Dona da Fiat lança negócio global para produção de peças remanufaturadas

O Estado de S. Paulo

 

O grupo Stellantis – que reúne as marcas Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep – anunciou ontem, em Amsterdã (Holanda), sede mundial do grupo, a criação de uma nova unidade de negócios de remanufatura de peças. O grupo passará a recolher componentes usados pelos modelos da marca, fazer reparos, reutilizar o que for possível e reciclar as partes que não puderem ser aproveitadas. O objetivo é expandir sua atuação global na chamada economia circular voltada à descarbonização total de suas operações até 2038.

 

O anúncio oficial da nova unidade será feito amanhã. Segundo a companhia, a remanufatura utiliza 80% menos matérias-primas em relação à produção de peças novas e consome 50% menos energia, além de reduzir as emissões de CO2.

 

Para o consumidor, a vantagem será o acesso a uma peça com qualidade atestada pela fabricante, com garantia de um ano se for instalada em uma das revendas das marcas do grupo e, em média, 40% mais barata do que uma nova.

 

Chamada de SUSTAINERA (Era de Sustentabilidade), a nova unidade nasce globalmente e com filiais no Brasil, Argentina e Chile. Hoje, a remanufatura de componentes já é feita no País por fabricantes de caminhões e de autopeças, além de empresas independentes, e movimenta cerca de R$ 2 bilhões por ano. No segmento de automóveis e comerciais leves, o procedimento feito diretamente por uma montadora é inédito.

 

“Vamos multiplicar esse mercado por cinco, seis vezes até 2025, e queremos ser líderes nessa área”, disse ao Estadão o vice-presidente de Peças e Serviços da Stellantis para América do Sul, Paulo Solti. Com suas quatro marcas, a companhia detém hoje 32,8% das vendas totais de automóveis e comerciais leves no Brasil.

 

Segundo Solti, itens como caixa de câmbio, alternador e compressor já estão disponíveis em cerca de 1 mil revendas do grupo no País. “Estamos trabalhando nesse projeto há cerca de 12 meses, e definimos inicialmente 100 peças e vamos ampliando ao longo do tempo.”

 

O serviço de remanufatura será feito por fornecedores homologados pela marca, mas Solti não descarta ter uma unidade própria no futuro. Na Europa, a Stellantis vai inaugurar em 2023 um complexo para recondicionamento de veículos, desmontagem e remanufatura de peças em Mirafiori, na Itália.

 

Receitas previstas

 

“O desenvolvimento de soluções sustentáveis por meio da economia circular é uma das prioridades globais da Stellantis, que será a líder no setor em mitigação das mudanças climáticas, tornando-se carbono neutro até 2038, com redução de 50% já em 2030”, diz Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul.

 

A empresa espera que o modelo de negócios “do berço ao berço” – que reutiliza todos os componentes dos veículos – deve atingir mais de ¤ 2 bilhões para o grupo até 2030. No Brasil, Solti prevê que o negócio vai representar 5% das vendas totais de autopeças até 2025.

 

Hoje, a companhia tem seis fornecedores homologados para as operações de remanufatura, mas esse número será ampliado gradualmente.

 

A iniciativa, diz Solti, é a primeira do novo selo da empresa, SUSTAINERA, que oferece transparência sobre economia de material e redução de CO2, e representa o compromisso da empresa com soluções de produtos e serviços sustentáveis. “O objetivo é prolongar a vida útil dos veículos e peças, garantindo sua maior durabilidade, e devolver materiais e veículos em fim de vida ao ciclo de fabricação de novos veículos e produtos.”

 

Entre os exemplos citados por ele, está o da remanufatura do câmbio automático, que reduz em 80% o uso de materiais comparado à produção de um equipamento novo, o que equivale em 76% de corte na emissão de CO2. Para o alternador, as reduções são de 84% e 32%, respectivamente, e, para um turbocompressor, de 81% e 40%. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)