Pneus terão venda de 60 milhões de unidades em 2022, prevê ANIP

Estradão

 

As vendas de pneus cresceram 9,6% no Brasil em 2021 na comparação com 2020. Ou seja, foram vendidas 56,7 milhões de unidades no mercado como um todo. Porém, os números ficaram 4,5% abaixo dos registrados antes do início da pandemia da covid-19. Segundo dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), em 2017, 2018 e 2019 foram vendidos, em média, 59,3 milhões de pneus por ano no País.

 

Seja como for, a ANIP projeta que em 2022 as vendas totais serão de 60,3 milhões de unidades. Portanto, a expectativa é de crescimento de 5,8% ante 2021. Os números incluem as vendas para as montadoras e o mercado de reposição. Além disso, considera automóveis, motocicletas e veículos comerciais leves e pesados, como caminhões e ônibus.

 

De acordo com o presidente-executivo da associação, Klaus Curt Müller, há pontos de atenção. “A retomada se dará principalmente pelo volume de vendas para o segmento de pesados”, diz o executivo. Segundo ele, isso tem a ver com a entrada em vigor da nova fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Bem como com a previsão de alta nas vendas de leves.

 

Nesse sentido, a ANIP projeta vendas de 2,3 milhões de pneus para as montadoras de pesados. E cerca de 6,6 milhões para o mercado de reposição mesmo do segmento. Ao passo que, no setor de automóveis, a alta deve ser de 4,7%. Ou seja, em torno de 7,8 milhões de pneus para montadoras.

 

Assim como no setor de caminhões, o grosso das vendas deverá ser para o segmento de reposição. Nesse sentido, a previsão é de alta de 13%, para 25 milhões de pneus. Assim, as projeções indicam a possibilidade de vendas similares às de 2019.

 

Desafios para o setor de pneus

 

Entretanto, Müller lembra que um dos entraves para a recuperação é a queda na produção. Sobretudo de semicondutores. Da mesma forma, a alta da taxa de juros e do preço dos combustíveis pode impactar as vendas de pneus. “A inflação, que diminui o poder de compra do consumidor, e até mesmo o risco de novo isolamento social são ameaças”, diz Müller.

 

Seja como for, para o setor de veículos pesados a expectativa é de alta nas vendas. Porém, a previsão de 2,3 milhões de unidades é menor que as 2,7 milhões de 2011. Ou seja, quando houve uma corrida dos consumidores para comprar veículos da Euro 3 antes da mudança para a Euro 5. Isso deve ocorrer novamente com a mudança para o Euro 6, que fará com que os veículos fiquem até 20% mais caros. O presidente da ANIP conversou com o Estradão sobre esses e outros assuntos.

 

A queda das vendas para as montadoras neste ano está ligada à relação da produção de veículos?

Certamente. As montadoras, sobretudo a de automóveis, estão passando por um momento complicado. Além disso, é importante entender que a pandemia está mais controlada, mas ainda não acabou. E há uma guerra ocorrendo. Da mesma forma, há restrição de produção por causa da falta de componentes. Portanto, a programação de fabricação das montadoras é ainda mais preponderante para consolidar a demanda calculada pela ANIP.

 

Outro ponto de atenção é a estagnação da economia. Ou seja, isso pode levar a um esfriamento do mercado. Também vemos ameaças por causa da alta das taxas de juros. Isso leva a muitos consumidores a deixarem de comprar. A inflação acima de 10% impacto todos os tipos de negócio.

 

Caminhões podem dar fôlego ao setor de pneus

 

Como a entrada em vigor da Euro 6 pode ajudar a aumentar as vendas de pneus para pesados?

Vai haver uma antecipação de compras de caminhões. Isso deve fazer com que as vendas de pneus para as montadoras cheguem perto das 2,3 milhões de unidades em 2022. Contudo, será desafiador atender essa demanda. Sobretudo por causa de questões relacionadas à falta de componentes e aos efeitos causados pela guerra na Ucrânia.

 

Seja como for, o aquecimento das vendas já está ocorrendo. Há fabricantes de caminhões que estão com toda a produção programa pare este ano quase toda vendida.

 

Comerciais leves

 

E o setor de comerciais leves, continuará crescendo por causa do avanço do comércio eletrônico?

