InfoMoney
Promovido pelo governo federal, o programa de descontos para carros “populares” de até R$ 120 mil terminou em 7 de julho, o que significa que as reduções de preços nos veículos serão retiradas e eles voltarão para o patamar “original” — ou quase. Três das 11 montadoras participantes têm modelos que estão com preços sugeridos mais baixos do que os observados antes do programa entrar em vigor.
Jeep, Nissan e Citroën possuem atualmente um modelo cada uma que apresentou queda de preço na comparação com o período que antecede o programa, conforme levantamento feito pelo InfoMoney.
A reportagem contatou as montadoras participantes do programa: Fiat, Volkswagen, Renault, Hyundai, Chevrolet, Citroen, Peugeot, Honda, Toyota e Nissan.
Volkswagen e Peugeot informaram que não se manifestariam. Hyundai, Chevrolet e Honda não responderam às diversas tentativas de contato.
A reportagem entrou em contato com as três montadoras para confirmar as reduções e entender por que houve uma baixa, quando a maioria dos modelos registraram alta nos valores.
Os três modelos são considerados SUVs e todos receberam patrocínio das próprias montadoras — sofreram reduções de preços além do subsídio do governo — para serem elegíveis ao programa de descontos, já que era obrigatório que o carro custasse até R$ 120 mil.
Renegade e Kicks são o quinto e o sexto SUV mais vendidos no semestre, respectivamente, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Reduções
A Jeep enviou à reportagem sua tabela de preços atualizada para julho, na qual consta o preço atualizado para a versão de entrada do Renegade (1.3 Turbo): R$ 119.990. Com o início dos subsídios do governo, a empresa havia enviado o preço do mesmo modelo, a R$ 125.990. Inclusive, no site da montadora, o preço da versão ainda segue neste segundo valor.
Com o fim do programa, a Jeep atualizou seu portfólio do Jeep Renegade e reduziu em R$ 6 mil o valor do carro na comparação com o que era ofertado antes dos subsídios federais.
Durante o programa de descontos, a montadora ofereceu um desconto de R$ 6 mil na versão 1.3 Turbo, além dos R$ 4 mil subsidiados pelo governo – totalizando uma redução de R$ 10 mil, quando o modelo chegou a ser ofertado por R$ 115.990.
A Nissan confirmou a redução do preço de seus veículos e apenas informou que foi “uma liberalidade da empresa”.
Neste caso, a fabricante japonesa patrocinou um desconto de R$ 5,4 mil, além dos R$ 3 mil oferecidos pelo governo para a versão Sense do Kicks ser elegível aos subsídios. Com isso, o carro chegou a ser ofertado por R$ 115.290.
Mas, com o encerramento dos descontos, o modelo passou a custar R$ 118.290, R$ 5,4 mil a menos do que os R$ 123.690 antes do início do programa. Também é possível interpretar que a Nissan manteve de forma definitiva o desconto que patrocinou para o programa.
A Citroën, que integra o grupo Stellantis, informou a queda de preço do C4 Cactus.
“A Citroën atualizou o valor sugerido de seus modelos e nenhum deles passou a ter um valor maior do que era cobrado anteriormente antes da medida. O Novo C4 Cactus, inclusive, ficou mais barato, pois passou por uma atualização nesse período.”
O C4 Cactus Feel custava, antes do programa, R$ 130.990. E a Citroën reduziu em R$ 16 mil o valor para R$ 114.990, para que o modelo fosse elegível a receber estímulos do governo.
Depois, a montadora patrocinou mais uma redução de R$ 5 mil, além dos R$ 4 mil do governo. A partir daí, o modelo passou a ser comercializado por R$ R$ 105.990.
Hoje, o consumidor pode encontrar o carro por R$ 110.990, ou seja, uma diferença de R$ 4 mil para o novo preço depois da primeira redução que a empresa deu ao modelo.
Com a atualização de valores, nenhuma versão custa mais de R$ 130 mil, sinalizando que a empresa reposicionou o carro em seu portfólio reduzindo o preço de toda a linha.
A montadora não detalhou se a versão em questão perdeu tecnologia, acessórios, entre outros recursos para ser reposicionada a preços abaixo dos ofertados anteriormente.
