Diário do Comércio-MG
Se existe uma tendência que virou realidade, ela responde por Sport Utility Vehicle, o famoso SUV. Surfando na mesma onda, o downsize está quase lá. A tecnologia de reduzir o volume cúbico dos motores e utilizar turbocompressores já está presente nas principais montadoras.
Na Renault, o motor turbo 1.3 nasceu da sua aliança com a Nissan e a Mitsubishi, em parceria com a Daimler. Inicialmente, apenas o Captur, seu SUV compacto premium, recebeu este propulsor.
Agora, tanto a picape Oroch, quanto o SUV compacto Duster, ganharam uma versão com esta motorização.
O DC Auto recebeu o Duster Iconic 1.3 TCe flex para avaliação, versão de topo da gama. No site da montadora, seu preço sugerido é de R$ 143,39 mil.
A unidade avaliada tinha pintura metálica na cor bege Dune, que custa R$ 1,65 mil, e o pacote opcional Outsider Pack, no valor de R$ 1,8 mil. Finalizando, R$ 146,84 mil é o preço atualizado do Duster avaliado.
O opcional Outsider Pack acrescenta faróis de longo alcance, os verdadeiros “faróis de milha”, que trabalham exclusivamente em conjunto aos faróis altos. Eles vêm instalados sobre uma espécie de para-choque de impulsão feito em plástico.
Também neste pacote, os protetores plásticos das portas são volumosos e compõe bem com o design robusto do Duster.
No mais, o Duster Iconic turbo não tem outros opcionais. Seus principais equipamentos de série são: ar-condicionado automático; direção elétrica; volante com regulagem de altura e profundidade e revestimento premium; chave-cartão com sensor presencial; central multimídia Easylink 8 polegadas; sistema stop & start; vidros dianteiros e traseiros com função one touch e sistema antiesmagamento; retrovisores externos e barras de teto na cor preta; alargadores de para-lamas; rodas em liga leve diamantadas de 17 polegadas calçadas com pneus 215/60 R17 e revestimento dos bancos em material sintético que imita o couro.
Em segurança, os destaques são: dois airbags frontais; freios ABS; sistema Multiview de câmeras; detector de ponto cego; sensor de estacionamento traseiro; assistente de frenagem de emergência (AFU); controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA); faróis de neblina; acendimento automático dos faróis; alerta de cinto de segurança não afivelado e controlador e limitador de velocidade.
Motor e câmbio
Como aconteceu no Captur 2022, o motor 1.3 TCe é a grande novidade nas linhas Duster e Oroch 2023.
O seu volume total é de 1.332 cm ³ (333 cm ³ por cilindro) e sua taxa de compressão é de 10,5/1. O bloco tem 4 cilindros em linha, cabeçote em formato delta, duplo comando tracionado por corrente e 16 válvulas com variação de abertura na admissão e no escape.
O sistema de injeção direta de combustível tem injetores centrais com seis furos que trabalham sob 250 bar de pressão. Seu turbocompressor atinge pressão máxima de 1.4 bar que é controlada eletronicamente pela válvula wastegate.
Com todo este aparato técnico, seus números são expressivos. Ele atinge a potência de 170/162 cv às 5.500 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente, e seu torque máximo é de 27,5 kgmf às 1.600 rpm, com ambos os combustíveis.
Essa versão do Duster pesa 1.353 kg, resultando em 7,9 kg / cv e 49,2 kg / kgmf. Segundo a Renault, o modelo atinge os 100 km/h em 9,2 segundos e sua velocidade máxima é de 190 km/h.
A caixa de marchas CVT X-Tronic tem uma programação que simula oito velocidades que podem ser comutadas por meio da alavanca do câmbio. O acoplamento é feito por conversor de torque hidráulico, tradicional.
Interior
Também orientado na horizontal, seu interior foi completamente reprojetado. Comparado ao antigo, ele ficou bonito e sofisticado.
