Queda de preços do petróleo desafia previsões

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no fim de fevereiro, especialistas em energia calcularam que o barril do petróleo poderia chegar a US$ 200, valor que levaria os gastos com envios e transporte de mercadorias para a estratosfera e deixaria a economia global de joelhos.

 

Agora, os preços do petróleo estão mais baixos do que quando a guerra começou tendo caído mais de 30% em apenas dois meses. Na segunda-feira, as notícias de uma desaceleração na economia da China e uma redução nas taxas de juros chinesas fizeram o preço cair para menos de US$ 90 o barril.

 

Os preços da gasolina caíram todos os dias nas últimas nove semanas, e os preços do combustível de aviação e do diesel também estão em queda.

 

No entanto, seria prematuro comemorar. Os preços da energia podem aumentar bastante com a mesma facilidade que podem despencar.

 

A China, onde os lockdowns para combater a covid19 continuam comuns, acabará por reabrir suas cidades para mais comércio e tráfego, aumentando a demanda pela commodity.

 

As retiradas de petróleo da reserva estratégica dos Estados Unidos vão chegar ao fim em novembro, e o estoque precisará ser reabastecido. E um único acontecimento inesperado poderia fazer os preços dos combustíveis dispararem.

 

“Os preços do petróleo sempre têm a capacidade de surpreender”, disse Daniel Yergin, historiador especializado no setor de energia e autor do livro The New Map: Energy, Climate and the Clash of Nations (O Novo Mapa: Energia, Clima e o Duelo de Nações, em tradução livre).

 

Os preços podem diminuir ainda mais se o Irã concordar com um novo projeto de acordo nuclear depois de voltar atrás na exigência de que o Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica fosse retirado da lista de terroristas dos EUA, abrindo uma possível torneira para pelo menos 1 milhão de barris a mais por dia de exportações iranianas de petróleo.

 

Além disso, a perspectiva de um aumento contínuo nas taxas de juros faz com que muitos investidores e economistas prevejam uma recessão – e uma redução na demanda.

 

Variáveis

 

Prever os preços da energia sempre foi uma atividade inútil porque há muitos fatores, inclusive as expectativas dos traders que compram e vendem combustível, as fortunas políticas de países produtores instáveis, como Venezuela, Nigéria e Líbia, e as decisões de investimento de executivos de empresas petrolíferas.

 

A guerra na Ucrânia continua sendo uma variável importante nas perspectivas da oferta mundial, pois a Rússia costuma fornecer 10% do mercado global de 100 milhões de barris por dia. Desde a invasão da Ucrânia, as exportações diárias russas diminuíram cerca de 580 mil barris. A expectativa é de que as sanções europeias ao petróleo russo aumentem até fevereiro, reduzindo as exportações diárias russas em mais 600 mil barris.

 

Outro fator tem sido a demanda relativamente fraca nos EUA. A temporada de viagens de carro entre o fim de maio e início de setembro normalmente aumenta o consumo em 400 mil barris por dia. Mas até agora a demanda por gasolina continuou estável em relação às médias de abril, de acordo com a pesquisa do J. P. Morgan Commodities. (O Estado de S. Paulo/The New YorkTimes/Clifford Krauss, tradução de Romina Cácia)