O Estado de S. Paulo
A frota de automóveis que circula pelas ruas do País envelheceu pelo nono ano consecutivo e sua idade média retrocedeu 28 anos, ficando próxima aos níveis de 1994. A queda do mercado já vinha ocorrendo e foi acentuada pela pandemia.
A venda de modelos novos não é suficiente para compensar a obsolescência de carros que seguem em uso porque o consumidor não tem condição de comprar um automóvel zero quilômetro e o Brasil não tem, atualmente, uma política de renovação de frota.
A média de idade dos automóveis é, hoje, de 10 anos e 9 meses, segundo o mais recente estudo sobre a frota circulante no País, realizado anualmente pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Em 1994, a frota era apenas um mês mais jovem.
Naquele período, o Brasil abrigava seis marcas que produziram 1,5 milhão de carros. Hoje, são 16 marcas com fabricação de quase 2,2 milhões de unidades, volume que gera ociosidade de cerca de 40% no setor.
George Rugitsky, diretor de Economia do Sindipeças, ressalta que uma frota envelhecida gera mais poluição, acidentes por falta de manutenção e congestionamentos por problemas nos trajetos.
Ampliando o estudo para toda a frota brasileira, incluindo os comerciais leves, caminhões e ônibus, o quadro é parecido, com a idade média chegando a 10 anos e 7 meses no ano passado, também muito próxima da média de 1994, de 10 anos e oito meses.
“Somente no período de 2010 para cá, o envelhecimento da frota aumentou em quase dois anos”, diz Rugitsky.
Segundo ele, a reversão desse quadro depende da intensidade de crescimento das vendas de veículos novos e da taxa de sucateamento dos mais velhos. Ao menos no segmento de caminhões, o Renovar, programa que busca tirar de circulação veículos com mais de 30 anos, deve finalmente entrar em vigor neste ano.
Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a possibilidade de estender o programa também para automóveis, uma reivindicação que o Sindipeças carrega há pelo menos 20 anos.
“A renovação é fundamental para o País cumprir sua obrigação de redução de gases do efeito estufa, pois não adianta apenas criar normas que limitam as emissões dos carros novos sem tirar os velhos das ruas”, afirma Rugitsky.
O diretor do Sindipeças defende também que as normas para o pagamento de IPVA sejam alteradas, pois a isenção para carros acima de 20 anos estimula o mercado a manter o carro velho em atividade.
“O imposto deveria ser menor para o carro mais novo, que tem todos os dispositivos antipoluição e de segurança”, afirma Rugitsky. Com isso, diz ele, aumentaria a procura por modelos dessa faixa e o próprio mercado iria escrapear (inutilizar) os mais velhos, pois não compensaria mantê-los.
O segmento de automóveis e comerciais leves corresponde a 93% de toda a frota brasileira, que soma 46,9 milhões de unidades. Só em automóveis são 38,3 milhões de unidades, números que crescem cada vez menos também em razão da queda da entrada de carros novo no mercado.
Baixo crescimento
Em relação a 2021, a nova frota teve acréscimo de apenas 302 mil veículos, enquanto na passagem de 2010 para 2011 o aumento foi de 2,6 milhões de unidades. Ao longo desses anos, o desempenho do setor acompanhou os altos e baixos da economia brasileira, e se beneficiou de subsídios dados pelos governos para incentivar o consumo, como redução temporária de impostos. “Foram medidas que tiveram impacto de curto prazo”, avalia Rugitsky.
Do total de automóveis que circulavam em 2010 pelo País, 29% tinham até três anos de uso, participação que despencou para 12% no ano passado. A faixa de 4 a 10 anos teve pequena alteração de 35% para 37%, enquanto para os de 11 a 20 anos subiu de 32,6% para 45,2%. Já os veículos com mais de 20 anos são atualmente 5,8% da frota, ante 3,4% em 2010.
“Desde 2013, a frota brasileira vem envelhecendo porque não estamos conseguindo uma renovação com carros novos que compense a obsolescência existente”, afirma Rugitsky. Ele ressalta que a pandemia levou a um sucateamento ainda maior da frota nacional, situação que também ocorre globalmente, com dados até piores que os do Brasil.
Frotas nos EUA e Europa
A idade média dos carros nos Estados Unidos em 2021 (último dado disponível) ficou em 12 anos, atingindo um novo recorde, segundo a consultoria S&P Mobilit. O país tem frota de mais de 270 milhões de veículos e também foi afetado pela crise dos semicondutores.
A frota da Europa, estimada em cerca de 250 milhões de veículos, tem idade média de 11,8 anos, sendo que em países da parte Continental, como a Áustria, a média é de 8,5 anos e, no Leste Europeu, como na Letônia e Polônia, é de 17 anos, segundo dados da Acea, entidade que representa as montadoras locais. Na África do Sul, 42% da frota tem de 11 a 20 anos, enquanto na vizinha Argentina a média é de 12 anos.
No Brasil, o cálculo do Sindipeças desconta a taxa de mortalidade (carros com perda total ou desmanchados), o que diferencia seus números da frota divulgada pelo Denatran, que considera todos os veículos registrados, independente de estarem ou não circulando.
O objetivo do estudo é avaliar o potencial de mercado para fabricantes de peças de reposição. A edição deste ano também mostra que o Brasil tem frota de 13 milhões de motocicletas com idade média de 8,5 anos, bem acima em relação a 2010, quando tinha 4,11 anos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)