A inflação vem mais fraca

O Estado de S. Paulo

 

A inflação de setembro foi mais bem comportada do que previsto pelos analistas e, principalmente, pelos que põem dinheiro nos contratos futuros. Esperavam alguma coisa em torno de 0,34%, mas ficou em 0,26%, o que deixa a inflação acumulada em 12 meses em 5,19% (acima da área de escape tolerada de 4,75%).

 

Mais significativo ainda foi o índice de difusão, que mede o número de itens da cesta de consumo que acusou alta de preços. Em setembro, foi de 43%, ante os 53% acontecidos em agosto. Mostra que a inflação está menos espalhada, o que é bom sinal.

 

Do ponto de vista da política monetária (política de juros), essa inflação mais amena, indica que o atual ritmo de baixa dos juros básicos (Selic), de 0,5% ponto porcentual de cada vez, está consolidado. Como ainda há duas reuniões do Copom previstas para este ano, já dá para apostar que a economia encerrará 2023 com a Selic a 11,75% ao ano.

 

Mas convém examinar quais os riscos de que algo dê errado na inflação destes três últimos meses do ano.

 

Uma das ameaças está na área dos combustíveis. A guerra de Israel com o Hamas tende a puxar para cima as cotações do diesel. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já admitiu que um reajuste dos preços para cima é mais do que uma possibilidade.

 

A outra ameaça vem da atuação dos grandes bancos centrais, especialmente do Fed (o banco central dos Estados Unidos). A inflação no mercado norte-americano não dá tréguas, já vai para 3,7% ao ano (a meta é 2%), mas tende a subir, não só porque o mercado de trabalho por lá está apertado (desemprego de apenas 3,7%), mas, também, porque a alta dos combustíveis pode produzir novos estragos. Se a decisão do Fed for puxar por mais juros básicos (fedfunds), hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano, algum impacto sobre a economia brasileira será inevitável.

 

Certas pessoas não entendem por que juros mais altos lá fora podem criar problema também por aqui. Basta levar em conta que alta dos juros implica menos dinheiro na economia.

 

Nos Estados Unidos é o mesmo que alta do dólar em relação às outras moedas. Um dólar mais caro no mercado internacional acaba por aumentar a cotação do dólar em reais – o que já vem acontecendo. No início de setembro, o dólar estava a R$ 4,94; agora, oscila em torno dos R$ 5,06. Um dólar mais caro em reais aumenta os preços dos produtos importados e os dos nacionais cotados em moeda estrangeira, casos do café, soja e milho.

 

Como juros mais altos nos Estados Unidos produzem algum impacto na inflação local, o Banco Central do Brasil pode diminuir o ritmo da redução dos juros. É para conferir. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)