AutoIndústria
Há exatamente um ano, Anfavea e Fenabrave definiam a projeção para 2022 como uma das mais difíceis da história. Por causa da falta de produtos decorrente da escassez de semicondutores, que perdurou com maior força até meados do ano, argumentava-se que as estimativas levariam em conta a oferta e não a demanda, como normalmente ocorre.
O quadro mudou neste início de 2023, com a clareza de que as dificuldades para obtenção de crédito e o aumento no preço dos veículos acima da inflação estão afugentando os consumidores brasileiros das concessionárias. Tanto é que no ano passado as vendas diretas dominaram mais da metade dos negócios do setor e Fenabrave e Anfavea estão sendo bem conservadoras em suas projeções para este ano.
A primeira estimando repetir o mesmo volume de emplacamentos de 2022 – 2,1 milhões de veículos – e a segunda projetando crescimento inexpressivo de 3% no cômputo total do mercado, incluindo carros, comerciais leves, pesados e ônibus.
Enquanto a entidade dos concessionários preferiu não separar as estimativas para os segmentos de leves e pesados, a Anfavea, que representa as montadoras, projeta alta de 4,2% nas vendas de automóveis, picapes e furgões – de 1,96 milhão para 2,04 milhões – e queda de 11,1% nas de pesados, de 144 mil para 128 mil unidades. Nesse caso, o recuo ocorrerá pela introdução da tecnologia Euro 5 este ano, que encareceu o preço dos caminhões em cerca de 25%.
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, 6, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, admitiu que o oferta de veículos vem se normalizando. A perda de produção de 2022, estimada em 250 mil veículos, concentrou-se na primeira metade do ano.
“Pode ter uma ou outra montadora com carteira de pedidos fechada para um ou dois meses, mas a maioria já está com produtos para pronta entrega”, informou Leite.
Na sua avaliação, a questão do crédito é o tema mais urgente a ser atacado dentre todos os itens da agenda prioritária que a Anfavea entregou ao governo federal. “Precisamos de juros mais baixos para atrair mais compradores para os veículos novos, sobretudo os modelos de entrada”, comentou.
O executivo comentou sobre o IOF, Imposto sobre Operações Financeiras, que é cobrado duplamente no setor: “A concessionária paga quando financia sua compra e o consumidor também”. Lembrou que hoje as vendas à vista respondem por 70% dos negócios com carros novos, índice que era de 30% anteriormente. “O quadro inverteu-se e isso não faz sentido. No mundo inteiro as compras financiadas predominam em nosso setor”.
Dezembro, como é tradicional, teve o maior volume de emplacamentos do ano – 216,9 mil unidades -, superando em 4,8% o mesmo mês de 2021. O acumulado chegou a 2,104 milhões de veículos, apenas 0,7% abaixo do acumulado de 2021, confirmando o quadro de estabilidade que já era previsto pela Anfavea desde a metade do ano, quando a entidade revisou projeção inicial de crescimento para 2022. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)