Frota & Cia
Neutralizar as emissões de carbono até 2050. Esse é o objetivo assumido por vários países no Acordo de Paris de 2015. E também por muitas empresas da área automotiva e de transportes que, há tempos, vem percebendo a necessidade de contribuírem para esse objetivo. Mesmo que a transição pareça algo demorado.
Os motores de baixa ou zero emissões já são uma realidade, mas não a única opção, principalmente no Brasil. Em maio de 2023, especialistas debateram o potencial de produção de hidrogênio verde durante a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde, presidida pelo senador Cid Gomes (PDT-CE).
Em setembro a USP anunciou o desenvolvimento da primeira estação no mundo de produção de hidrogênio a partir do etanol. A unidade começa a operar em 2024 e terá a capacidade de 4,5 kg de hidrogênio por hora (suficiente para abastecer 3 ônibus e 1 veículo leve). O Complexo de Suape, em Pernambuco, tem um projeto em curso ligado à produção e testagem do hidrogênio verde também.
Marcos Passos
O Brasil, sem dúvidas, aparece como um “solo fértil” para produção e uso dessa tecnologia. Seja pela dimensão continental, particularidades regionais, ou então pelos talentos cognitivos, como é o caso de Marcos Passos, Supervisor de Engenharia na Delphi, que é especialista e referência na integração de hidrogênio em veículos.
Recentemente, o executivo foi convocado e viajou para Europa e América do Norte com a missão de exportar um pouco do seu conhecimento e ajudar o time global da empresa no desenvolvimento de hidrogênio.
“É um privilégio e uma alegria participar de projetos dessa natureza. É algo ainda pouco estabelecido e de muita pesquisa avançada, que tem tudo para dar certo. Esse know how adquirido é fruto de um trabalho de três décadas em parceria com a Delphi, BorgWarner e Phinea. Fico feliz porque a iniciativa coloca a engenharia do Brasil em linha com os países do primeiro mundo. Esse meu envolvimento é só uma amostra do que, brasileiros, somos capazes.”
Agora, de volta ao país de origem, Marcos projeta as fontes de energia possíveis, para impulsionar os motores no Brasil. Na visão do engenheiro, a eletrificação dever caminhar em um ritmo mais lento no nosso país. E o hidrogênio deve entrar no meio do caminho em algum momento.
“O Brasil deve seguir nessa vertente, de uma eletrificação não tão acentuada, com uma transição baseada em veículos híbridos, que combina motores convencionais junto com versões elétricas. A migração abre espaço para a célula de hidrogênio, que se mostra uma alternativa bastante atraente. Não será nos moldes do exterior, mas terá uma célula de combustível. Entendo que o Brasil tem parque fabril experiente na indústria automotiva. Tem expertise, inteligência e engenharia para ajudar.”
A realidade para veículos pesados
É importante lembrar que, na prática, nem toda tecnologia vai se encaixar para a realidade dos veículos pesados que atuam no transporte de carga. Marcos acredita que para esse segmento o caminho passa muito pelo etanol.
“Existem muitos trabalhos com eletrificação para o mercado brasileiro. Eu digo que pelo nosso histórico com o etanol, acho provável que tenhamos veículos pesados sem diesel e com motor elétrico, porém usando célula de combustível, ou seja, abastecido com etanol líquido, aí se extrai o hidrogênio que aí toca o powertrain.”
Com uma cadeia de distribuição de etanol já estabelecida pelo país todo, faz sentido aproveitar essa estrutura e só adaptar o que for preciso. “É uma opção viável. Nada impede de o caminhão sair, levar o etanol até um posto e debaixo desse posto ter uma miniusina que transforma o etanol em hidrogênio que seja distribuído por uma bomba especial. O segredo vai ser debaixo do posto”. (Frota & Cia/Victor Fagarassi)