A “fábrica” de inclusão da Volkswagen.

Coisas de Agora

 

Aqui, para escapar um pouco das notícias nestes tempos virais, vamos falar de um belo trabalho de inclusão. Por isso, nos dedicamos a contar uma experiência intitulada Projeto Brincar, coordenado por Carla Mauch (que, solidária, viabilizou este trabalho), iniciativa da Fundação Grupo Volkswagen (FVW), concebida e desenvolvida pela OSCIP – Mais Diferenças, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A FVW, com 40 anos de existência, foi criada para desenvolver projetos de responsabilidade social da Volkswagen do Brasil. Atualmente trabalha em 3 eixos: mobilidade urbana, mobilidade social e inclusão de pessoas com deficiência. Neste último eixo, é que está inserido o Projeto Brincar.

 

E o que é o Projeto Brincar?

 

Ele envolve ações de formação e acompanhamento para profissionais de escolas públicas de educação infantil inclusiva, que trabalham com crianças com e sem deficiência, juntas; produz, sistematiza e disponibiliza materiais pedagógicos acessíveis, desenvolve atividades lúdicas e brincadeiras com famílias e as crianças. Isto porque, acredita na educação inclusiva como um direito para todas as crianças desde a primeira infância; que todas elas, com e sem deficiência devem estudar juntas.

 

“Além disso – conforme explica Arthur Calasans, consultor de Formação do Projeto – ele contribui com o fortalecimento das políticas públicas de educação inclusiva”.

 

Então vamos falar sobre o Projeto Brincar, contando cenas que assistimos em uma das escolas onde o projeto é desenvolvido. Visitamos a escola EMEI José Rubens Peres Fernandes, situada na Zona Leste de São Paulo, mais precisamente no bairro do Cangaíba, a 16 quilômetros de distância da Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo.

 

Naquela escola, crianças de 4 a 6 anos e todos os adultos têm a possibilidade de conviver, aprender, brincar, inventar e descobrir novas formas de coexistência, onde a diversidade é um valor. Um lugar que dá tempo para elas descobrirem novos mundos e espaços, onde um galho de árvore, vira uma ponte; um pedaço de pano, vira um tapete mágico; um pote de iogurte, vira um caminhão, e mais uma infinidade de cenas que as crianças são capazes de fabular se, nós como adultos, propiciarmos estas experiências e entrarmos no jogo e na brincadeira junto com elas.

 

Nós, que estamos longe do cotidiano das escolas públicas, imaginamos e criamos narrativas negativas, de terror. Por exemplo, que são instituições que apresentam condições precárias, que as crianças não têm espaços para brincar, que são violentas e desinteressadas, não têm acesso a livros, às artes, à tecnologia… que os profissionais têm má formação e mais uma série de lendas que somos capazes de fabular…

 

“Quando pensamos em crianças com deficiência, um universo mais distante ainda do que o das escolas públicas se descortina. Imaginamos que é um equívoco estudarem juntas com crianças sem deficiência, e que uma escola especializada e segregada é o melhor lugar para elas. Mas elas não aprendem. Muitas destas ideias equivocadas se dão pela distância, por não termos a oportunidade de conviver com pessoas portadoras de deficiência”. Destaca a educadora Paula Oiano, então coordenadora pedagógica da escola, quando do início do Projeto.

 

Pois aqui queremos contar uma história que não combina com o que descrevemos acima: Fomos à escola em um dia quente de verão. Essa escola pública da periferia tem espaço muito melhor que muitas particulares, os professores têm um projeto pedagógico muito consistente – nas paredes vemos produções das crianças que fazem referência à natureza, ao teatro, a dança e ao brincar.

 

“Os pequenos, com diferentes características formam um lindo mosaico onde o heterogêneo é explicitado: meninas e meninos negros; crianças angolanas, haitianas, bolivianas; crianças falantes, crianças curiosas, crianças desconfiadas, crianças em silêncio, crianças com deficiência e crianças sem deficiência. Todas elas podem fabular que são cantoras, cozinheiras, motoristas, engenheiras e, o que mais elas quiserem ser”, explica a professora Débora Ganini.

 

Nos bastidores, reunidos crianças e professora, se preparam para apresentação de uma peça de teatro da Linda Rosa Juvenil, que é um emocionante projeto onde todos estão muito envolvidos. O palco onde foi apresentada a peça é um parque e a sala de atividades, transformou-se em um camarim. Ali todos prepararam-se para a estreia, o figurino e o cenário foram construídos pelas crianças. Elas assumem os papeis de bruxa má, rei, uma criança com paralisia cerebral é a Linda Rosa Juvenil, outra criança que empurra a cadeira de rodas da Linda Rosa, quando perguntada sobre qual é o seu papel diz, “eu sou as pernas dela”. Em paralelo a plateia canta, “o tempo voa, o mato cresce”.

 

“Bato palmas para as professoras, alunos e para a escola que nos permitiram neste dia ver a Volkswagen, além dos carros. Ver crianças diferentes, mas felizes entre si. Vê-las com os mesmos direitos brincando, desenvolvendo-se, aprendendo e fazendo com que um jornalista – com mais de 50 anos de carreira – que já viu e escreveu muitas histórias, pudesse visualizar, emocionando, que existem outros mundos, desconhecidos como esse, onde a desigualdade, a competição e a intolerância não têm lugar e, onde, quiçá, possa estar o repositório dos adultos do futuro que conseguirão construir um país melhor para todos! Mesmo após estes terríveis dias virais”, Chico Lelis. (Coisas de Agora/Chico Lelis)