Em novo plano de negócios, Petrobras aumenta fatia para biocombustíveis

O Estado de S. Paulo

 

A Petrobras divulgou ontem o seu plano estratégico para o período 2023-2027, que trouxe, às vésperas da mudança de governo, o primeiro investimento significativo da empresa na produção de biocombustíveis no País. Do total de US$ 78 bilhões anunciados para o quinquênio – 15% a mais do que no período anterior (2022-2026) –, US$ 600 milhões serão direcionados para programa de biorrefino.

 

A maior parte desse valor será investida na construção de uma biorrefinaria em Cubatão (SP), no mesmo local da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), com previsão de início de operação em 2028, informou a estatal ao Broadcast/estadão. O valor preciso não foi divulgado para não atrapalhar as licitações para construção da unidade, ainda segundo a Petrobras.

 

A nova unidade vai nascer com capacidade para produzir 6 mil barris por dia de querosene de aviação e 6 mil barris de diesel 100% renovável, a partir do processamento de até 790 mil toneladas/ano de matéria-prima renovável. A unidade produzirá também nafta verde, produto de interesse do segmento petroquímico para produção de plásticos renováveis.

 

“Além da planta dedicada de biorrefino, vamos investir no coprocessamento de diesel com conteúdo renovável em outras refinarias e na produção de outros derivados com matéria-prima vegetal”, disse o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa.

 

Pelo plano divulgado ontem, o segmento de Exploração e Produção contínua liderando os investimentos da empresa, ficando com 82% do total, ou US$ 64 bilhões. O foco também continuará sendo a produção na região do pré-sal, que ficará com 67% desse montante, ou US$ 43 bilhões.

 

A expectativa com o novo plano impulsionou o preço das ações da estatal na Bolsa, que vinham caindo junto com o preço do petróleo e o temor com mudanças na remuneração dos acionistas a partir da troca de gestão. Durante o governo Bolsonaro, a empresa distribuiu os maiores dividendos de sua história. Só neste ano, os acionistas, entre eles a União, vão receber quase R$ 180 bilhões. No fechamento, os papéis preferenciais da empresa registraram alta de 5,04%, cotados a R$ 26,66.

 

Novo governo

 

Em plena transição de governo, o plano deverá ser revisto pela nova equipe, que pediu sem sucesso o adiamento da divulgação à atual direção da petroleira, já que será a nova gestão que terá de executar as diretrizes. De acordo com o coordenador do Grupo de Trabalho de Minas e Energia da transição de governo, Maurício Tolmasquim, a nova presidência da Petrobras vai analisar o plano e ver se está de acordo com sua visão para a empresa.

 

“Houve um trabalho para esse plano, e é natural que a diretoria atual queira divulgar. Mas também é natural que o novo governo queira mudar. Se o plano não estiver de acordo, tem de ser mexido”, disse ele, que foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

 

Apesar de maior foco em geração de energia mais limpa, o plano não deixou de lado a exploração de novas reservas, papel que será desempenhado pela Margem Equatorial, à qual serão reservados US$ 3 bilhões – ou a metade de todo o investimento previsto para a atividade exploratória da Petrobras no período. A região reúne bacias que, no Brasil, vão do litoral do Amapá ao do Rio Grande do Norte, mas também entram pelo território de países vizinhos, como a Guiana. Lá, a exploração e produção já acontece a todo vapor, liderada pela petroleira americana Exxonmobil.

 

“A continuidade de uma empresa de petróleo tem a ver com exploração e novas descobertas. A Margem Equatorial é o dia seguinte do desenvolvimento pleno do pré-sal. Precisamos ter o que vem a seguir, e o que vem a seguir é a Margem Equatorial”, disse Magda Chambriard, também integrante do grupo de transição e uma das cotadas para a presidência da estatal, ao lado do senador Jean-paul Prates (PT-RN). (O Estado de S. Paulo/Denise Luna e Gabriel Vasconcelos)