Frota & Cia
Você, que atua na área há algum tempo, lembra-se de ter sido contatado por telefone, e-mail, whatsapp ou presencialmente por algum pesquisador querendo saber sua opinião sobre segurança no trânsito? Quantas vezes você teve oportunidade de expressar sua opinião e fazer sugestões sobre como melhorar o trânsito e reduzir as astronômicas perdas humanas e materiais que registramos a cada ano? Você poderia retrucar e perguntar de volta: e daí? Qual a importância da minha opinião ou em que isto pode ser tão útil?
A resposta é simples: para que políticas públicas possam ser bem implementadas, é básico conhecer a visão da sociedade, suas necessidades, suas angústias, seus desejos. Se não somos ouvidos, significa que somos conduzidos pela intuição dos responsáveis pelo sistema de trânsito que nos governa. Em muitos casos, pode ser pouco, noutros, quase nada. Tivéssemos uma forma sistemática de escuta da sociedade, com certeza teríamos muito menos críticas à forma como o trânsito é gerenciado e, certamente, nossas dores pelas perdas humanas seriam muito menores. Isto parece ser inquestionável, mas, no entanto, não é assim que as coisas funcionam.
Em 2014 tive a oportunidade de organizar uma pesquisa para a Fundação Mapfre sobre a percepção de representantes do sistema trânsito sobre a segurança de trânsito no Brasil nas três esferas de governo. Foram ouvidas pessoas ligadas ao sistema “oficial”, como Denatran, Detrans, PRF, Agentes de Trânsito, Polícia Militar, bem como representantes de entidades, CFCs, Motofretistas, etc. Foi uma experiência super válida por poder sentir como o setor percebia a prevenção de sinistros no trânsito. Mais importante ainda, por poder disponibilizar informações essenciais aos formadores de políticas públicas sobre onde estavam as falhas da área, na visão de membros do próprio setor. (Isto não quer dizer que o estudo tenha produzido resultados sensíveis por parte do aparelho controlador da segurança no trânsito do país).
Creio que está na hora de voltar ao assunto e levantar, de novo, a necessidade de saber o que pensa o brasileiro sobre os assuntos de trânsito, notadamente a segurança. Constato, com prazer, que o Pnatrans contempla pesquisas sobre aspectos diversos do trânsito em várias partes do documento, o que já é um alívio, embora ainda não seja certo que tudo será realizado ou que tipos de resultados podemos esperar.
Até que o Pnatrans decole efetivamente e tenha condições de gerar trabalhos de escutas que ajudem a implantar planos de ação no trânsito, minha sugestão é que as prefeituras façam este serviço na esfera municipal. Isto poderá ser de grande importância para acumular conhecimento e implementar ações de maneira paulatina. Formular uma lista de perguntas essenciais sobre o trânsito municipal pode levar as autoridades locais a reforçar ou modificar o plano em andamento.
Se precisar de ajuda para desenhar um bom modelo de pesquisa municipal, a prefeitura pode recorrer aos membros dos diversos grupos de especialistas que trabalharam na formatação do Pnatrans. A lista de mais de 100 nomes destes técnicos abnegados pode ser encontrada no próprio documento, basta acessá-lo.
Gosto do alerta do sempre lembrado escritor português José Saramago quando dizia que “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo!”. Nosso atraso já é muito grande no tratamento dos assuntos do trânsito e não esperar pelo Pnatrans chegar à sua cidade para agir é um sinal de atenção e responsabilidade para com o futuro. (Frota & Cia/Pedro Corrêa, consultor em programas de segurança no trânsito)