O Estado de S. Paulo
A busca por eficiência e menores custos está levando as fabricantes do Brasil a intensificar apostas nos veículos de carga que operam sem motoristas. Caminhões autônomos ou não tripulados já são produzidos localmente por duas montadoras, a Mercedes-Benz e a Volvo. A Scania entrará no ramo em novembro e a Volkswagen Caminhões e Ônibus iniciou estudos para produtos nesse segmento. Até agora, eles são usados na área agrícola, principalmente na colheita de cana, e na mineração. Por questões de legislação, só podem circular em locais demarcados, ou seja, não podem rodar em estradas.
A mais adiantada nesse segmento entre as quatro maiores fabricantes de caminhões no País é a Mercedes-Benz, que chegará ao fim do ano com 580 unidades vendidas do Axor 3131 com direção autônoma. Desenvolvido em 2019 em parceria com a startup Grunner, o modelo teve 139 unidades comercializadas apenas no primeiro trimestre, a preços que variam de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões.
“Em comparação com os tratores, o uso do Axor 3131 na colheita de cana assegura 40% de redução no consumo de combustível e de lubrificantes e 30% a menos no custo de reparo e manutenção”, diz Denis Arroyo, presidente da Grunner. A startup de Lençóis Paulista (SP) recebe o caminhão fabricado pela Mercedes em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e instala o sistema que faz dele uma “máquina inteligente”, com nível 2 de automação.
Nesse nível, é preciso a interação do motorista para realizar acelerações, frenagens e manobras. Em trajetos determinados, como nas plantações de cana, o veículo é guiado por georreferenciamento, sem intervenção humana.
Outras iniciativas
O caminhão da Scania, chamado de P 280, está em produção na fábrica do grupo em São Bernardo e estará à venda a partir de novembro, também com nível 2 de autonomia – mas a empresa avalia introduzir, futuramente, versão de nível 4 (que nem sequer tem cabine). Silvio Munhoz, diretor de Vendas de Soluções da Scania, diz que o primeiro modelo é voltado ao transbordo da cana, mas a tecnologia poderá ser usada em outros segmentos.
O caminhão tem versões a diesel e a gás e/ou biometano. O uso do autônomo, diz a Scania, reduz perdas durante a colheita e oferece significativa economia de combustível.
Fabricantes de máquinas e equipamentos, Caterpillar e Komatsu também fornecem caminhões de grande porte para mineradoras, mas boa parte é importada de suas matrizes. São dessas duas marcas os 25 caminhões gigantes que a Vale tem nas operações em Carajás (PA) e Brucutu (MG). Mais dois serão adquiridos ao longo do ano.
Controle remoto
A Andrade Gutierrez, que já tem cinco veículos não tripulados em operação, fez parceria com a Volvo e ACR em um projeto inédito de caminhão voltado à construção pesada e mineração. A empresa já tem um protótipo, chamado de 4.Zero, que será lançado nos próximos dias.
Segundo a empresa, a diferença para outros modelos é a combinação de um sistema de direção de alta tecnologia a uma mecânica integrada e conectada à rede inteligente. O veículo é controlado por um operador em uma cabine a até 2 km de distância por meio de rádio controle, com acionamento por joystick.
O projeto é da própria Andrade Gutierrez, que adquiriu um caminhão Volvo FMX, que já vem preparado para receber o sistema de operação remota instalado pela ACR Brasil – cuja tecnologia pertence agora à construtora. A ideia é trazer mais segurança e qualidade na prestação de serviços nas áreas de maior risco, como as de mineração e de construção pesada.
Uma das vantagens, diz o presidente da construtora, João Martins, é a alternância imediata entre operação tripulada ou remota sem necessidade de adequações mecânicas. No modo não tripulado, o caminhão só pode ser operado em áreas confinadas, sem pedestres. Com o condutor, o caminhão pode trafegar em estradas.
A Volvo também dispõe de caminhões semiautônomos para uso na colheita de cana. Embora tenha sido pioneira na oferta desse tipo de veículo no País, em 2017, vendeu até agora sete unidades para a Usina Santa Terezinha, de Maringá (PR). Já a Volkswagen Caminhões e Ônibus informa que o projeto do grupo está em fase inicial. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)