EUA propõem elevação drástica de produção de carros elétricos

O Estado de S. Paulo

 

O governo do presidente Joe Biden, por meio da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), propôs ontem as regulamentações climáticas mais ambiciosas do país em todos os tempos, com dois planos para garantir que 67% dos automóveis de passageiros e 25% dos caminhões pesados vendidos nos Estados Unidos sejam totalmente elétricos até 2032.

 

As novas regras exigiriam uma revolução na indústria automobilística do país de certa forma tão significativa quanto a de 1896, quando Henry Ford levou sua “carruagem sem cavalos” para as ruas e mudou a vida e a indústria americanas.

 

O desafio é grande: na média, no ano passado, os veículos totalmente elétricos representaram 7,03% das vendas nos EUA, e alcançaram 9,77% em dezembro, com um total de 982,2 mil veículos. A curva mostra evolução, mas em um ritmo muito menos ambicioso do que o pretendido pelo governo. A China, líder mundial em elétricos, vendeu 6,1 milhões de unidades em 2022.

 

Quase todas as grandes montadoras já investiram bilhões na produção de elétricos, mas os novos regulamentos propostos exigiriam que o setor investisse mais ainda e reorientasse seus processos, o que poderia significar o fim do motor a combustão.

 

Se as duas regras forem promulgadas como foram propostas, elas colocariam a maior economia do mundo no caminho para reduzir suas emissões no ritmo que os cientistas dizem ser exigido de todas as nações, a fim de evitar os impactos mais devastadores da mudança climática.

 

“Ao propor os padrões de poluição mais ambiciosos de todos os tempos para carros e caminhões, estamos cumprindo a promessa do governo BidenHarris de proteger as pessoas e o planeta, garantindo reduções críticas na perigosa poluição do ar e do clima e garantindo benefícios econômicos significativos, como menores custos de combustível e manutenção para as famílias”, disse o diretor da EPA, Michael Regan, em comunicado.

 

A EPA não pode exigir que as montadoras vendam um determinado número de veículos elétricos. No entanto, sob a Lei do Ar Limpo, a agência pode limitar a poluição gerada pelo número total de carros que cada fabricante vende. Assim, é possível definir esse limite com tanta rigidez que a única maneira de os fabricantes cumprirem a meta é vender uma certa porcentagem de veículos com emissão zero.

 

Os regulamentos propostos enfrentarão desafios. “Eles estão usando este estatuto estabelecido há muito tempo para um propósito totalmente novo, para forçar uma meta totalmente nova – a transformação da indústria para veículos elétricos”, disse Steven G. Bradbury, que atuou como consultor-chefe jurídico do Departamento de Transporte durante a gestão de Trump. “Isso é claramente impulsionado pela diretiva do presidente para alcançar esses resultados. Eu não acho que você possa fazer isso.”

 

Além da meta de produção de 67% de veículos leves (incluindo picapes), ficou estabelecido que 46% dos caminhões médios e vans de entregas também deverão ser totalmente elétricos até o mesmo ano.

 

A EPA também propôs uma regra complementar para os veículos pesados, determinando que metade dos ônibus e 25% dos caminhões sejam totalmente elétricos até 2032. As regras eliminariam o equivalente às emissões de dióxido de carbono geradas ao longo de dois anos por todos os setores da economia dos EUA, o segundo maior poluidor depois da China.

 

Temores

 

As fabricantes temem que a transição para veículos totalmente elétricos possa resultar em redução de lucros. Embora as principais montadoras tenham investido pesadamente em eletrificação, elas estão apreensivas com a demanda dos clientes (porque são modelos mais caros); com o fornecimento de baterias; e com a velocidade com que uma rede nacional de estações de carregamento pode ser criada.

 

Os trabalhadores temem a perda de empregos, já que a produção de veículos elétricos exige menos da metade da mão de obra em relação aos carros com motor a combustão.

 

Montadoras e sindicalistas vêm expressando esses temores diretamente ao presidente desde 2021, quando Biden anunciou uma ordem executiva direcionando as políticas do governo para garantir que 50% de todas as vendas de veículos novos de passageiros sejam totalmente elétricos até 2030.

 

John Bozzella, presidente da Alliance for Automotive Innovation, que representa grandes montadoras, questionou como a EPA poderia justificar “exceder a meta cuidadosamente considerada e baseada em dados”, mas em comunicado garantiu que “a transição para um futuro de transporte elétrico e de baixo carbono está bem encaminhada”. “A fabricação de veículos elétricos e baterias está aumentando em todo o país porque as montadoras autofinanciaram bilhões para expandir a eletrificação de veículos.”

 

Regan reconheceu que alguns executivos do setor automotivo e líderes sindicais expressaram ansiedade sobre as propostas, acrescentando que elas poderiam ser alteradas para amenizar esses temores. “Estamos muito conscientes de que esta é uma proposta e queremos dar o máximo de flexibilidade possível”, disse. (O Estado de S. Paulo/Tradução de Jessica Brasil Skroch, NYT)