A nova linha ficou assim:
Novo SUV Citroën C4 Cactus 2024 Live 1.6 Automático: R$ 106.990;
Novo SUV Citroën C4 Cactus 2024 Feel 1.6 Automático: R$ 110.990;
Novo SUV Citroën C4 Cactus 2024 Feel Pack 1.6 Automático: R$ 115.990;
Novo SUV Citroën C4 Cactus 2024 Shine Pack 1.6 THP: R$ 129.990.
Montadoras mantêm descontos em julho
Além dos três casos que tiveram uma queda no preço sugerido, outras montadoras confirmaram ao InfoMoney que em julho os consumidores podem encontrar carros ofertados no programa disponíveis para venda. Fiat, Nissan, Citroën e Renault ainda têm em estoque os modelos que receberam as reduções.
Em tese, as empresas ainda estão terminando de repassar os subsídios aos carros, sendo este mês uma espécie de período remanescente de descontos.
Apesar disso, o alerta é de que há poucas unidades diante da demanda do programa. A última semana de junho registrou a maior venda dos últimos 10 anos. O recorde da história da indústria automotiva ficou para o dia 30 de junho, quando 27 mil veículos foram emplacados.
Sobre unidades com descontos ofertadas após o fim do programa, a reportagem questionou:
- até quando os consumidores teriam acesso aos descontos nos carros;
- e quanto do valor solicitado por cada fabricante já havia sido repassado em descontos para o consumidor (juntas as montadoras solicitaram R$ 650 milhões em incentivos, já abatidos os impostos).
A primeira pergunta foi respondida apenas por Fiat, Nissan, Citroën e Renault. Volkswagen e Hyundai afirmaram que não se manifestariam. Honda, Chevrolet, Jeep, Peugeot e Jeep não responderam.
A Fiat disse apenas que “existem ainda algumas unidades disponíveis com desconto”.
A Nissan afirmou que julho “terá preços reduzidos iguais aos vigentes no programa”.
A Citroën, por sua vez, explicou que “ainda há poucos veículos na rede com o preço antigo, mas dada a quantidade ínfima que deve se esgotar nos próximos dias, não estamos mais divulgando os preços que eram válidos durante a medida.” E acrescentou que “clientes que tiverem interesse por essas poucas unidades, porém, poderão comprá-las pelo valor com as reduções do governo e da própria marca.”
A Renault fez um alerta similar. “Em julho, temos carros na nossa rede que se beneficiam do incentivo do governo. Mas é preciso ser claro que o sucesso foi maior do que o esperado, então os estoques remanescentes não devem durar mais do que algumas semanas.”
Sobre a segunda pergunta, somente Renault, Nissan e Citroën responderam. Volkswagen e Hyundai disseram que não se manifestariam. Toyota, Honda, Chevrolet, Fiat, Peugeot e Jeep não responderam.
A Renault diz que já utilizou R$ 90 milhões dos incentivos concedidos pelo governo, o total solicitado. “No mês de junho vendemos cerca de 6 mil veículos com os incentivos e vamos continuar a ver o reflexo dos emplacamentos com este incentivo pelo menos até o fim de julho”.
Nissan afirmou que não comenta dados financeiros. A Citroën disse que não divulga “questões estratégicas, como o consumo do crédito por cada marca.”
A Toyota não respondeu as perguntas mencionadas diretamente, mas enviou um posicionamento.
“Acreditamos que a melhoria da acessibilidade por meio da redução de impostos seja positiva e uma medida de curto prazo útil. No entanto, a médio prazo, é necessário implementar medidas estruturais para colocar o Brasil novamente no caminho do crescimento. Entre essas medidas, a principal seria a reforma tributária, que proporcionaria a simplificação da apuração e pagamento de impostos, a redução de custos, maior segurança jurídica e previsibilidade.”
Balanço do programa
De acordo com balanço do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), 125 mil carros foram comercializados durante o período do programa com descontos entre R$ 2 mil e R$ 8 mil.
O número oficial de versões inclusas no programa divulgado pelo governo federal é controverso: o MDIC diz que foram 266 versões, mas há diversas inconsistências, como um modelo que custa mais de R$ 120 mil (da Chevrolet), versões de veículos que não são mais comercializadas (caso da Fiat e da Honda), uma versão que está esgotada e foi substituída (da Citroën) e até uma que não existe (de novo da Fiat), além de várias repetidas. O InfoMoney apurou 115 versões. (InfoMoney/Giovanna Sutto)