Painéis, saídas de ar, multimídia e diversas outras peças são retangulares e apresentam linhas mais paralelas e quinas mais vivas possíveis.
Além deste design limpo e sólido, a construção das peças perdeu a simplicidade de outrora. Os novos botões em forma de teclado, os comandos do ar-condicionado mais robustos e as saídas de ar menos simplificadas elevaram a percepção de qualidade interna, pois apresentam um desenho mais elaborado e materiais de melhor aparência.
Os plásticos continuam rígidos e as partes macias ao toque escassas, porém, as peças estão bem injetadas, seus encaixes mais precisos e não há mais parafusos expostos. Detalhes imitando alumínio e cromados aumentam ainda mais o requinte nas versões mais caras.
Os bancos dianteiros ganharam novos desenhos com assentos mais longos e maior apoio lateral, tanto para as pernas, quanto para as costas. O banco do motorista recebeu ajuste em altura.
Multimídia
Quase todos os equipamentos têm botões físicos, giratórios para as funções principais, de pressão para as secundárias. Apenas o multimídia aboliu essas teclas, sendo operado 100% por toques, o que não é o ideal.
Este sistema da Renault já foi um dos melhores do mercado. Em velocidade de processamento, sensibilidade ao toque, brilho, definição e tamanho da tela ele ainda é bom, porém, a concorrência está melhor. Manter o espelhamento por cabo entrega a sua idade.
O ar-condicionado é ótimo. Equipado com três botões giratórios, ele permite uso cego para velocidade da circulação, regulagem da temperatura e direcionamento do ar na cabine.
Posicionadas entre estes botões, alinhadas em dois níveis, teclas tipo piano acionam as outras funções do sistema, facilmente. Ajustável de meio em meio grau, o equipamento é eficiente em volume da ventilação e manutenção de temperatura.
O tempo para o resfriamento é bom, mas, seria melhor se houvesse saídas de ar traseiras, pois, a cabine é muito volumosa.
No quadro de instrumentos, velocímetro e conta-giros são analógicos e com graduação completa, de 5 em 5 km, e de 100 em 100 rpm, respectivamente, o ideal.
O display digital concentra as outras informações, como o marcador do volume de combustível e a marcha engrenada, por exemplo. Nessa mesa tela, as poucas informações do computador de bordo aparecem individualmente.
Aplicativos no multimídia apresentam estes dados de forma bem mais completa e em conjuntos, compensando essa simplicidade do display.
Tecnologias
Um sistema com quatro câmeras possibilita visualizar imagens ao redor do carro na tela do multimídia. Ele é muito útil em deslocamento por trilhas e em manobras de estacionamento, pois o carro é alto e volumoso.
Os sensores de aproximação também auxiliam nos deslocamentos para trás. Quando a marcha à ré é engatada, a câmera traseira é acionada automaticamente.
Mas, não é desativada ao se posicionar o câmbio em drive, obrigando ao condutor voltar a tela para a home e, em seguida, para o espelhamento do celular, algo confuso e que deveria ser revisto pela Renault.
Chave presencial para a abertura das portas por aproximação, para o fechamento por afastamento e para a partida por botão; sensor crepuscular para acendimento automático dos faróis e alerta luminoso de ponto cego nos retrovisores externos são outras tecnologias que já haviam estreado na linha 2021.
Os três recursos são muito úteis no dia a dia. Destaque para a praticidade da chave presencial e a segurança propiciada pelo alerta de ponto cego.
Por meio de botões no volante é possível operar o controlador de velocidade e atender às ligações. Em um controle satélite de uso cego, o melhor tipo, quase todas as funções do áudio estão disponíveis.
Outra tecnologia oriunda do modelo 2021, a direção elétrica é muito mais leve do que a antiga eletro-hidráulica, existente até 2020.
Este novo sistema garante leveza nas manobras de estacionamento e varia a assistência progressivamente, deixando o peso do volante adequado em todas as velocidades de deslocamento.
