem favorecido a adoção da assinatura, em sua opinião, é o “custo do dinheiro”, que tem encarecido ou até mesmo inviabilizado o financiamento, por causa dos juros altos. “As pessoas começaram a fazer as contas”, diz.
O executivo ressalta, porém, que a alta de preços também afeta e limita a expansão da assinatura. “Para crescer, a assinatura depende do poder aquisitivo do cliente”, diz. De acordo com o presidente da Abla, em 2021 os carros de entrada custavam entre 50% e 60% do que hoje. Por isso, quando chegava o momento de renovar o contrato, “a mensalidade não se enquadrava mais na capacidade de orçamento do cliente”, o que motivou muita gente a desistir, ao menos no momento, da modalidade.
Ainda assim, por outro lado, Aurélio Nazaré diz que as montadoras entraram no negócio “de forma bem agressiva”. Atualmente, a maioria das marcas oferece o programa (como se verá nas próximas páginas). “Ao cliente que vai à concessionária, se não se enquadra na aprovação do crédito ou nas condições do financiamento, ela acaba oferecendo o contrato por assinatura.” NOVOS PÚBLICOS. Segundo Aurélio Nazaré, quando a assinatura foi criada, o objetivo era o de entregar carro zero-km. Porém, com a necessidade de “ajustes” na modalidade, as empresas passaram a adotar contratos que ele chama de “segundo ciclo”, ou seja, de um segundo ou até mesmo terceiro contrato de assinatura, para o veículo seminovo. “Nessa fase, o carro já teve depreciação, rendeu boa receita no primeiro período. Em vez de vendê-lo, ele pode ser usado em um segundo ciclo pelo cliente de menor poder aquisitivo”, afirma. Isso é possível pelo fato de que, em geral, carro por assinatura roda pouco.
Além de atender o público de menor poder aquisitivo, a assinatura de segundo ciclo pode ser uma solução para veículos de nicho, como os elétricos. Na Movida, por exemplo, um Fiat 500e seminovo tem mensalidade de R$ 6.569,40, no plano de 48 meses, e com franquia de 1.000 quilômetros por mês. Para aumentar a atratividade para a modalidade, o executivo diz que a tendência é de as empresas passarem a incorporar benefícios aos contratos de assinatura, incluindo serviços como assistência residencial, por exemplo. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Hairton Ponciano Voz)