Com mercado arredio, empresas usam subsidiárias para levantar capital

O Estado de S. Paulo/Broadcast

 

Ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) de subsidiárias de grandes companhias estão se tornando recorrentes como estratégia de captação de recursos e valorização dos negócios de conglomerados e multinacionais. Conhecida em Wall Street e na Faria Lima como “carve out”, a estratégia foi usada recentemente na abertura de capital da Porsche pela Volkswagen, uma operação de mais de 9 bilhões de euros, apesar do ambiente de volatilidade e crescente aversão ao risco. Entre as latino-americanas, a Natura & Co anunciou que estuda um IPO ou a separação da marca e unidade de negócios de luxo Aesop – e viu a alta de suas ações superar 17% ontem. A Vale também tenta estratégia semelhante com a venda de uma fatia de seu negócio de cobre e níquel, que pode movimentar US$ 2,5 bilhões.

 

Para o chefe do banco de investimento do JPMorgan no Brasil, Pedro Juliano, esse é um movimento interessante que vem sendo feito pelas empresas neste momento de redução de liquidez e pode inspirar companhias brasileiras a buscarem estratégia semelhante. “É mais uma ferramenta que o mercado brasileiro e da América Latina poderia usar para levantar capital e criar valor”, disse Juliano à coluna. Segundo ele, o processo gera ganho de capital para as matrizes e traz à luz um negócio “escondido” na companhia.

 

Abertura de capital da Porsche teve forte demanda

 

No caso da Volkswagen, o valor intrínseco da Porsche, marca de luxo cobiçada pelos investidores do mercado financeiro, não estava refletido na ação da montadora, um dos fatores que estimulou a alemã a abrir o capital da unidade, que teve forte demanda.

 

Na avaliação do chefe do banco de investimento do Citi Brasil, Eduardo Miras, é preciso ter um ativo relativamente grande dentro da companhia, para realmente destravar valor. Ao mesmo tempo, ele diz que uma companhia própria está sendo criada, com sua governança, presidente e gestão – e é preciso ponderar os custos da estratégia e o valor que cada empresa terá. “A unidade de negócios vai passar a ser uma subsidiária.”

 

Ambiente para operações é desafiador

 

Esta semana, a Intel anunciou o IPO da unidade de automóveis autônomos Mobileye. A empresa pretende usar os recursos captados para construir fábricas de chips. Fundada em 1999, a Mobileye tem entre seus clientes as montadoras BMW, Audi e General Motors. Em 2017, foi adquirida pela Intel por US$ 15,3 bilhões. Outro exemplo de “carve out” foi com a seguradora americana AIG, que queria se desfazer de sua subsidiária Corebridge Financial, em um IPO que movimentou US$ 1,68 bilhão em meados de setembro, em Nova York.

 

Com o mercado americano caminhando para um dos piores anos para IPOs em duas décadas, as operações têm encontrado um ambiente desafiador. A Mobileye esperava lançar a operação com a empresa avaliada em US$ 50 bilhões, mas agora busca um valor abaixo de US$ 20 bilhões. No caso da Porsche, a ação saiu com desconto em relação ao papel da Ferrari, sua concorrente mais próxima listada em bolsa. (O Estado de S. Paulo/Broadcast/Cynthia Decloedt e Altamiro Silva Junior)