O Estado de S. Paulo
A produção de veículos subiu 20% no mês passado, na comparação com o mesmo período de 2022, chegando a 221,8 mil unidades, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. O balanço foi divulgado ontem pela Anfavea, a associação das montadoras, e mostra que, frente a fevereiro, um mês mais curto, a produção avançou 37,3%.
Após os resultados frustrantes do início do ano, algumas montadoras começaram a segurar a produção no mês passado para evitar excesso de estoques em meio ao impacto dos juros mais altos na demanda. Apesar disso, o volume se manteve superior ao do ano passado, quando a maior irregularidade no fornecimento de componentes eletrônicos limitou a produção do setor.
Na comparação com os níveis de antes da pandemia, contudo, a produção do primeiro trimestre ficou em torno de 50 mil veículos abaixo, conforme a Anfavea. Na conta da associação, oito fábricas pararam em algum momento e outras duas cancelaram turnos de trabalho desde o início do ano em razão do esfriamento da demanda, combinado, em alguns casos, à falta de peças alegada por parte dos fabricantes.
No primeiro trimestre, 536 mil veículos foram fabricados no Brasil, com alta de 8% em relação ao número apurado nos três primeiros meses do ano passado. As vendas, de 199 mil veículos no mês passado, subiram 35,5% na comparação com março de 2022, mês de maior limitação de oferta em função da falta de componentes eletrônicos. Diante de fevereiro, que teve cinco dias úteis a menos, as vendas tiveram alta de 53,1%. Com isso, o trimestre terminou com 471,8 mil veículos comercializados, 16,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.
O balanço da Anfavea mostra ainda alta de 14,8% das exportações, no comparativo de março com igual mês do ano passado. Os embarques, de 44,7 mil veículos no mês passado, subiram 29,3% contra fevereiro, permitindo leve aumento de 3,9% no acumulado do trimestre, quando 112,2 mil veículos foram exportados.
Segundo o levantamento da Anfavea, 308 vagas de trabalho foram fechadas em março nas montadoras, que agora empregam 101,6 mil pessoas.
Preocupação
A direção da Anfavea abriu a apresentação dos resultados de março manifestando preocupação com o desempenho abaixo das expectativas, o crescimento dos estoques e a maior dependência das vendas a locadoras. O maior responsável por esse quadro, conforme a associação dos fabricantes, são os juros mais altos.
Em entrevista coletiva, Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, disse respeitar o trabalho feito pelo Banco Central (BC) para estabilizar a inflação, porém frisou que, sem condições melhores de crédito, o mercado não vai reagir.
“O mercado tem, sim, um problema de aquecimento, precisa voltar a patamares sustentáveis”, acrescentou. Ele afirmou também que, embora algumas montadoras possam ainda ter dificuldade de abastecimento ligada à escassez de semicondutores, a causa principal das paradas de produção é a demanda aquém do previsto. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)