Portal da Autopeças
Bob Lutz, executivo suíço do setor automotivo, cita em seu Livro “Guts”, de 2003, que o consumidor deve ser visto pelo retrovisor do carro. Em outras palavras, as montadoras de veículos deveriam sempre estar à frente das necessidades dos clientes. Frase semelhante foi cunhada na década de 50 pelo principal pensador da área da administração, Peter Druker: “o objetivo do marketing não é mais de satisfazer o consumidor, mas antecipar necessidades e desejos do mercado”. Estas afirmações faziam bastante sentido em mercados mais estáveis e relativamente previsíveis.
Hoje, soam impossíveis! Vivemos negócios disruptivos, organizações exponenciais em meio a concorrentes assimétricos. Primeiro é lançado o produto ou serviço e depois vai se ajustando a oferta à medida que o mercado e o consumidor vão interagindo com a marca. Como diria Reid Hoffman, fundador do LinkedIn: “Se você não tem vergonha da primeira versão do seu produto, é porque demorou demais para lançar”. Chegar antes é crucial!
É seguindo este caminho que o mercado automotivo trará mais avanços e mudanças radicais nos próximos 10 anos do que as apresentadas nos últimos 100. Essas mudanças serão alicerçadas em 7 forças disruptivas: carro conectado, compartilhado, elétrico, autônomo, amigos do meio ambiente, inteligentes e vendas on-line.
Carro conectado – viabilizado pelas conexões 5G, que graças à sua baixa latência permitirão que dados de múltiplas fontes sejam compartilhados muito rapidamente, possibilitando que atualizações, adaptações e ajustes dos veículos sejam executados de forma automática e silenciosa e, em muitos casos, sem que os motoristas sequer identifiquem essas interações. Imagine carros compartilhando informações de trânsito, problemas nas estradas, clima etc. O carro conectado realizará suas atualizações da mesma forma que os smartphones fazem hoje. Por isso os novos carros já são vistos como smartphones sobre rodas!
Carro compartilhado – as novas gerações são altamente aderentes ao uso responsável de recursos, produtos, descarte, entre outras questões ligadas à redução da pegada ambiental. Usar o carro em média 2 horas por dia e deixa-lo estacionado as outras 22 horas restantes já é visto como pouco racional. O avanço do uso do Uber pelos jovens destaca de forma substancial essa força de mercado. Da mesma forma, o trânsito de automóveis ocupados por uma única pessoa nas grandes metrópoles também é visto, no mínimo, como pouco responsável.
Carro elétrico – fortemente amparado pela lei de Moore, onde se define que avanços em determinados mercados tendem a duplicar a capacidade da oferta (em muitos casos diminuindo preços) está o avanço das baterias. As novas tecnologias das baterias veiculares (maior capacidade de armazenamento, diminuição do peso e diminuição de preços) têm acelerado sua adoção, tanto que a previsão é que até 2035 os Estados Unidos reduzam de 88% para 2% a participação de carros movidos a gasolina.
Carro autônomo – em constante evolução, essa força já se provou muito relevante, segura e presente em muitos carros de elevado valor. Cada vez mais essa funcionalidade estará presente em carros mais acessíveis, representando uma revolução nos mercados de seguros, de reparos, gasto de componentes, economia de combustível e/ou energia, entre outros. Apesar de algumas notícias pontuais de acidentes e incidentes, a direção autônoma já é substancialmente mais confiável que a humana.
Carros amigos do meio ambiente – na mesma linha do carro compartilhado em relação aos valores e exigências das novas gerações, o mercado não aceitará mais produtos ou marcas que não tenham uma forte responsabilidade social e ambiental. Cada vez mais o discurso deverá se integrar com a prática, tornando mandatório às montadoras, concessionárias, fábricas de componentes e toda a cadeia automotiva essa premissa à sua continuidade.
Carros inteligentes – claramente um desdobramento do carro conectado, os novos veículos não só se conectarão com múltiplas fontes de dados, como se utilizarão desses dados convertidos em algoritmos cada vez mais precisos. Isso vai permitir que os veículos sejam utilizados de forma plena em termos de eficiência energética, tenham usos otimizados em diferentes terrenos, e principalmente, se adequem a cada usuário a fim de alcançar a máxima satisfação por meio do uso da tecnologia de machine learning.
Vendas online – como já ocorre em alguns setores do varejo, a praticidade, pluralidade e conveniência do e-commerce, somadas ao comportamento das novas gerações, forçarão as marcas a oferecerem uma política efetiva de vendas online e não somente uma vitrine digital. Vale destacar que já existem iniciativas de outros setores que não só emulam o varejo tradicional, como ampliam positivamente a experiência de compra.
Toda essa evolução vem sendo orquestrada com a cadeia automotiva, pois não será efetiva se não incluir fabricantes de autopeças, oficinas, concessionários, locadoras, entre outros. É algo que deve movimentar todo o mercado nos próximos anos, beneficiando aqueles que saírem na frente. (Portal da Autopeças/Eder Polizei, doutor e mestre em Administração pela FEA/USP e diretor da agência Seven7th para o setor automotivo)