Com ótimos números, mercado de motopeças vive franca expansão

Portal da Autopeças

 

O segmento de motocicletas está bastante aquecido e, consequentemente, o de motopeças. Em pouco mais de dez anos, a frota de motocicletas teve um crescimento de 65,5%, passando de 18,4 milhões de unidades, em 2011, para uma frota atual estimada em 30,5 milhões, segundo a Abraciclo. Somente no primeiro quadrimestre deste ano, foram 382.380 unidades emplacadas, ante 300.098, em 2021, e 282.575 unidades, em 2020.

 

“Diante disso, nossa estimativa é produzir 1,29 milhão de unidades em 2022, o que representa aumento de 7,9% na comparação com o ano passado. Já em relação às vendas no varejo, a perspectiva é chegar a 1,23 milhão de unidades, o que corresponde a uma alta de 6,4% em relação a 2021”, afirma o diretor Executivo da Abraciclo, Paulo Takeuchi.

 

Ele conta que a procura pelas motocicletas cresceu muito durante a pandemia, com o crescimento dos serviços de entrega e o maior uso nos deslocamentos urbanos para evitar a aglomeração do transporte público. “A motocicleta é um veículo ágil, econômico, com preço acessível e com baixo custo de manutenção”, destaca, acrescentando que o aumento dos preços dos combustíveis também pode favorecer o mercado de motocicletas, por ser um veículo com preço mais acessível e de baixo custo de manutenção.

 

Sobre o índice de nacionalização de peças, Takeuchi informa que o processo produtivo é verticalizado e a maioria das peças foi nacionalizada, o que reduz a dependência de fornecedores externos. “Hoje, o índice de nacionalização de peças das fabricantes de motocicletas localizadas no Polo Industrial de Manaus (PIM) está em 58,2%”, especifica.

 

Consolidação

 

Flavio Portela, diretor de Vendas e de Comunicação Corporativa na SK Automotive, diz que o mercado de motopeças é absolutamente consolidado e que, durante a pandemia, as vendas aumentaram consideravelmente pelo aumento das entregas (delivery). Porém, no final do ano 2020, nos meses de outubro e novembro, houve uma desaceleração por falta de peças, pela crise de desabastecimento provocado pelo efeito da pandemia.

 

“A retomada começou novamente em meados de 2021. De lá para cá, meio que foram regularizando as entregas, a logística internacional. Porém, até hoje sofremos com oscilações. Muitas comodities para a linha de motopeças vêm da China e o lockdown que eles tiveram lá foi muito pesado. Em contrapartida, as vendas de motocicletas tendem a crescer muito devido ao valor do carro zero quilômetro e pela escassez de matéria-prima e de componentes, a produção das montadoras tem sido voltada para veículos de maior valor agregado”, diz.

 

Segundo Portela, as montadoras não estão produzindo mais veículos populares, o que está causando um desbalanceamento do mercado somado à crise mundial de combustível. “Com isso, a corrida por motos é grande, não só para trabalho, mas também para lazer. Tanto que hoje, a cada 10 financiamentos de motos, somente 3 são aprovados. Há a limitação de crédito e as taxas estão muito elevadas”.

 

Ele comenta que a venda de uma moto 0 KM movimenta duas usadas, em automóvel, a proporção é de um para cinco. “Isso quer dizer que a venda da moto nova está muito grande, ela retomou com muita força e neste ano devemos chegar próximos a 1,4 milhão de unidades vendidas, o que será uma grande representatividade para um segmento que está em rápida transformação, inclusive com a entrada das motos elétricas”.

 

O que, de acordo com Portela, é uma tendência. “Existe uma virada de chave muito forte para o segmento de motos elétricas. As vendas cresceram quase 1000% entre janeiro e maio deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, mas ainda elas representam 0,5% do faturamento das motos convencionais no Brasil. Tem muito espaço para crescer e Manaus começa a retomar toda a indústria de moto, puxando a veia dessa indústria”.

 

Pelos dados da Fenabrave, no período acima citado por Portela, foram 3.062 motos elétricas emplacadas no acumulado de 2022. Entre janeiro e maio de 2021, o número ficou em 313 unidades. Na frota total de motos, as elétricas respondem por 0,59% dos emplacamentos.

 

Fundador da Auto Norte Distribuidora, Carlos Eduardo Monteiro de Almeida, o Cacai, conta que eles têm um mix muito bom e que acreditam muito no segmento de motopeças. “Desde o início da pandemia, o nosso faturamento cresceu exponencialmente nesse segmento. Agora com a alta da gasolina, nós acreditamos que crescerá ainda mais, não só pelo uso de motos para entregas, mas também para uso pessoal”.

 

Sobre planos de expansão na linha de motopeças, Cacai diz que eles sempre estão buscando aumentar o portfólio e novos fornecedores. Em relação às principais oportunidades, “a crescente procura por compras online e o aumento do uso de motos para locomoção no dia a dia são as principais no segmento de motopeças”.

