Plataformas inovam para tornar viagens rodoviárias mais atrativas

O Estado de S. Paulo

 

Por décadas, a ideia de fazer uma viagem de ônibus sempre exigiu um pouco de sorte. O passageiro se dirigia à rodoviária, ia para a fila do guichê e, ao ser atendido, poderia ser avisado que simplesmente não havia mais passagens. O cenário mudou e o avanço de tecnologias permite mais previsibilidade e comodidade a quem deseja viajar de ônibus, além de opções que incluem não apenas as linhas regulares, mas novas rotas com fretamentos.

 

A compra de passagens, por exemplo, pode ser feita diretamente pelo celular, com a escolha do dia e da hora, visualização do mapa de assentos, pagamento e recebimento, por e-mail, do QR Code que deverá ser apresentado no embarque. Aos poucos, os guichês de compras vão se tornando itens do passado.

 

“Antes, apenas 2% das passagens eram vendidas online; no meio da pandemia, chegamos a 40%”, comenta Phillip Klien, CEO da ClickBus. “As pessoas acostumadas a comprar passagem de formas convencionais foram para o digital e entenderam os benefícios da mudança.”

 

Até as próprias rodoviárias podem estar com os dias contados, com o crescimento das viagens de ônibus que têm início e fim em diferentes pontos das cidades. Tal formato é oferecido por plataformas digitais nas quais usuários são atendidos por empresas de fretamento executivo com pontos de embarque e desembarque variados.

 

“Muitas empresas, atualmente, não estão nos terminais rodoviários, mas têm salas vips nas quais o passageiro conta com um bom sofá, água e internet, por exemplo”, comenta Marcelo Nunes, presidente da Associação Brasileira dos Fretadores Colaborativos (Abrafrec).

 

Plataforma digital de viagens com ônibus fretados desde 2017, a Buser, por exemplo, conta com salas do tipo em São Paulo, Ribeirão Preto, Uberlândia e Belo Horizonte. A empresa possui mais de 7 milhões de clientes cadastrados, que utilizam cerca de 1,2 mil veículos de companhias de ônibus parceiras.

 

Entretanto, em meio às ofertas de pontos de embarque e desembarque de luxo, passageiros também encontram locais precários. Há reclamações sobre espaços em que não há assentos ou proteção para condições adversas do tempo, como chuva.

 

Para lidar com o problema, a Buser pretende investir em estrutura para os passageiros, tendo como foco inicial o Rio de Janeiro. “Teremos, em pouco tempo, as primeiras rodoviárias totalmente particulares do País”, diz Marcelo Abritta, CEO e cofundador da plataforma.

 

Olhar atento

 

O avanço tecnológico colabora também com viagens rodoviárias mais seguras. Sensores regulados por GPS podem monitorar os percursos e transmitir para centrais de controle informações como desrespeito a limite de velocidade ou modo perigoso de condução.

 

Outro recurso voltado à segurança é o uso de câmeras para monitorar condutores e verificar se apresentam condições físicas de conduzir os ônibus. “Instalamos câmeras de fadiga nos ônibus dos nossos parceiros que circulam nas rodovias mais perigosas do Brasil. Caso um motorista apresente sinais de cansaço, nossa torre de controle entra em contato e suspende a viagem, enviando outro motorista para concluir a rota”, explica Abritta.

 

E o uso de cinto de segurança, determinante para reduzir a gravidade de acidentes, também poderá ser monitorado a distância. “Faremos uma experiência com uma empresa de tecnologia para que, quando um passageiro desconectar seu cinto de segurança, seja enviado um alerta ao motorista”, conta Nunes, da Abrafrec.

 

Com isso, a ideia é tornar os deslocamentos rodoviários tão ou até mais atrativos que os aéreos. “Quem faz uma viagem a trabalho e precisa chegar cedo a uma reunião pode contar com um modal rodoviário confortável, no qual possa ir descansando”, observa Klien, da ClickBus. “Ganha em conforto e em economia”. (O Estado de S. Paulo)