Trabalho da suspensão, em diversos pisos, se destaca
Logan, Sandero e Duster têm a mesma origem de projeto. Eles foram desenvolvidos pela montadora romena Dacia, subsidiária da Renault.
Projetados para a Europa Oriental, região com infraestrutura, muitas vezes, similar à do Brasil, a suas suspensões são robustas, adequadas às nossas pavimentações. Por ser um SUV, mais alto do que os outros modelos, a suspensão do Duster é ainda melhor.
Ela absorve os impactos, copiando bem a superfície do solo e emitindo poucos ruídos, todos graves, um misto do trabalho de retorno dos amortecedores com a acústica dos volumosos pneus. Estes são altos, como convém aos SUVs (215/60 R17).
Se direção e suspensão brilham, o encaixe das peças plásticas sobre monobloco merecia maior isolamento. Ao circular por estradas de terra com muitos desníveis e irregularidades no piso, os painéis plásticos, mesmo bem construídos, rangiam nessas condições mais extremas.
Já em estradas bem pavimentadas, o Duster é bem silencioso. Com aerodinâmica aprimorada em relação à antiga geração, o arrasto aerodinâmico ficou um pouco mais contido, assim como o atrito dos pneus quase não invade a cabine, denotando melhoria no isolamento acústico.
Rodando
Mas, o maior ganho veio do novo motor e da reprogramação do câmbio CVT. Circulando por estradas, em velocidade de cruzeiro, a câmbio entrega relações longas e deixa o Duster solto, aproveitando ao máximo o deslocamento por inércia.
Por permitirem aos motores alcançar torque máximo em baixas rotações, no caso deste 1.3 TCe às 1.600 rpm, o uso do turbo mudou a dinâmica dos automóveis atuais.
Se o silêncio ao rodar e a economia de combustível já são uma grande vantagem destes sistemas, o desempenho costuma arrancar sorrisos dos motoristas.
Podemos dizer que o Duster acelera como o Volkswagen T-Cross 1.4 turbo, mais do que o Jeep Renegade turbo flex e menos do que os “irmãos” Peugeot 2008 e Citroën C4 Cactus, seus principais concorrentes com motor turbo acima de 1.0 litro.
Com curso total do acelerador, o motor responde rápido, praticamente sem atraso da turbina. As marchas programadas são esticadas ao limite da rotação de segurança, são cambiadas sem trancos e o Duster acelera mais esportivamente do que a sua altura do solo e acerto para o fora de estrada sugerem.
Contudo, é necessário moderação, principalmente em curvas, pois o alto centro de gravidade do SUV joga contra a aderência dos pneus. Nesses momentos de muita força nas rodas, a inclinação da carroceria alivia o peso sobre uma delas, prejudicando a tração.
Em manobras de ultrapassagem, ou circulando em estradas de areia, por exemplo, este novo conjunto motriz ampliou muito a capacidade dinâmica do Duster, tanto no asfalto quanto fora dele.
Consumo
Além deste ganho, em avaliação por estradas litorâneas, sempre com gasolina, essa versão se mostrou econômica.
Em diversos trechos curtos, entre 30 e 50 km, andando economicamente, o consumo médio foi de 16 km/l.
Nos deslocamentos maiores, em rodovias duplicadas que permitiam a manutenção do ritmo ideal e sem desacelerações provocadas por tráfico, o consumo variou entre 18 e 20 km/l.
Em cidades, circulando por vilas com trânsito intenso, em ruas estreitas, o consumo não foi tão surpreendente. A média foi de 8 km/l, mesmo com o sistema stop/start funcionando na maioria das paradas por excesso de tráfico.
O Duster sempre foi uma boa opção de SUV com visual raiz, com mais cara de “jeep” do que de crossover. Mesmo muito melhorado, desde a linha 2021, faltava um motor mais potente.
Agora, ele tem uma versão para encarar os outros concorrentes com motor turbo existentes no mercado. Caso a Renault estenda essa motorização para versões de entrada, ele ficará ainda mais competitivo. (Diário do Comércio-MG/Amintas Vidal)