Vale inicia processo de venda de fatia de operação de níquel de olho na demanda por baterias

O Estado de S. Paulo

 

Mineradora já contratou o banco Goldman Sachs e escalou advogados para ajudar a vender fatia minoritária em sua unidade de metais básicos: objetivo é fortalecer o negócio com novo sócio

 

Conhecida por ser uma das maiores fabricantes de minério de ferro do mundo, seu produto carro-chefe, a brasileira Vale quer agora dar tração à sua unidade de metais básicos, de olho no potencial da demanda por cobre e níquel, essenciais para a produção de baterias. Para isso, já contratou o banco de investimento americano Goldman Sachs para analisar possíveis alternativas para dar agilidade ao negócio, incluindo a venda de uma fatia minoritária. A ideia, segundo fontes, é ganhar fôlego com um novo sócio sem abrir mão do controle do negócio.

 

Hoje, a Vale confirmou que segue a avaliar alternativas “para destravar valor de longo prazo a seus acionistas” e que, por isso, contratou assessores para ajudá-la a conduzir o processo de venda de parte do ativo. O comunicado veio em resposta a matéria do jornal britânico Financial Times, que noticiou primeiro a contratação do banco. O jornal citou que a intenção da empresa brasileira é vender uma fatia de US$ 2,5 bilhões e já teria dado um prazo para que as primeiras ofertas sejam postas no início de novembro.

 

O interesse da mineradora é aproveitar o grande interesse e demanda por baterias em um momento em que o assunto na mesa é a transição energética, principalmente no setor automotivo, que no momento vive uma corrida para saber qual montadora vai conseguir colocar no mercado uma opção viável em grande escala. Além do Goldman Sachs, único banco contratado até aqui, a Vale já escalou advogados na busca dos interessados no negócio, conforme fonte.

 

Negócio secundário, mas com potencial

 

A busca de um investidor para a unidade de metais básicos da Vale faz parte de uma reorganização do negócio já anunciada pela empresa, no mês passado e que já tem o aval do conselho de administração. A empresa citou que o processo visava a dar mais eficiência nos processos e na gestão do negócio.

 

Esse assunto não é novo. A empresa já tinha aventado, anos atrás, uma cisão do negócio e a possibilidade de realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no exterior.

 

Mais recentemente, com a demanda por cobre e níquel se consolidando, a Vale já tinha aberto sua missão de fortalecer a área. Para 2028, a companhia espera alcançar um volume produzido de 300 mil toneladas de níquel e, para cobre, estima cerca de 900 mil toneladas.

 

Mercado em ebulição

 

A estratégia da Vale está ancorada em um mercado em pleno processo de expansão. Uma pesquisa recente da consultoria AlixPartners apontou que as vendas de carros elétricos podem chegar a uma participação do mercado global do setor automotivo de 33%, em 2028, para 54%, em 2035. No ano passado essa fatia foi de 8%, globalmente.

 

A Tesla, lembra o Financial Times, assinou este ano um acordo de compra com a Vale para o níquel produzido no Canadá, um sinal de como a montadora está trabalhando para proteger as cadeias de suprimentos de matérias-primas fora da China. O jornal afirma que a Vale também estaria discutindo contratos de longo prazo com outras empresas, incluindo Ford, GM e Volkswagen.

 

A empresa tem sido enfática sobre o potencial da área a seus acionistas. Em teleconferência recente, o presidente da companhia Eduardo Bartolomeo, destacou que estava confiante na expansão na área, mas reconheceu que havia desafios a serem superados. ” Acreditamos que metais básicos têm uma melhor condição no futuro. Frisou, na ocasião, que a companhia tem o melhor ativo e as melhores reservas. “Nada mudou, precisamos primeiro de executar, depois crescer e depois se estruturar e então buscar as oportunidades de capital.”

 

Em relatório, o Citi afirmou que a área de metais básicos da Vale é “uma joia em potencial” e reiteraram que não há, no mundo, um conjunto de ativos como o da empresa brasileira, que reúne no mesmo guarda-chuva níquel e cobre. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Guimarães e Beth Moreira)