Nova geração de baterias para veículos elétricos começa a sair do laboratório

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Há anos, cientistas em laboratórios do Vale do Silício a Boston têm pesquisado uma poção misteriosa de produtos químicos, minerais e metais que permitiriam a recarga de veículos elétricos em minutos e que eles percorressem centenas de quilômetros entre as cargas, tudo isso por um custo muito bem inferior ao das baterias disponíveis.

 

Agora, alguns desses cientistas e as empresas fundadas por eles estão se aproximando de um momento histórico. Eles estão construindo fábricas para produzir células de bateria de última geração, possibilitando que as montadoras comecem a testar as tecnologias na estrada e a determinar se elas são seguras e confiáveis.

 

As operações de fábrica são em sua maior parte limitadas em escala, projetadas para aperfeiçoar as técnicas de fabricação. Ainda levará anos até que carros com baterias de alto desempenho apareçam em showrooms, e mais ainda mais para as baterias estarem disponíveis em carros com preços razoáveis. Mas o início da produção na linha de montagem oferece a perspectiva de uma revolução na mobilidade elétrica.

 

Se as tecnologias puderem ser produzidas em massa, os veículos elétricos fabricados poderiam competir com aqueles movidos a combustíveis fósseis em praticidade e seus preços seriam barateados. As emissões nocivas do tráfego de automóveis poderiam ser reduzidas de modo considerável. E os criadores das tecnologias poderiam facilmente se tornar bilionários – caso ainda não sejam.

 

Produzir células de bateria aos milhões em uma fábrica é muito mais difícil do que fazer algumas centenas em um ambiente projetado para reduzir as contaminações. “Só porque você tem um material que tem aprovação para ser usado não significa que poderá fazê-lo funcionar”, disse Jagdeep Singh, fundador e CEO da Quantumscape, fabricante de baterias em San José, na Califórnia, no coração do Vale do Silício. “É preciso descobrir como fabricá-lo sem avarias e com uniformidade alta o suficiente.”

 

Contribuindo para o risco, a queda nas ações de tecnologia tirou bilhões de dólares em valor das empresas de baterias com capital aberto. Não será tão fácil para elas levantar o dinheiro de que precisam para construir operações industriais e pagar seus funcionários. A maioria tem pouca ou nenhuma receita porque ainda não começou a vender um produto.

 

A Quantumscape valia US$ 54 bilhões logo após ter aberto o capital em 2020. Recentemente, ela foi avaliada em cerca de US$ 4 bilhões. Isso não impediu a empresa de seguir em frente com uma fábrica em San José que, até 2024, se tudo correr bem, será capaz de dar fim a centenas de milhares de células, permitindo que os carros sejam recarregados em menos de dez minutos. Os fabricantes de automóveis usarão a produção da fábrica para testar se as baterias podem aguentar estradas irregulares, ondas de frio e de calor e lavagens de carros.

 

As montadoras também vão querer saber se as baterias podem ser recarregadas centenas de vezes sem perder a capacidade de armazenar eletricidade, se conseguem sobreviver a um acidente sem explodir e se podem ser fabricadas a preços baixos. Não é garantido que as novas tecnologias vão fazer jus às promessas. Tempos de carregamento mais breves e períodos maiores de funcionamento entre as recargas podem prejudicar a vida útil da bateria, disse o consultor David Deak, ex-executivo da Tesla: “A maioria das novas ideias de materiais traz enormes métricas de desempenho, mas compromete outra coisa”.

 

De qualquer modo, com o apoio da Volkswagen, de Bill Gates e números que mostram quem é quem no Vale do Silício, a Quantumscape é um exemplo do tanto de confiança e dinheiro depositados em empresas que afirmam ser capazes de atender a todas as expectativas.

 

No Vale do Silício e em outros lugares, dezenas, senão centenas, de empreendedores têm trabalhado em busca de um objetivo semelhante, recorrendo à ligação entre o capital de risco e a pesquisa universitária que alimentou o crescimento das indústrias de semicondutores e softwares. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Jack Ewing, traduzido por Romina Cácia)