Vendas de bens duráveis ficam 9,13% abaixo do nível pré-pandemia, diz FGV

O Estado de S. Paulo

 

As vendas de bens duráveis encerraram o segundo trimestre 9,13% abaixo do nível registrado em fevereiro de 2020, antes da pandemia, segundo os dados desagregados do Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

A elevação dos juros, a pressão inflacionária e os altos patamares de endividamento e inadimplência das famílias estão entre os fatores que explicam a queda no setor.

 

“Você tem uma influência muito forte que é a inflação, e outra muito forte que é a taxa de juros. A taxa de juros está muito alta, e bem durável você compra financiado. Além disso, o preço tem subido”, afirma Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE/FGV).

 

Guerra

 

Considera lembra que a indústria brasileira de bens de consumo duráveis foi prejudicada pela escassez e pelo encarecimento de insumos, por problemas logísticos provocados pela pandemia e, posteriormente, pela guerra na Ucrânia. A falta de microchips chegou a paralisar a linha de produção de montadoras de automóveis e de fabricantes de eletroeletrônicos.

 

O consumo de bens industriais no Brasil, que considera tanto os produtos nacionais quanto os importados, acumulou uma queda de 3,1% de janeiro a junho, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Entre as categorias de uso, o resultado de bens de consumo duráveis foi o mais negativo no período, com recuo de 8,0% no primeiro semestre, apontou o Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens Industriais.

 

“A linha de produção de bens duráveis está começando a se recompor, mas a taxa de juros continua alta, e ainda vai continuar aumentando. Então, o consumo desses bens ainda vai permanecer em queda por um período”, previu o pesquisador, acrescentando que, no primeiro ano da pandemia, houve um aumento na aquisição de bens duráveis por pessoas que conseguiram fazer uma poupança forçada durante o período de distanciamento social.

 

“Agora, a prioridade é o consumo de serviços, porque é algo que as pessoas não faziam havia muito tempo”, acrescentou Considera.

 

A última divulgação da Sondagem do Consumidor, apurada pelo IBRE/FGV, corrobora a análise do pesquisador. O quesito que mede o ímpeto do consumidor para a compra de bens duráveis recuou 2,9 pontos em julho ante junho, para 67,7 pontos, permanecendo ainda abaixo dos níveis prépandemia. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)