Portal da Autopeças-Sincopeças/Balcão Automotivo
A indústria automotiva ainda passa por desafios relevantes. E como tudo está sempre interligado, é o consumidor que, no fim de toda a cadeia, acaba sentindo os reflexos no bolso com maior impacto. Só que, pela primeira vez desde o início da pandemia, a situação promete arrefecer, especialmente no mercado dos carros usados.
Na última coletiva de imprensa da Anfavea, que aconteceu na sexta-feira (6), o presidente Márcio de Lima Leite expôs grande preocupação da indústria acerca do aumento de impostos (entre eles, o ICMS), já decretados por 12 estados. Isso afeta diretamente os preços dos automóveis, das peças, e o quanto sobra no fim do mês.
Só que nos EUA, a consultoria de investimentos do banco J.P. Morgan fez um relatório que afirma que os preços dos carros usados devem cair entre 10% e 20% em 2023. Mas e quanto ao Brasil? Apesar dos pesares, temos esperanças como os norte-americanos?
Ainda que o cenário se mantenha desafiador, tanto no âmbito econômico, quanto no fiscal e na retomada da oferta de componentes (como chips e semicondutores), especialistas defendem uma inflexão. Ou seja, os preços vão, agora, mirar para baixo.
Vale lembrar que a variação de preços dos carros usados costuma ser mais agressiva do que a que ocorre entre os zero km. Sendo assim, quando os novos encarecem, os usados aumentam ainda mais os preços, proporcionalmente. Quando as fabricantes descontam preços, a tendência é dos seminovos descontarem ainda mais em valores percentuais.
“Com a estabilização dos preços dos carros zero km, veremos, sim, redução de preços dos automóveis usados. Em termos de preço, ainda que os usados não voltem aos patamares pré-pandemia, deverá devolver boa parte da alta de 2021-2022 e os automóveis novos tendem a ficar com preços estabilizados mesmo com a queda de preços de alguns insumos” Márcio Macedo, diretor da Vera Cruz Investimentos.
“Se o novo governo não criar muito estresse, veremos uma alta de 5-10% na venda de automóveis novos, pois ainda temos uma demanda reprimida de alguns modelos e o patamar de vendas ainda está 20% abaixo de 2019, pré COVID. Com mais carros no mercado, haverá mais oferta ante demanda. Isso derruba os preços”, completou.
Outros pontos a se considerar, conforme o especialista:
- Após a eclosão da pandemia, a taxa de juros saiu de 2% para 13,75% em pouco mais de dois anos.
- Parte relevante das vendas (cerca de 35%) são financiadas e o custo das parcelas ficam mais caras.
- Para 2023 a expectativa é, na melhor das hipóteses, uma leve queda da taxa no segundo semestre.
- Do lado dos insumos, o frete já voltou ao normal.
- Ainda que haja alguma pressão, como a tentativa das siderúrgicas de subir o aço em 10% neste início de 2023, o preço das commodities devolveu parte da alta no segundo semestre de 2022.
- E do lado da oferta de chips, houve melhora e a tendência é de normalização em 2023.
Só que nos EUA, a consultoria de investimentos do banco J.P. Morgan fez um relatório que afirma que os preços dos carros usados devem cair entre 10% e 20% em 2023. Mas e quanto ao Brasil? Apesar dos pesares, temos esperanças como os norteamericana.
O quanto que vão baratear?
Ante as análises mais amplas da economia, o setor automotivo tem particularidades. Com isso, dentro do setor, a realidade sofre adequações que, por sua vez, vão se refletir quando chega a hora do consumidor comprar seu carro. Por isso, o UOL Carros também coletou as análises de especialistas do setor automotivo. Além de concordarem que os preços poderão recuar, também adicionam informações importantes.
“Uma análise que se faz é a proporção de carros usados vendidos para cada um carro novo. Quando o mercado está desaquecido, observa-se cerca de 5,3 usados para 1 novo. Como os estoques das montadoras estão mais cheios agora do que nos anos anteriores (o que vai aliviar a pressão sobre os preços), a proporção tende a se aproximar de 5:1. Diante disso, acredito que veremos descontos na ordem de 5% nos classificados, sem levar em conta a inflação” Cassio Pagliarini, sócio-consultor da Bright Consulting.”
Ainda segundo o especialista, também vale analisarmos sob outro ângulo. Cassio diz que o preço base anunciado pelas marcas para o carro zero km é apenas uma sugestão oficial. Por outro lado, a situação muda no chão de loja. As equipes de varejo aplicam o chamado “preço de transação”, para se adequarem a outras variáveis, como o da renovação dos estoques, por exemplo. “Levando em conta o que dissemos e que os estoques dos carros novos estão mais abastecidos, devemos observar aumento da realização de campanhas compram usados acima da Fipe na aquisição do zero km, ou até mesmo da oferta de itens de versões mais refinadas sem custo adicional. Os juros estão muito altos, logo, os varejistas sabem que oferecer redução das taxas acaba não representando tanta vantagem para o consumidor”, conclui.
O que mais está na pauta de 2023 Durante a coletiva da Anfavea, o presidente da entidade também destacou a necessidade de reindustrialização do país. “Se nós quisermos voltar a ser um mercado forte, uma indústria forte para o país, precisamos trabalhar na reindustrialização e fortalecimento da cadeia de suprimentos”, disse. Outro ponto defendido serão as discussões sobre descarbonização. A associação entende que esse processo, seja em eletrificação, biocombustíveis ou gás, precisa ter a indústria como protagonista. Sempre acompanhado de redução dos custos de produção e comercialização, redução do custo tributário, mobilidade, investimentos em infraestrutura e pesquisa/desenvolvimento. (Portal da Autopeças-Sincopeças/Balcão Automotivo)