 

Fabricantes

 

O novo presidente do Sindipeças e da Abipeças, Cláudio Sahad, informa que a crescente produção de motocicletas tem sido benéfica para empresas que produzem motopeças e está contido na previsão de crescimento nominal do faturamento. No entanto, os levantamentos estatísticos do Sindipeças são globais e consolidados, sem segmentação por tipo de veículo.

 

Entre os associados da entidade, 120 produzem itens para o segmento de motocicletas. Posto que somente no primeiro quadrimestre deste ano foram emplacadas 382,5 mil motos, volume 27,4% maior do que no mesmo período de 2021 e o melhor resultado em sete anos. Sahad comenta que, sem dúvida, o setor está vendo esse segmento como um grande nicho de negócio. “Em 2021, a frota circulante de motocicletas era de cerca de 12,9 milhões de unidades, quantidade semelhante à do ano anterior. Quando à idade média, subiu de 8 anos e 4 meses em 2020 para 8 anos e 5 meses”.

 

Mercado

 

Ranieri Leitão, presidente do Sincopeças Brasil e do Sistema Sincopeças Assopeças Assomotos, SSA do Estado do Ceará, informa que o segmento de motocicletas é um dos que mais crescem no País. “O mercado de motopeças tem um grande potencial, pelo aumento do preço dos combustíveis e a pandemia influenciou bastante o crescimento do delivery e as empresas a utilizarem motos para essa finalidade. É uma tendência que não volta mais e o que a gente vê são distribuidores de autopeças optando também por venderem motopeças. Mas no varejo os dois segmentos são bem distintos”.

 

O segmento é tão promissor que inclusive o SSA realizou a 1ª Edição do AUTOP Duas Rodas, entre os dias 9 e 11 de junho, na cidade de Quixadá (CE). “A feira surpreendeu, principalmente pelo volume de negócios alcançados. Participaram oito distribuidores de motopeças, que tiveram a parceria de mais de 50 fábricas, e o público bem seleto, totalmente focado no segmento”, afirma Leitão. Também na feira foram sorteados R$ 30 mil que foram revertidos em peças para os expositores (distribuidores).

 

Heber Carvalho, presidente do Sincopeças-SP, conta que o comércio de motocicletas teve um crescimento considerável tanto na fabricação quanto na comercialização, principalmente na categoria de menores cilindradas. “Esse crescimento foi em função das alterações de trabalho (entregas rápidas/vendas online). Entre outros fatores também estão o aumento de preço do combustível e o baixo custo para manutenção desse tipo de veículo. Com isso, acredito que haverá crescimento da comercialização de motocicletas para o segundo semestre e, consequentemente, na demanda de peças para manutenção”.

 

Sobre abertura de lojas, Carvalho diz que ela vem aumentando. “Tanto de lojas de motocicletas novas e usadas, bem como a de comercialização de peças para motocicletas teve um aumento. Isso por conta da procura de motos novas e usadas, e das partes e peças para manutenção da frota que tem aumentado significativamente”. E que a queda na fabricação e venda de automóveis novos também impactou positivamente na comercialização das motocicletas.

 

“Haja vista que é um veículo que oferece baixo custo de manutenção, economia de combustível e facilidade na locomoção. Consequentemente, vai gerar muita demanda para a reposição e sem dúvida é um potencial mercado para o comércio”. Por outro lado, a falta de peças afetou também o mercado de motocicletas. “Por falta de componentes eletrônicos, alguns modelos não tiveram sua fabricação totalmente liberada, mas a maioria dos modelos e marcas já está se adequando e ajustando à comercialização”.

 

Para o segundo semestre, Carvalho diz que as expectativas são de crescimento tanto na fabricação como na comercialização de motopeças. “Os motivos são evidentes. E imprevisível ter uma certeza de que a falta de peças (principalmente componentes eletrônicos) possa continuar afetando a indústria de motocicletas. Porém, o mercado está se ajustando para solucionar este problema e a tendência é de excelentes negócios para a comercialização de motopeças”.

 

Na ponta, o presidente do Sindirepa-SP, Antonio Fiola, informa que o aumento da frota, que dobrou de 2011 a 2021, fomentou o negócio para o setor, mas faz uma ponderação. “Existe um dado importante por causa da informalidade que é muito grande, principalmente em São Paulo”, e que o número de empresas voltadas para o segmento de motos aumentou. “Principalmente com o crescimento do serviço de delivery”, destaca.

 

Para finalizar, Fiola avalia que motopeças é um mercado em evolução e que mostra potencial de crescimento. “O segmento de motos deve permanecer em alta e trazer bons negócios para o setor tanto reparação como no comércio de peças”. (Portal da Autopeças)