Número de emplacamentos de ônibus não tem refletido a realidade do mercado por causa da falta de componentes

Diário do Transporte

 

De acordo com o diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Walter Barbosa, as encomendas acontecem, mas há um prazo maior para entrega e licenciamento dos veículos; 2022 está aquecido

 

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Quem vê os números de emplacamentos de ônibus no Brasil pode pensar que o mercado está fraco, desaquecido e que não está reagindo à retração da pandemia de covid-19, que abolou quase todos os setores da economia mundial.

 

Mas o mercado de ônibus no Brasil está registrando um bom movimento que os números oficiais de emplacamento não estão sendo capazes de reproduzir.

 

A constatação é do diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Walter Barbosa.

 

Em entrevista ao Diário do Transporte, Barbosa disse que há um descompasso entre as encomendas e os emplacamentos.

 

E o motivo principal é a falta de componentes que gera uma diferença entre a compra e a entrega bem maior que do que tempo o habitual entre a produção do chassi e o encarroçamento.

 

O executivo cita o exemplo do segmento de ônibus urbanos.

 

“Embora os números de emplacamento não estejam mostrando, o segmento de urbanos está extremamente aquecido. Muitos municípios estão buscando renovações, impulsionados por ser um ano eleitoral, por estarem dois anos com baixo volume de renovação, pelo índice de pessoas vacinadas contra a covid-19 e a retomada parcial da demanda de passageiros perdida por causa da pandemia, na ordem de 85% a 90%.”

 

Walter Barbosa analisa este descompasso dos números.

 

“Quando a gente analisa os números de emplacamentos, não só de ônibus urbanos, mas de todo o mercado brasileiro, até maio nós temos 5.893 unidades emplacadas. Isso dá uma redução de 2,9% em relação ao mesmo período de 2021. Significa que o mercado está pior? Não está pior. Ocorre que a cadeia logística sofreu um colapso tão grande que as entregas estão atrasadas. Ou seja, as vendas acontecem, mas os emplacamentos não estão acontecendo” – explica.

 

O diretor diz que as vendas de fato estão em torno de 50% maiores neste ano de 2022 que em 2021.

 

“Quando você olha friamente números, vai haver a impressão que 2022 está muito pior que em 2021. E não é verdade. O número de atacado de rodoviários e urbanos é muto maior. No mínimo, 50% maior em 2022 que em 2021. Acontece que as entregas estão completamente atrasadas em boa parte dos municípios e eu não falo somente como Mercedes-Benz, isso é um problema global, de todas as fabricantes. Uns estão sofrendo mais e outros menos.”

 

O executivo acredita que 2022 tenha um crescimento expressivo em relação aos anos em que a pandemia foi mais grave.

 

“No mercado de urbanos teremos entre 6 mil e 7 mil unidades até o final do ano, entre todas as marcas. Há um descompasso total entre o número que você analisa com base em emplacamento versus o que está acontecendo na prática. E mesma coisa o rodoviário que também tem bastante encomenda até o final do ano, mas não apareceu. Outro ponto são os ônibus escolares. Se você olhar os números do Renavam, o segmento de escolares caiu 16% de janeiro a maio, mas na verdade, 2022 pode ser o melhor ano para o escolar. Nós vamos ter em torno de 10 mil unidades de escolares no mercado brasileiro, no atacado. Ou seja, quem ganhou parte do “Caminho da Escola”, e a Mercedes-Benz tem 2,6 mil ônibus para fornecer, vai ter de produzir e entregar toda esta quantidade neste ano. Só que o emplacamento ainda está muito devagar” – explicou.

 

No caso da Mercedes-Benz, a falta de componentes, na prática acaba afetando mais os OFs (ônibus de motor dianteiro) e LOs (micro-ônibus) que a série O-500 (de motor traseiro), apesar de estes serem mais sofisticados. Ocorre que o volume de OFs e micros vendidos é bem maior de uma maneira geral, o que amplia a demanda de componentes para ônibus destes modelos.

 

Além disso, os OFs e LOs usam muitos componentes que também são empregados nos caminhões, o que pressiona mais a “concorrência” por estes insumos.

 

Os ônibus elétricos não estão sentindo tanto esta falta de componentes, especificamente no caso da Mercedes-Benz, tanto pelas características técnicas como pelo volume menor.

 

Como mostrou o Diário do Transporte, a Mercedes-Benz já tem vendas de elétricos realizadas, com 112 unidades entre a capital paulista (100 da Viação Metrópole Paulista), Grande Vitória (04 unidades) e Salvador (08 unidades da Ótima). (Diário do Transporte/Adamo Bazani)