Projetos para os veículos pesados miram o biometano e o biodiesel

O Estado de S. Paulo

 

Se o etanol é visto ainda como chave para os veículos de passeio, no caso de caminhões e ônibus os investimentos estão focados na produção de biometano e HVO (óleo vegetal hidrotratado), além da ampliação da produção de biodiesel, produto misturado ao diesel normalmente feito a partir de óleos vegetais, gorduras animais e óleo de cozinha (veja quadro nesta página sobre os principais combustíveis verdes).

 

A Be8 é a maior produtora de biodiesel no País, com exportações para EUA e Europa. Tem fábricas no Rio Grande do Sul, no Paraná, na Suíça (que faz biodiesel de óleo de cozinha usado) e no Paraguai (faz esmagamento de soja e biodiesel). A partir de 2025, uma segunda planta no Paraguai produzirá diesel verde (HVO) e querosene de aviação renovável (SAF). Em projetos atuais e futuros, a Be8 soma quase R$ 8 bilhões em investimentos, todos voltados a energias sustentáveis.

 

Esses dois combustíveis também estão nos planos da Petrobras e da Acelen, do fundo Mubadala. A estatal brasileira prevê investimentos de US$ 600 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) até 2027 no projeto, que será feito em uma de suas plantas. Já a Acelen anunciou R$ 12 bilhões em dez anos (a partir de 2026) para uma fábrica na Bahia.

 

Biometano

 

Também apostando nos combustíveis verdes, a metalúrgica Tupy, multinacional brasileira que atua com componentes estruturais para bens de capital, entrou no negócio de produção de biometano. Junto com a fabricante de motores MWM, adquirida em 2022, a Tupy vai iniciar no fim do ano as operações de uma usina de biometano em Toledo (PR), usando dejetos

 

de suínos de fazendas locais. O combustível vai substituir gradualmente o uso do diesel na frota de 60 caminhões da Cooperativa Primato.

 

Em breve, o grupo deve anunciar uma segunda usina que produzirá biometano a partir de produtos orgânicos vencidos de uma rede de supermercados da Grande São Paulo, informa Cristian Malevic, diretor de engenharia da MWM. O produto será usado pela frota de caminhões que atende a rede. “Estamos também em prospecção com clientes das cadeias da suinocultura,

 

bovinocultura, avicultura, aterros de lixo e usinas de etanol e açúcar que geram potenciais matérias-primas para a produção de biometano”, diz Malevic.

 

A intenção do grupo é somar esse novo negócio a projeto para substituir motores a diesel por equipamentos que podem usar biogás ou biometano em frotas que já rodam pelas ruas do País. A Tupy/MWM também negocia o fornecimento desse motor às montadoras para equiparem caminhões novos.

 

A companhia já é responsável pelo início da substituição de motores a diesel por propulsores a biometano na frota de 600 caminhões de uma concessionária de aterros sanitários na capital paulista, que utiliza o biogás dos próprios aterros.

 

Incentivos

 

Os modelos flex respondem hoje por 85% da frota brasileira de veículos de passeio, mas apenas 31% deles rodam com etanol. Entre as explicações para isso, segundo especialistas, está a falta de competitividade do preço do combustível com o da gasolina.

 

“A paridade de preços (com a gasolina) não tem ajudado a alavancar o uso do etanol ao longo do tempo”, afirma Everton Lopes, responsável pela área de Energia e Combustão da SAE Brasil, entidade que reúne principalmente engenheiros da área de mobilidade.

 

Ele defende a criação de mecanismos para incentivar o interesse do consumidor em abastecer o carro com etanol, como descontos no abastecimento ou no IPVA do carro. Uma sugestão é usar créditos de carbono. Hoje, várias usinas recebem créditos por meio do programa RenovaBio por produzirem combustível de forma sustentável, mas não repassam nenhuma parcela ao cliente final.

 

Segundo Lopes, um automóvel a combustão rodando 100% com etanol tem praticamente o mesmo nível de emissão se comparado a um carro a bateria, mesmo que a eletricidade seja renovável, como é a hidrelétrica. “O grande ponto para essa conta é a quantidade de emissão na produção do veículo; no caso do elétrico, a fabricação da bateria demanda muito mais alumínio, muito mais mineração de matérias-primas, o que faz com que a pegada de carbono seja muito alta”, diz Lopes. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)