Inflação registra alta de 1,06% em abril e já chega a 12,13% em 12 meses

O Estado de S. Paulo

 

Turbinado por combustíveis e alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 1,06% em abril, a maior para o mês desde 1996, segundo informações divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses somou 12,13% – o patamar mais elevado desde outubro de 2003 –, afastando-se ainda mais da meta do Banco Central para este ano – de 3,5%, com tolerância até 5%.

 

Conforme o IBGE, a alta de preços está espalhada por toda a cadeia: 78,25% dos produtos e dos serviços pesquisados subiram no último mês, ante 76% em março. Foi o pior índice desde janeiro de 2003.

 

“Dados os riscos à frente, especialmente na taxa de câmbio e nos preços de commodities, o Banco Central tem elevada chance de, eventualmente, ter de levar a Selic para 14% ou mais. Isto não está descartado”, afirmou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. A taxa básica de juros está hoje em 12,75% ao ano.

 

Vale acrescenta que as preocupações em torno da inflação são agora inéditas desde o Plano Real, considerando que o BC está isolado no combate ao aumento de preços, enquanto o Ministério da Economia e o Planalto lançam mão de medidas para o crescimento das despesas públicas em pleno ano eleitoral. Por isso, ele considera que o BC terá de endurecer sua ação para conter as expectativas inflacionárias para 2023. A MB Associados aumentou sua projeção para o IPCA de 2022, de 7,8% para 8,7%, enquanto a do ano que vem foi revista de 4,2% para 4,5%.

 

“A gente vê, pelas aberturas do IPCA, que o quadro continua bastante preocupante”, disse o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil. Para ele, o cenário de curto prazo impõe uma tendência de revisão de sua projeção de inflação para o ano – dos atuais 8,4% para um nível próximo de 9%. Já o Banco Original elevou sua projeção de IPCA em 2022 de 7,7% para 9%, enquanto o britânico Barclays subiu de 7,5% para 8,4%.

 

“A inflação não está muito pior do que no mês passado, mas continua ruim. Se desconsiderar os fatores específicos, andou de lado. A qualidade dos números é bastante negativa e não dá sinais de que vai ter grandes alívios tão cedo”, disse o economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management.

 

Contribuição

 

Os combustíveis tiveram o maior peso individual na inflação de abril, com alta de 3,2%, respondendo por 0,25 ponto porcentual do índice no mês. A gasolina subiu 2,48% em abril. Houve altas também nos preços do etanol (8,44%), do óleo diesel (4,74%) e do gás veicular (0,24%). Depois, vieram os remédios, que subiram 6,13%, com contribuição de 0,19 ponto porcentual para o IPCA.

 

Alimentos e transportes pesaram mais no bolso das famílias. Os aumentos de 2,06% em alimentação e bebidas e de 1,91% no gasto com deslocamento responderam, juntos, por cerca de 80% do IPCA do mês. No caso dos alimentos, as famílias pagaram mais pelo leite longa-vida (10,31%), batata-inglesa (18,28%), tomate (10,18%), óleo de soja (8,24%), pão francês (4,52%) e carnes (1,02%). •

 

Em alta Mais de 78% de produtos e serviços pesquisados tiveram aumento em abril, conforme o IBGE, colaborou Guilherme Bianchini. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Cícero Cotrim)