Nossa previsão é de que as vendas em 2022 serão parecidas com as de 2021. Se não fosse pela falta de semicondutores, os números poderiam ser melhores. Acredito que a tendência é de o mercado seguir nesse mesmo patamar nos próximos anos.

 

Assim, em 2021 entregamos 3 milhões de pneus para o segmento. Neste ano, devemos fazer algo em torno de 3,1 milhões. A reposição deve apresentar um desempenho ainda melhor, de 5,7 milhões de unidades. Ou seja, o pico está muito maior nesse segmento. Acredito que nos próximos anos esse segmento trará bons resultados.

 

Reposição

 

Ou seja, a demanda continuará mais alta no mercado de reposição?

Exato. Não esperamos grandes saltos com relação à produção de pneus para as montadoras. Porém, esse setor continuará bastante aquecido, puxando as vendas para reposição nos próximos anos. O crescimento vem ocorrendo desde 2020. E deve continuar pelos próximos dez, 20 anos.

 

Como o sr. vê o programa de renovação de frota anunciado recentemente?

Esperamos pela aprovação do Congresso Nacional. Mas fazer esse programa andar, ainda mais neste ano, em que haverá eleições, não é uma tarefa fácil. Mas é um projeto factível. Acredito que, se não sair neste ano, no próximo ele tem de sair. Me refiro a ser colocado em prática. O Brasil precisa disso, tanto do ponto de vista ambiental como tecnológico. Ademais, não adianta a gente ter a P8 (nova fase do programa de controle de emissões), com uma frota imensa de veículos com 30 anos de uso rodando.

 

Pneus importados

 

O setor estuda facilitar a compra de pneus para os motoristas autônomos?

O governo tinha a intenção de abrir o mercado de pneus para ajudar os caminhoneiros a terem acesso a pneus mais baratos. Porém, o preço não baixou. Ou seja, a alíquota de importação baixou de 16% para zero, mas não houve impacto nos preços.

 

Desenvolvemos o projeto financiamento verde. Ou seja, um plano para facilitar a compra de pneus pelo autônomo. Até mesmo de marcas importadas, mas que cumprissem a logística reversa do Brasil. Assim, haveria a destinação correta dos pneus importados. Levamos a proposta para a Casa Civil. Mas ele não teve eco dentro do governo. Até conversamos com o BNDES.

 

Eleições

 

A isenção do imposto para importados pode ameaçar as fabricantes do setor?

Se em 2021 a medida não causou grande impacto, sua continuidade pode trazer danos para a indústria nacional. As empresas locais fazem investimentos enormes. Mas, vejo que governo começou a olhar a indústria local com um pouco mais de cuidado.

 

Ademais, há dois cenários possíveis. No primeiro, consideramos a volta do imposto de importação de 16%. Nesse caso, poderá ocorrer uma pequena queda nas importações em 2022. Ou seja, algo próximo de 2,8 milhões de unidades, ante as 2,9 milhões de 2021. Se a taxa zero for mantida durante todo o ano, 2022, em 2022 o País deve importar mais de 3 milhões de pneus. Ou seja, haverá uma alta de 7%.

 

Como pontos de atenção para esses números, temos, novamente, o comportamento bastante oscilante dessa variável. Além de instabilidades no câmbio.

 

Guerra e pandemia

 

A guerra no leste europeu e a pandemia vão criar mais gargalos para a indústria de pneus no Brasil?

Gargalos naturais não são esperados, como ocorreu no passado próximo. Ou seja, a falta de borracha, por exemplo. Até o momento, tudo indica que isso não vai continuar. Mas é claro, o lockdown em áreas importantes da China nos preocupam. Afinal, o país produz componentes importantes para toda a indústria. Portanto, há uma ameaça no horizonte. Afinal, o Brasil produz 40% do que consume de pneus. Os 60% restantes vêm da Ásia.

 

Mas, até o momento, não estamos vendo grandes problemas à frente. Já a guerra preocupa. Sobretudo por causa do encerramento das atividades de plantas de pneus na Rússia. Bem como em outros países da região. Isso pode impactar a capacidade produtiva e desbalancear os mercados. (Estradão/Andrea Ramos)