Etanol de cereais e cana modificada são nova ‘cara’ dos biocombustíveis

O Estado de S. Paulo

 

Popularização dos elétricos deve demorar. Modelos flex são 85% da frota, mas só 31% rodam com etanol.

 

Empresas brasileiras estão aperfeiçoando e diversificando matérias-primas para a produção de combustíveis renováveis como parte do esforço para acelerar a descarbonização dos meios de transporte. A avaliação é de que a popularização dos veículos elétricos no País só deve ocorrer no longo prazo. Esse processo industrial envolve de etanol de cereal ao desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar.

 

Os projetos seguem duas rotas distintas de produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas renováveis: uma para automóveis e, outra, para caminhões e ônibus. No caso dos carros de passeio, o etanol continua sendo a principal opção no mercado brasileiro para modelos flex e híbridos flex.

 

O produto também pode entrar no processo de produção de hidrogênio para veículos movidos a célula de combustível (quando o hidrogênio reage com o oxigênio que vem do ambiente, criando uma corrente elétrica que alimenta o motor). Entre as que já trabalham nesse desenvolvimento, estão marcas como Toyota, Shell e Raízen.

 

A cana responde hoje por 85% da produção do etanol, e passa por melhoramento genético para ampliar sua produtividade em cerca de 40%. O milho fica com os outros 15%, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Em breve, novos grãos e plantas também serão matéria-prima para a produção do combustível.

 

Em 2025, a empresa Be8 (antiga BSBios) iniciará a produção em grande escala de etanol de cereais – o milho é um deles, mas também serão usados trigo, sorgo, cevada e triticale, os chamados grãos de inverno. A usina, com sede em Passo Fundo (RS), terá investimentos de R$ 556 milhões.

 

Erasmo Carlos Battistella, CEO da Be8, diz que o mercado gaúcho é quase todo abastecido por etanol “importado” de outros Estados por não ser produtor de cana em razão do clima mais frio. Segundo ele, esses cereais são ricos em amido, produto que será usado para fazer o etanol. A usina terá capacidade anual de 220 milhões de litros de etanol e vai atender a 23% da atual demanda do Rio Grande do Sul.

 

Outra matéria-prima em desenvolvimento é a agave, planta típica de regiões semiáridas. A Shell trabalha em parceria com o Senai Cimatec para aproveitar a biomassa da agave na produção do etanol, assim como do biogás e do biodiesel. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)