Truck & Bus Builder América do Sul
Em razão da baixa demanda dos primeiros meses de 2023, quase todos os principais fabricantes de veículos comerciais com fábricas no Brasil decidiram reduzir a produção, concedendo férias coletivas ou reduzindo a jornada. A expectativa é de que, com a entrada em vigor da legislação de emissões Proconve P8 (Euro 6), as vendas sigam baixas ao longo de todo o primeiro semestre e somente retomem na segunda metade do ano.
Segundo executivos do setor, o mercado já aguardava uma redução da demanda, mas as encomendas estão aquém do esperado, sobretudo devido aos preços mais elevados. Com isso, nas fabricantes de caminhões, a produção está sendo reduzida a um turno.
A primeira a anunciar férias coletivas foi a Mercedes-Benz, em suas unidades de São Bernardo e Juiz de Fora, com a redução da produção para um turno a partir de maio, por dois ou três meses. Em seguida, a Volkswagen Caminhões e Ônibus, com a suspensão de contratos de trabalho, o chamado layoff, por pelo menos três meses a partir de 2 de maio. Isso deve envolver entre 700 e 900 trabalhadores, segundo o sindicato, o que deve representar a suspensão de um turno.
Também a Scania, em São Bernardo do Campo, anunciou a redução de jornada para somente três dias por semana a partir de maio, medida que ocorre pouco depois de a fabricante de caminhões e ônibus ter encerrado o segundo turno de trabalho na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
O sindicato dos metalúrgicos do ABC, em assembleia realizada com os trabalhadores, informou que todos os 4,5 mil funcionários da Scania, administrativos e da produção, passarão a trabalhar em jornada reduzida sem alterações nos salários.
Segundo o sindicato, os dias não trabalhados serão descontados do banco de horas, sem prejuízos aos salários dos funcionários. Também foi decidido que, a partir do dia 10 julho, haverá dez dias de férias coletivas para aproximadamente 3 mil trabalhadores da área de produção.
A Volvo vem adequando a produção de caminhões pesados e semipesados com redução do volume diário, mas segue em dois turnos. E a Iveco decidiu por conceder férias em determinadas áreas da produção da fábrica de Sete Lagoas (MG). A medida teve início no último dia 24 de abril e tem duração de 12 dias. Segundo a empresa, devido à forte queda da demanda associada ao aumento da taxa de juros, além da introdução do Euro 6.
A produção de veículos comerciais pesados fechou o primeiro trimestre do ano com queda de 28,8%, em caminhões, e de 29,6% em chassis de ônibus, em relação ao mesmo período de 2022. Foram 24.497 caminhões, contra 34.383 unidades no período anterior. E 4.015 chassis de ônibus, contra 5.702 nos três primeiros meses do ano passado.
De acordo com a Anfavea, do total de 28.616 caminhões vendidos no primeiro trimestre, 93,6% foram produzidos no ano passado. No segmento de ônibus, 99,5% dos 6.219 chassis foram fabricados em 2022.
“Se até o fim do ano passado, era difícil enxergar se ocorriam compras antecipadas antes da mudança de fase do Proconve, a partir de 1º de janeiro, hoje fica claro que o mercado até agora absorveu praticamente o que se encontrava no estoque”, observou Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea.
Segundo o executivo, muito pouco do que foi produzido da nova geração Euro 6 neste ano foi para o mercado. Somente 6,4% no volume de caminhões e apenas meio ponto porcentual, no caso chassi. “Esses índices já deveriam estar entre 20% e 30%. A grande preocupação é como irá ficar a produção para os próximos meses”, analisa.
Férias coletivas e eliminação de segundo turno, como já anunciaram Mercedes-Benz e Scania, servem como termômetro do desafio a enfrentar, afinal, se a nova geração de pesados pouco vendeu, o pátio começa a ficar cheio.
Em março, tanto a produção de caminhões quanto de ônibus cresceu em relação a fevereiro. Em caminhões, alta de 51,7%, para 12,3 mil unidades e, em ônibus, de 53,6%, para 1,9 mil chassis. Os volumes, porém, foram menores na comparação com o mesmo período de 2022, com quedas de 8,9% (13,5 mil) e de 19,1% (2,4 mil), respectivamente.
O ano de 2023 não deverá ser fácil para as montadoras de caminhões. A estimativa da Anfavea mostra uma retração nas vendas de 11% na comparação com o volume emplacado em 2022. Já a produção projetada deverá ser 20% menor na mesma base. (Truck & Bus Builder América do Sul)