Produção industrial sobe 1,1% em março ante fevereiro, segundo IBGE

O Estado de S. Paulo Online

 

A indústria brasileira voltou ao azul em março. A produção cresceu 1,1% ante fevereiro, superando a perda de 0,5% acumulada nos dois meses anteriores, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“É o melhor mês de março desde 2013, quando havia crescido 1,8%, e se igualando a março de 2018, quando cresceu também 1,1%”, observou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

 

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os dados mostram uma melhora recente nos componentes relacionados à incerteza, uma maior resiliência da renda das famílias e a normalização na cadeia global de insumos.

 

“Por outro lado, a piora das condições financeiras predomina pelo lado negativo e deve continuar pesando sobre o setor”, previu a entidade, em nota em que aponta “o alto patamar dos juros domésticos e internacionais” como causador do problema.

 

O avanço da produção industrial em março foi um repique pontual, opinou o economista Carlos Lopes, do Banco BV.

 

“Ainda vemos uma desaceleração da indústria para o restante do ano, diante das condições financeiras mais restritas e dos juros altos. A tendência é de queda, mesmo que moderada ou pequena, da produção industrial no ano”, disse o economista, que prevê recuo de 0,6% para o setor em 2023.

 

Na passagem de fevereiro para março, houve expansão em 16 dos 25 ramos industriais pesquisados. As principais influências positivas partiram dos avanços de derivados do petróleo (1,7%), máquinas e equipamentos (5,1%) e equipamentos de informática (6,7%). Outros aumentos relevantes ocorreram em farmoquímicos e farmacêuticos (3,2%), outros equipamentos de transporte (4,8%), produtos químicos (0,6%), couro e calçados (2,8%) e produtos de minerais não metálicos (1,2%).

 

“O resultado deste mês tem característica de predomínio de taxas positivas”, frisou André Macedo, do IBGE, lembrando que a indústria já mostrava uma maioria de atividades em alta nos meses de janeiro e fevereiro, apesar da média global negativa. “As atividades que estavam no campo negativo se sobrepunham às positivas.”

 

O setor de veículos também contribuiu para a melhora vista em março, com avanço de 0,2% em relação a fevereiro, devido a um aumento na produção de automóveis e caminhões.

 

“Paralisações na indústria automobilística permanecem, tendo como pano de fundo uma necessidade dessas montadoras adequarem sua produção à demanda corrente”, disse Macedo. “As paralisações aconteceram mais em janeiro e fevereiro, mas ocorreram em algumas plantas no mês de março e abril.”

 

O gerente do IBGE acrescenta que o juro elevado dificulta o acesso ao crédito, prejudicando a aquisição não apenas de automóveis, como também de outros bens de consumo duráveis.

 

“Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) referentes a abril dão sinalização negativa, seja na passagem com março ou comparação com abril de 2022″, comentou Macedo.

 

Na direção oposta, entre as oito atividades em queda em março ante fevereiro, a perda mais importante ocorreu em vestuário e acessórios (-4,7%), após três meses consecutivos de crescimento. Houve recuos significativos também em móveis (-4,3%) e produtos de metal (-1,0%).

 

“Mesmo com o crescimento observado no mês de março, o patamar da indústria permanece abaixo de resultados históricos recentes”, ponderou Macedo. “Permanece operando em patamar semelhante a janeiro e fevereiro de 2009.”

 

A indústria brasileira chegou a março operando 1,3% aquém do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia: apenas oito das 25 atividades investigadas estão funcionando em nível superior ao pré-crise sanitária. Fatores conjunturais, como o juro, o desemprego e a inadimplência elevados, impedem um desempenho melhor da produção e ajudam a entender o setor industrial ainda em nível abaixo do pré-covid, justificou Macedo.

 

Na comparação com março de 2022, a produção industrial teve uma alta de 0,9% em março de 2023, decorrente de avanços em 11 dos 25 ramos industriais investigados. Segundo André Macedo, a expansão na indústria nesse tipo de comparação teve contribuição do efeito calendário, uma vez que o mês de março de 2023 teve um dia útil a mais que março de 2022. A base de comparação depreciada também ajudou, uma vez que a produção tinha recuado 1,9% em março de 2022 ante março de 2021, acrescentou o pesquisador.

 

“Ainda tem predomínio de atividades em queda ante março de 2022″, apontou Macedo.

 

A indústria ficou estável (0,0%) no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre de 2022. Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, a produção industrial caiu 0,4% no primeiro trimestre de 2023. (O Estado de S. Paulo Online/Daniela Amorim e Marianna Gualter)