Cerca de 300 trabalhadores da Mercedes-Benz em Juiz de Fora devem ter contratos suspensos, diz sindicato

Tribuna de Minas

 

Em mais um movimento visando à redução da produção de caminhões para o mercado brasileiro, cerca de 250 a 300 trabalhadores da fábrica da Mercedes-Benz em Juiz de Fora devem entrar em período de inatividade a partir do mês de maio. A informação foi confirmada à Tribuna pelo diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora (Stim-JF), Fernando Rocha, que também indicou que as suspensões temporárias dos contratos dos trabalhadores afetados devem acontecer, no mínimo, pelo período de dois meses.

 

“Essa medida é certamente motivada pelo recente anúncio da montadora, que quer implementar turno único de produção na fábrica de São Bernardo do Campo. Como a planta paulista recebe as cabinas de caminhões fabricadas aqui em Juiz de Fora e finaliza a montagem dos veículos por lá, certamente alguma medida seria adotada aqui na cidade. Com o lay-off desses funcionários, o segundo turno de produção também será interrompido aqui na planta de Juiz de Fora”, afirmou o diretor.

 

Em nota encaminha à Tribuna, a Mercedes confirmou que a medida está em avaliação. “A empresa está em tratativa com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC visando a adoção de turno único de trabalho na produção de caminhões por um período de 2 a 3 meses a partir de maio. Para a fábrica de Juiz de Fora, em negociações com o Sindicato local, a alternativa que está sendo avaliada é adoção de lay-off por período de dois meses a partir de maio”, cita o texto.

 

Redução de produção

 

Se efetuada, esta será a segunda medida de redução de produção tomada pela montadora alemã este ano na planta juiz-forana. No início de abril, cerca de 120 trabalhadores da cidade entraram em férias coletivas pelo período de um mês. A ação aconteceu devido aos cortes na produção da fábrica paulista da Mercedes, que também conta atualmente com 300 trabalhadores afastados pela mesma medida, que vigora até o início do mês de maio. Em nota enviada à reportagem, a Mercedes-Benz do Brasil afirmou que já previa, desde o início do ano, uma queda nas vendas do mercado interno de veículos comerciais, em função da mudança de legislações ambientais. “Porém, no decorrer do primeiro trimestre, em razão de juros elevados e de dificuldades na concessão de financiamentos, observou-se uma demanda ainda menor do que a esperada para este ano”, justificou a empresa.

 

Durante o período de lay-off, os trabalhadores ficam com seus contratos suspensos e recebem bolsa de qualificação profissional, custeada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). De acordo com informações do Stim-JF, a Mercedes também concederá ajuda compulsória mensal, até atingir o valor do salário do funcionário praticado no último vencimento do colaborador. De acordo com o artigo 476-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é obrigatório que os trabalhadores com contratos suspensos participem de programas de qualificação profissional oferecidos pelo empregador.

 

Negociações devem prosseguir

 

Ainda que o atual cenário nacional e mundial do setor não seja favorável, na visão do diretor do Stim-JF, as negociações com a montadora devem continuar acontecendo nos próximos meses. “Sabemos que o cenário atual não é o ideal para negociações com a empresa. Porém, o sindicato recebeu autorização dos trabalhadores, por meio de assembleias, a continuar mediando esse processo com a Mercedes. No caso específico dos colaboradores afetados pelo lay-off, eles serão afastados por dois meses. Caso a empresa decida prorrogar a medida, o que poderia acontecer por mais cinco meses, de acordo com a legislação, a montadora apenas pode suspender os contratos de trabalhadores que não tenham sido afastados anteriormente pela medida. Entretanto, como esses 120 trabalhadores que receberam férias coletivas em abril voltam a trabalhar no início de maio, eles podem ser afetados por essa medida futuramente, caso a Mercedes decida prorrogar a medida”, explica Rocha.

 

De acordo com a Mercedes, as alternativas estão sendo negociadas previamente “com total transparência junto ao Sindicatos dos Trabalhadores com o objetivo de buscar formas de gerenciar a queda de demanda, mantendo o nível de emprego”.

 

Juros altos são apontados como entraves para retomada da produção

 

A última vez que a medida de suspensão de contratos foi tomada na planta juiz-forana da Mercedes aconteceu em 2015, quando o mercado de automóveis também enfrentava uma crise generalizada. Além da crise na disponibilidade de semicondutores – que são utilizados nas partes eletrônicas dos veículos e foram responsáveis por suspensões nas produções de montadoras em 2022, inclusive na Mercedes em Juiz de Fora -, o atual cenário econômico brasileiro não tem favorecido uma plena retomada do setor.

 

De acordo com informações da Agência Brasil, na visão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), um dos principais entraves na retomada das vendas e na produção de veículos no país é a alta na taxa de juros, que impacta diretamente possíveis financiamentos destes automóveis. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano.

 

“É bastante evidente que o nível da taxa de juros impede o retorno da produção a níveis superiores. Ele vem funcionando como um freio de mão em relação a uma retomada mais significativa dos volumes de produção”, indicou o assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luis Paulo Bresciani, em entrevista à Agência Brasil.

 

Em nota disponibilizada no site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o coordenador da Regional Diadema do sindicato, Antônio Claudiano da Silva, também ressaltou o papel negativo da alta de juros na retomada de produção industrial. “Com a taxa que temos hoje no Brasil, fica inviável as pessoas investirem em compras de bens de valor agregado alto e também em itens básicos”, afirmou.

 

Ainda que a produção de veículos tenha registrado alta de 8% no primeiro trimestre de 2023, em comparação com o período de janeiro a março de 2022, o patamar alcançado no ano anterior é o pior registrado pela indústria automobilística desde 2004. Somente nos primeiros três meses deste ano, foram fabricados 496 mil automóveis no Brasil. (Tribuna de Minas/Gabriel Magacho e Carolina Leonel)