Rodoviário de Passageiros tem prejuízo bilionário, mas recupera a demanda

Frota & Cia

 

Em 2019, o número de passageiros do Transporte Rodoviário de Passageiros era de 39.962.913, mas enfrentou uma queda drástica em 2020, quando caiu para para 15.284.725 com a chegada da Covid-19 no Brasil. O setor vem recuperando a demanda, que em 2021 foi para 28.837.465 e 29.214.280 passageiros em 2022, mas ainda vislumbra no horizonte a receita perdida durante o período.

 

O prejuízo financeiro foi de mais de R$ 3 bilhões em todo o país, entre os membros da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (ABRATI), que representa aproximadamente 90% das empresas do segmento brasileiro.

 

A porta-voz da ABRATI, Letícia Pineschi, explica que isso se deve ao fato de a população brasileira ainda estar saindo de um cenário econômico desfavorável. “Hoje, já consolidamos uma recuperação em termos de passageiros embarcados. Em termos de receita não tanto, porque muitas linhas ainda estão rodando com um percentual de desconto e de promoção que favoreça o cliente. A população, no geral, está muito descapitalizada”, comenta a executiva.

 

Investimentos

 

Mesmo reconhecendo a importância da recuperação da demanda do setor, Pineschi conta que alguns investimentos ficaram estagnados no período de instabilidade econômica. Neste momento, segundo a porta-voz, as empresas vêm retomando a renovação de frota, que já chegou a 1.500 veículos novos adquiridos entre julho de 2021 e dezembro de 2022.

 

Com empresas em recuperação judicial e todo o impacto financeiro em bilhões de reais, Letícia explica que a recuperação foi prejudicada pelo transporte clandestino. “O transporte clandestino, que rodou livremente durante a pandemia, prejudicou muito as empresas nessa retomada. Algumas regiões do país tiveram uma proliferação tão grande do transporte clandestino que quando as regulares retomaram o serviço, para elas recuperarem esses passageiros de volta para elas, tem sido um desafio”.

 

Mudança no perfil do passageiro

 

Mas, para ela, o tempo também trouxe outros desafios, sobretudo porque nesse período de baixa demanda as empresas associadas à ABRATI puderam avaliar projetos internos que estavam em andamento. Adaptaram-se, inclusive, ao novo perfil de passageiro que chegou durante esse período.

 

“Hoje temos, no rodoviário interestadual, a presença de um passageiro que antes, talvez, viajasse de veículo particular, outros de avião, e que claramente migraram para o transporte rodoviário”, explica Pineschi. Devido a esse fato, a busca por serviços premium (leito, leito individual, cama), entretenimento de bordo, salas vip e afins, aumentou.

 

O surgimento desse novo perfil, de acordo com a executiva, se dá pela mesma razão que as empresas vêm mantendo descontos e promoções nos valores das passagens rodoviárias: a redução do poder de compra de grande parte da população brasileira. “O passageiro que tinha um perfil de compra pouco mais privilegiado também está com a renda pouco menos favorecida e encontra no rodoviário um custo-benefício muito interessante para viabilizar a viagem dele”, complementa.

 

Ela destaca que isso acontece, geralmente, nas viagens de lazer. É o momento em que esse passageiro começa a considerar os gastos de ir de avião, por exemplo, em que não somente a passagem aérea está mais cara, como também há os custos de bagagem. O caso também se aplica às viagens de carro, em que o valor do aluguel de um carro, da gasolina e manutenção são colocados “na ponta do lápis”.

 

“Por exemplo, uma família de três ou quatro pessoas, se computar a mala, que no transporte aéreo também é cobrada e no transporte rodoviário transporta até 30kg sem nenhum custo extra, fica maior ainda essa diferença. Então começa a ser muito interessante para ele considerar o ônibus”, completa.

 

Expectativas para 2023

 

Pineschi destaca o setor como otimista com este ano. Primeiro, pelo crescimento na demanda de passageiros; segundo, a esperança de que a Reforma Tributária possa beneficiar o setor com uma igualdade na tributação em comparação com outros segmentos de transporte coletivo de passageiros.

 

“Hoje, o passageiro paga ICMS sobre o valor da passagem. Essa alíquota, por exemplo, varia de estado para estado. Depende de qual é o estado emissor da passagem, a origem. Quando o passageiro viaja no transporte aéreo ele não paga ICMS nenhum. Nessa reforma tributária, o que o setor busca é isonomia de tratamento com esses outros setores que também são transportes e que nem são transporte essencial. No nosso caso nós somos transporte essencial”, explica.

 

Ela defende que o setor seja menos tributado para que o valor final da passagem reduza e o passageiro possa acessar um serviço de qualidade em menor valor. Também destaca como esperança o novo Governo Federal, que possui um histórico de propostas sociais e que talvez aconteça essa desoneração para o consumidor final. (Frota & Cia/Priscila Ferreira)