O Estado de S. Paulo
O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado nos próximos dias, é um “tiro de curto prazo”. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços (Mdic), Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. Ele diz que a iniciativa deve durar “um ano” e “no mínimo quatro meses”.
O que a política do carro popular tem a ver com a “neoindustrialização” citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?
Primeiro ponto, a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante. Para deixar claro, eu nunca discuti isso no Mdic. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, em que discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que ao mesmo tempo a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.
E por que isso preocupa?
A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. O segmento diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas.
Por que incluíram carros de R$ 120 mil?
Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que ao mesmo tempo não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona e os carros que alcancem maior nível nos três fatores, social, coeficiente energético e densidade produtiva, terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.
Mas qual o tempo que pode durar a medida?
Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.
Quando concluem o programa?
Em até 15 dias, todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do Mdic.
No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa?
Veja estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É de tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. (O Estado de S. Paulo/Adriana Fernandes e Mariana Carneiro)