O Estado de S. Paulo
O futuro dos carros elétricos não pode ser deixado apenas para decisão de cada empresa. Deve ser objeto de política industrial de governo.
Os países avançados, principalmente da Europa, já decidiram a substituição dos veículos alimentados a energia fóssil por veículos elétricos. Prazos relativamente curtos estão sendo fixados para cumprir as metas.
Se um dos objetivos é conquistar mercado externo para esse segmento que se tornará predominante, então será preciso garantir escala de produção e redução de custos, para as quais a boa densidade do mercado interno poderá ser alavanca decisiva.
Mas, até agora, não há definição de uma política nessa direção. Se tudo continuar assim, o Brasil poderá novamente perder grandes oportunidades.
Os carros elétricos seguem conquistando espaço no Brasil. As vendas dos modelos leves cresceram 54% nos cinco primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior (veja o gráfico). Atingiram 16,3 mil unidades, mas são nicho de apenas 2% nas vendas totais do setor.
Esse crescimento acontece em cenário de aumento de custos, em consequência de vários choques nas cadeias de produção, o que encarece os veículos. O mercado é abastecido com importados. O modelo mais barato alcança R$ 139 mil. O cenário pode mudar com a nacionalização da produção de um componente-chave: a bateria.
Em junho, duas montadoras, a Caoa Chery e a Great Wall Motors, anunciaram planos para a produção de híbridos no Brasil, que combinam o uso de motor a combustão (etanol ou gasolina) com elétrico.
A Caoa já iniciou a fabricação de dois utilitários esportivos híbridos na fábrica de Anápolis. A Weg também deu a partida na produção de packs de baterias para veículos elétricos pesados.
A infraestrutura também avança. A Shell acaba de inaugurar o primeiro eletroposto de carregamento rápido para elétricos na cidade de São Paulo e pretende criar mais 34 até março de 2023 na Região Sudeste. A Vibra Energia também inaugurou recentemente um ponto de recarga ultrarrápida em posto de combustível da bandeira Petrobras. A operação prevê a instalação de outros 70 pontos.
O fundador da Zletric, startup especializada em recarga de veículos elétricos e híbridos, Pedro Schaan, observa que “em infraestrutura, o Brasil está mostrando que existem opções de recarga, que hoje já são 1,5 mil”.
Geovani Fagunde, sócio da PwC Brasil, adverte que o Brasil precisa definir que porcentuais da sua frota serão eletrificados ou híbridos e o quanto de energia fóssil será tolerada. “São parâmetros importantes para dar mais clareza ao processo de transição. O mercado privado tem capital para financiar esse desenvolvimento, mas para isso é preciso garantir mais segurança nas regras do jogo”. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)