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Há pouco mais de um ano, a Volkswagen deixou clara sua estratégia para eletrificação no Brasil por meio do então CEO da marca na América Latina, Pablo de Si: o investimento será em modelos híbridos flex, que dividirão espaço com os 100% a combustão. E quanto aos carros elétricos? A marca tem planos de vendê-los por aqui, mas, a curto e médio prazo, apenas como importados.
E isso é algo que já vem acontecendo com outras marcas. Mesmo o Kwid, carro feito no Brasil, é importado em sua versão elétrica. A Great Wall, que começará em breve a vender um SUV (o importado Haval H6), iniciará a produção de modelos no país em 2024. Toda a linha será eletrificada e há planos de produção de um 100% elétrico. Mas não na primeira fase. A princípio, a escolha é pelos híbridos – a planta será inaugurada com a fabricação de uma picape.
Mas, quando se olha para o segmento de carros de luxo, o cenário é diferente. As marcas premium estão aumentando a participação de modelos elétricos em suas linhas. Eles ainda estão longe de ter grande relevância em vendas, mas ganham espaço e, em alguns casos, já são 50% da gama. Esse é o caso da Volvo. Dos quatro modelos que vende em território nacional, dois são híbridos e dois elétricos.
A BMW é outra que vem aumentando a presença dos carros elétricos em sua linha. Neste ano, lançou o IX, o IX3 e, agora, o i4. Para 2023, estão confirmadas as presenças do IX1, a versão a bateria do X1, e do i7.
O sedã i7 é a configuração elétrica do topo de gama Série 7. Para a nova geração do luxuoso produto, o martelo já foi batido. De acordo com o CEO da BMW da América Latina, Reiner Braun, apenas a versão a bateria do modelo será vendida no Brasil.
i7 e IX1 estão entre os dez lançamentos eletrificados que a BMW fará no mercado brasileiro em 2023. A classificação de eletrificados abrange tanto os carros 100% a bateria quanto os híbridos – que, no caso da marca, combinam propulsor a combustão com elétrico recarregável na tomada.
Expansão nas vendas é o próximo passo
A Mercedes-Benz também ampliou sua oferta de 100% elétricos no país em 2022. Quase de uma só vez, lançou quatro modelos: EQS, EQE, EQB e EQA. Eles se reuniram ao EQC, que já estava no mercado desde meados de 2020.
Com isso, tanto essa montadora quanto a BMW alcançaram a Audi, que até então era a marca que mais havia investido na ampliação de produtos elétricos no país. Com tantas opções, que tendem a crescer nos próximos anos, a expectativa é de que isso se reflita em breve nas vendas.
Para Braun, até 2030 os modelos 100% a eletricidade vão representar 50% do total das vendas de carros premium no mercado brasileiro. “Nós, da BMW, deveremos atingir esse número antes”, afirma.
É uma meta ambiciosa: atualmente, os eletrificados, incluindo 100% elétrico e híbridos, representam 20% do total das vendas da marca. No entanto, esse número vem crescendo nos últimos anos, bem como a demanda por automóveis que tenham algum tipo de eletrificação.
Fábrica no Brasil é grande vantagem
De acordo com Braun, a demanda cresceu tanto que são os modelos híbridos, importados, aqueles os que atualmente geram mais espera na Reiner Braun, CEO da BMW América Latina linha BMW. Como não são montados no Brasil, dependem de estratégias de importação.
Isso não ocorre com os modelos da planta de Araquari (SC) como o Série 3, o carro de luxo mais vendido do Brasil. Segundo Braun, entre outras razões, a fábrica é um dos pilares para a grande vantagem que a BMW tem atualmente na liderança do segmento de modelos premium.
Até outubro, a marca vendeu cerca de 12 mil automóveis no Brasil. Para comparação, a segunda colocada, Audi, tem cerca de 4,5 mil exemplares comercializados no período. A fábrica de Araquari nunca parou por falta de componentes, como os semicondutores, e está conseguindo suprir a demanda do mercado, algo que não ocorre com as outras montadoras.
A Audi havia interrompido sua fabricação em São José dos Pinhais (PR), que foi retomada este ano com a linha Q3. A Land Rover tem números mais discretos – e uma gama menor de produtos, na comparação com a BMW – em sua planta de Itatiaia (RJ). A Mercedes vendeu a unidade de Iracemápolis para a Great Wall, e voltou a ser importadora.
Ao final da conversa exclusiva com a coluna, Braun chamou a atenção para a possibilidade de ter modelos 100% a eletricidade produzidos em Araquari. “Nossa planta está totalmente preparada para a produção de carros elétricos”, disse. Isso é uma meta que faz parte do planejamento da montadora.
Mas tudo depende da demanda. O mercado de modelos elétricos é um nicho no Brasil. Mas, se o planejamento de crescimento de vendas for o esperado, a BMW pode começar sem adaptação nenhuma a produção desses carros em Santa Catarina. Com chances de sair na frente de Great Wall e BYD.
Esta ainda não tem fábrica no Brasil. Porém, já deixou claro que pretende se tornar fabricante. E são cada vez mais fortes os rumores de que estaria prestes a ficar com a fábrica desativada da Ford em Camaçari (BA).
Mais carros a combustão
Entre as principais marcas de luxo do Brasil, a maioria já anunciou que terá linha elétrica no amanhecer da próxima década – ou que, ao menos, pretende fazer esse processo de transformação. As exceções são Porsche e BMW. Ambas já deixaram claro que não terão apenas modelos 100% a bateria em sua linha. Os carros a combustão continuarão sendo parte importante em suas gamas.
A BMW continua trabalhando no desenvolvimento de motores a combustão, principalmente para adequá-los às normas de emissões na Europa, que ficam mais severas praticamente ano a ano. E, para o Brasil, tem diversas novidades desprovidas de eletrificação planejadas.
Para 2023, por exemplo, estão confirmadas as chegadas de duas novas gerações. Uma delas é do SUV X1. Além da versão elétrica IX1, haverá também configurações a combustão. A outra é o M2, esportivo com assinatura da divisão de preparação da montadora, a Motorsport. (UOL Carros/Rafaela Borges)