Jornal do Carro
Assim como como aconteceu no Brasil, os preços dos carros usados dispararam nos Estados Unidos durante a pandemia da Covid-19. Por lá, o aumento foi de praticamente 42,5% em pouco mais de dois anos. No entanto, esses números podem estar prestes a mudar. De acordo com um relatório do J.P. Morgan Research, os valores dos veículos usados atingiram o pico máximo no início de 2022 e podem cair de 10% a 20% em 2023.
O levantamento diz que os preços devem se manter elevados até o final deste ano. Mas é logo no início de 2023 que eles podem reduzir entre 2,5% e 5%. A queda será bem-vinda, afinal, a consultoria observou que o carro 0-km está custando em média US$ 45.622 em setembro deste ano. Ou seja, US$ 3.462 a mais do que o mesmo período do ano passado. Na conversão para o real brasileiro, são R$ 244 mil na cotação do dia, preço de um SUV médio.
É uma situação bem similar ao que está acontecendo no mercado brasileiro, onde o segmento de usados está superaquecido desde 2020. Parte do crescimento veio da alta dos preços dos carros 0km – com produção prejudicada pela crise dos semicondutores. Os novos, inclusive, inflacionaram o mercado também sob influências econômicas, como a disparada do dólar norte-americano.
Para se ter uma ideia, alguns modelos chegaram a ficar até mais caros que exemplares novos. Conforme contamos no Jornal do Carro, em março de 2021, o preço de uma Fiat Strada usada, por exemplo, era 3,37% maior que a picape 0-km. Os números vieram de um estudo da Kelley Blue Book Brasil (KBB).
Juros altos
Segundo o analista de pesquisa de patrimônio automotivo da JP, Ryan Brinkman, metade dos aumentos nos preços dos carros nos EUA está relacionada com o alto custo de insumos e matérias-primas. Assim, os veículos elétricos estão entre os mais atingidos, já que os preços do lítio, níquel e cobalto (que fazem parte das baterias) dispararam significativamente. Por isso, embora possa haver um alívio na indústria no próximo ano, a inflação ainda está presente na cadeia de suprimentos. Além disso, os impactos da crise dos chips também continuam presentes.
Por aqui, o cenário muda um pouco. A expectativa, de fato, é de redução dos preços. No entanto, o mercado permanece muito instável e levará um tempo para se recuperar. Para comparação, em outubro, o Brasil registrou uma queda de 6,7% nas vendas em relação ao mês anterior, de acordo com a Fenabrave. Isso graças aos efeitos dos juros mais altos.
Mas, ao contrário de 2021, as fábricas retomaram os volumes regulares de produção e, dessa forma, reduziram a falta de estoques e o tempo de espera de quem compra um modelo 0-km. Isso reflete diretamente nos preços dos usados, que tendem a cair e se estabilizar.
Outro ponto que também vai contribuir para a redução de preços dos automóveis seminovos é a renovação das frotas de locadoras. Ou seja, isso faz com que os veículos de aluguel – que “pereceram” para as empresas – entrem em oferta nas lojas de seminovos e usados de empresas como Localiza e Movida. Assim, aumenta a oferta e, por sua vez, diminui o preço.
Tudo depende
Seja como for, é uma tarefa difícil prever o futuro, principalmente, por agora. No entanto, para Birkman, “2023 tem maior potencial para uma melhoria mais rápida no ambiente de volume e uma normalização mais rápida nos preços, com o curinga sendo uma desaceleração econômica”. Nesse sentido, a mudança de ano naturalmente já vai reduzir os preços dos carros usados, não só nos EUA, mas também no Brasil. E com a “normalização” da produção e dos estoques de veículos novos, os preços dos seminovos por aqui também tendem a baixar no próximo ano. (Jornal do Carro/Jady Peroni)