O Estado de S. Paulo
Sem reajustes nas refinarias há mais de dois meses (o último foi em 11 de março), a gasolina se tornou o novo ponto de tensão entre a diretoria da Petrobras e o governo. O presidente Jair Bolsonaro tem recorrido a demissões para mostrar seu desagrado com o preço dos combustíveis. Já os acionistas se sentem lesados pela demora dos reajustes, o que gera impacto nos resultados.
Segundo cálculos da Abicom, associação que reúne pequenos e médios importadores de combustíveis, a defasagem dos preços da gasolina em relação ao mercado internacional chegaria a 20%. “A pressão está muito grande por parte do governo, e acho difícil fazer reajuste nos próximos dias, mas deveria”, avalia o presidente da entidade, Sergio Araújo.
“Em abril, houve até potencial para redução de preço da ordem de 6%, com a valorização do real. Mas o dólar subiu, e a defasagem voltou”, diz o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.
Ao contrário do diesel (que depende de cerca de 25% de importações), a gasolina é menos dependente do mercado externo, já que as refinarias locais abastecem 97% do mercado. Mas, ainda assim, a defasagem em relação ao mercado externo é da ordem de R$ 1 por litro, segundo a Abicom.
Na avaliação do professor do Instituto de Energia da PUCRIO Edmar Almeida, os reajustes são necessários e, se não forem feitos com alguma regularidade, a Petrobras pode ser questionada na Justiça pelos acionistas, principalmente se houver suspeita de interferência por parte do governo. “Não se pode fazer política pública com dinheiro dos acionistas. Ela (Petrobras) não tem opção.”
O especialista ressalta que, apesar da alta volatilidade do mercado de petróleo, intensificada com a guerra na Ucrânia, a Petrobras é uma empresa de capital aberto e não pode subsidiar preços. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna)