O Estado de S. Paulo
Em apenas dois meses, as cotações do petróleo despencaram dos quase US$ 120 por barril para US$ 94 no fechamento do mercado desta quinta-feira. Uma queda de quase 20%. Dependendo de quanto ainda vier a ser esse tombo, o impacto sobre a inflação do mundo e do Brasil poderá ser relevante.
Quatro são os fatores responsáveis por essa baixa. O primeiro deles é a perspectiva de recessão da economia dos países líderes. Estados Unidos e Europa começaram o contra-ataque à inflação, de 9,1% e 8,6% em 12 meses, respectivamente, tal como contabilizada em junho. Os grandes bancos centrais trataram de puxar pelos juros de maneira a restringir a demanda. E, de quebra, os governos trabalharam na direção da regularização da oferta de petróleo e de alimentos, os principais itens que pesam sobre a inflação.
O segundo fator é a existência de estoques altos demais, formados pelos governos e setor produtivo privado para assegurar a segurança energética.
Terceiro fator: diante dos cortes no fornecimento de gás pela Rússia, como reação às sanções pela guerra na Ucrânia, os governos da União Europeia trataram de reequacionar a oferta de energia por outros meios. A Alemanha, por exemplo, prepara o prolongamento do funcionamento de suas usinas nucleares que deveriam ser desativadas ainda neste ano. E tem mais o efeito do calor tórrido deste verão na Europa. Novas decisões dos governos da área vêm apressando a substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas, fator de longo prazo que, no entanto, pode ter alguma influência imediata sobre os preços do barril.
Não dá para cravar a tendência de baixa nem o real comportamento do mercado porque as incertezas são enormes. Muitos fatores podem acentuar ou virar de repente o mercado. Não há segurança sobre a trajetória dos juros determinada pelos bancos centrais. A guerra, um dos principais causadores da alta anterior, não tem prazo para acabar. Não se sabe qual será a intensidade do inverno no Hemisfério Norte, de modo a pré-avaliar o consumo de combustíveis destinados ao aquecimento. Também não se sabe até onde pode ir a desaceleração da economia da China, que vem dando prioridade ao combate à covid. E ignora-se qual será a disposição do cartel da Opep de manter ou apertar a oferta de petróleo e derivados.
Nesta sexta-feira, a Petrobras reduziu em R$ 0,20 o preço do litro do diesel nas refinarias. É indicação de que a persistência da queda de preços dos combustíveis pode ajudar a derrubar a inflação no Brasil e no mundo.
E, se confirmada a antecipação da transição energética para combustíveis limpos, os investimentos pelas petroleiras globais podem cair ainda mais. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)