O Estado de S. Paulo
A Ford não produz mais carros no Brasil, mas prevê faturar R$ 500 milhões neste ano em um novo negócio: exportação de engenharia. O centro de tecnologia da montadora no País vem sendo mais acionado para participar do desenvolvimento de carros produzidos, hoje e no futuro, pelo grupo no mundo. As frentes de trabalho incluem eletrificação, direção autônoma e conectividade e design, além da aplicação de materiais mais leves nos automóveis.
A montadora anunciou recentemente a contratação de 500 engenheiros e especialistas no centro de desenvolvimento, que funciona em seis prédios no complexo do Senai em Camaçari (BA). As instalações estão próximas de onde ficava a fábrica da Ford, mas não no mesmo local. Dos 1,5 mil funcionários que trabalham em serviços de engenharia, 85% se dedicam a projetos globais.
“Estamos exportando esses serviços e trazendo divisas para o Brasil e receita para o nosso negócio na região. A expectativa é continuar expandindo, pois, a demanda continua crescendo”, afirmou nesta sexta-feira, 01, Daniel Justo, presidente da Ford na América do Sul, ao anunciar a expectativa de receita de meio bilhão de reais com o centro de desenvolvimento.
Um terço das funcionalidades dos carros produzidos pela Ford no mundo – por exemplo iluminação, travamento de portas e climatização nos carros – passa por engenheiros da montadora no Brasil, que antes se dedicavam basicamente aos projetos locais. Mesmo que sejam prestados a outras operações dentro do grupo, a Ford recebe por esses serviços no Brasil.
Segundo Rogélio Golfarb, vice-presidente da Ford, a maioria dos projetos estão sendo desenvolvidos para os Estados Unidos e a China, os dois maiores mercados mundiais de veículos. Ele ressalta que, diferente dos automóveis produzidos no Brasil, que não conseguem competir com os globais, os serviços de engenharia são competitivos e a demanda por esse tipo de trabalho vem crescendo. “Há falta global de profissionais nessa área”, diz.
Golfarb também informa que o centro vai além do desenvolvimento e tem também uma área de pesquisa com patentes já registradas, como a de grafeno, elemento mineral que é misturado com aço e outras ligas e tem apresentado bons resultados na redução do peso dos automóveis.
Transição para os elétricos
O centro de desenvolvimento na Bahia é um dos nove da Ford no mundo e atua em projetos envolvendo, entre outros, o design de carros elétricos, sistemas de multimídia e carrocerias de veículos autônomos. Em todo o mundo, a Ford tem investimentos de US$ 50 bilhões, previstos até 2026, na transição rumo aos veículos elétricos.
Segundo Justo, o foco da engenharia da montadora no Brasil está na transição rápida para a eletrificação, ao invés do desenvolvimento de tecnologias movidas a etanol, como apostam os concorrentes locais que não acreditam na popularização rápida dos veículos elétricos. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna e Cleide Silva)